sexta-feira, 25 de maio de 2012

Poroca: Capoeira

José Carlos L. Poroca

Executivo do segmento shopping centers
jcporoca@uol.com.br

 Vinicius de Moraes, poeta carioca – que muita gente pensa que era baiano –, teve ‘n’ parceiros (Bach, inclusive) e ‘n’ parceiras. Os primeiros, no campo musical; as parceiras, em outros campos, inclusive o amoroso. Tive o privilégio de ver o músico no palco duas ou três vezes. A última, quando se apresentou sentado, acompanhado de uma garrafa de “red” e gelo até umas horas. Os companheiros de palco davam o suporte quando a letra ou a música ou ambos não vinham, seja pelo esquecimento ou pelos efeitos do scoth. Todo mundo (a plateia) aceitava e, se não estou equivocado, todos gostavam: era Vinicius.

 Vinicius reapareceu na cuca, assim, de repente, no mês em que se comemora o 21 de Abril, dia de “arrancar dentes”. Veio à mente a gravação que fez em parceria com Baden Powell, da música Capoeira, cuja letra diz que “quem é homem de bem não trai”, “quem diz muito que vai não vai” etc. A música foi feita na chamada ‘fase africana’, denominação que o autor rejeitava. A verdade é que Vinicius foi de uma versatilidade ampla e se há trabalhos menores, não se pode dar as costas para o conjunto da sua obra. Se vivo estivesse, estaria a caminho dos 100 anos – meta que ninguém acreditaria que ele alcançasse. Nem ele.

 A lembrança de Vinicius não veio só. Fez-se acompanhar de um “oh!” pela foto que saiu na mídia, de um ex-presidente da República visitando outro presidente, do Senado, num hospital. A cena é emblemática, com vários significados. Pobre de mim que, vendo a foto, apliquei um selo de ‘histórica’. Sem ser fruto de desatino, notei a ausência, na cena, de um Forrest Gump, personagem do livro de Winston Groom, levado às telas por Robert Zemeckis, com Tom Hanks no papel principal. Não estou falando de um Forrest Gump norte-americano. Imaginei, um, nativo, que tenha vivido de perto o Brasil, acompanhando os fatos da nossa história.

 Se a hipótese pudesse se concretizar, outras cenas poderiam ser conectadas envolvendo os personagens, começando pelos anos 1970 para chegar aos dias de hoje. Difícil seria digitalizar as cores e formatá-las num único plano, eis que o antagonismo de outrora se transformou em vento e as cores de ideologias, de lá para cá, ficaram desbotadas ou mudaram de cor (o amarelo virou cinza), influência de produto químico batizado de “para o bem da causa”. Vamos fazer de conta que foi assim, pois é difícil imaginar que essas transformações se processem por interesses. Homens públicos não priorizam interesses particulares e/ou partidários em prejuízo do interesse público. Isso aconteceu faz tempo, na época das Capitanias Hereditárias. Hoje a possibilidade é remota, junto do improvável, afinal, estamos num país civilizado, desenvolvido, progressista e incorrupto. Já podemos até barrar espanhóis na porta de entrada.

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