Mas
uma vez nos surpreendemos com o brutal assassinato de uma adolescente em
Presidente Figueiredo. Mas uma vez nos indignamos...
Mas,
e quando é que vamos parar para refletir? Não digo pensar no imediato, no calor
da dor. Digo refletir profundamente sobre as causas; digo ir além da mera
resposta fácil do bode expiatório, do criminoso da vez. Quando?
Que
são monstro, não discuto, concordo!!! Mas olhem com atenção as fotos. São
jovens!!! São talvez tão vítimas quanto Adriely. Ela que não estará em meio a
seus amigos, sorrindo e fazendo sorrir. Mas que tem, quem sabe, o conforto do
que está para lá do Terreno.
Eles,
coitados, condenados a uma morte viva. Condenados a morte social. Condenados a
carregar em cada um dos seus passos na Terra o peso de tão grande crime.
Ela,
Eles,tantos outros, todos nós; Ferrugem, Itaituba, ... Todos vítimas! Vitimas
fatais; vítimas da angústia; vitimas do medo... Todos vítimas!!
Sim,
todos vítimas, mas também culpados!! Uns mais outros menos, mas culpados!! Uns
mais conscientes, outros menos, mas todos culpados!!
E
para quem ainda não viu sua culpa, digo: estás entre os menos conscientes, mas
não posso responder se estás entre os mais culpados!! E acho que não cabe este
debate aqui; se o fizermos corremos o risco de mais uma vez buscarmos se
esconder atrás de bodes expiatórios.
Cabe,
sim, começarmos a ver os problemas.
O
problema de pensarmos, quando muito, em políticas para a juventude, e nunca
políticas com a juventude. De tratarmos a juventude como incapaz de pensar o
futuro, de sonhar o futuro, de viver o futuro. De impedirmos a juventude de
criar as políticas públicas, pensar as políticas públicas, viver as políticas
públicas. De impedirmos que a juventude pense a cidade e a floresta, viva a
cidade e a floresta, construa a cidade e a floresta cultural.
Falo
da juventude, mas isso não vale só para a juventude. Vivemos numa sociedade de
repreção, onde não se permite uma ampla participação. Numa falsa democracia,
onde após um processo viciado de votação prevalece o silencio, a repreção, o
jogo sujo, a humilhação do puxasaquismo...
Ôps,
ôps, ôps... Não comece a pensar que a culpa é do fulano ou do beltrano
político. Não, não, não. É deles também; mas eles também são vítimas. Eles
também são prisioneiros deste sistema viciado que só se desconstrói com uma
ampla participação da sociedade. Participação e transformação.
Só
se desconstrói quando criarmos um ambiente que - para lá dos guetos - discute,
critica, ouve, constrói coletivamente apesar das diferenças. Um ambiente onde
se pense o futuro um pouco mais para frente; onde o medo de perder o emprego,
ou a comodidade de um emprego de ‘carrapato-de-saco’ não impere, não impeça a
ação, a denuncia, a crítica e a construção coletiva.
Onde
se possa criticar a forma que se organiza a Festa do Cupuaçu sem ouvir que é
mera intriga. Onde se possa denunciar que esta forma megalomaníaca leva à
violência, à prostituição, à bebedeira. Onde cada um possa ajudar a construir
uma política cultural que valorize as pessoas; que valorize o local; que
valorize a cultura.
Onde
mais que pensar sobre a ação de repreção quando o crime já foi cometido; mais
que pensar em correr para chamar a polícia quando o sangue já se misturou a
água do Urubuí; mais que achar que fazer justiça é bradar pela morte dos
assassinos, que são, como estamos vendo, também vítimas; Pensemos, isso sim, em
como criarmos oportunidades de vida. E destaco: Oportunidade de Vida, e não de
emprego como muito se pensa que é a solução.
Oportunidade
de Vida, de Criação, de Participação, de Envolvimento e de Compromisso com a
Sociedade.
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