Se
tivessem previsto a repercussão que o incidente teria, as autoridades policiais
espanholas não teriam detido durante 30 horas no Aeroporto de Barajas, em
Madri, e depois deportado para o Brasil, o artista plástico de fama
internacional Menelaw Sete.
O
artista, que se dirigia a Milão para participar de uma exposição de arte, foi
detido no aeroporto de Madri na quinta-feira (17) e deportado no sábado (19).
"Viajo há 15 anos para a Europa com a mesma documentação. Tinha uma carta
de convite, tudo em ordem. Não consegui falar com o consulado brasileiro. Foi
todo um teatro. Ali só estavam detidos negros, mexicanos e brasileiros",
relata.
O
artista brasileiro quis aproveitar seus dias de detenção para realizar 40
pinturas que ilustrarão o que viveu ali. Ao chegar ao Brasil, manifestou-se ao
consulado da Espanha em Salvador, na Bahia. Foi recebido pelo cônsul Jacobo
González-Arnao Campos, a quem pediu que reunisse a mídia e fizesse uma
retratação pública do ocorrido.
Sete
entrou em greve de fome e está pedindo aos cidadãos que assinem uma grande
bandeira branca que pretende entregar à presidente Dilma Rousseff, em protesto
contra a situação que muitos brasileiros sofrem nos aeroportos espanhóis.
"Senti-me obrigado a entrar nessa causa porque os brasileiros estão sendo
tratados de forma humilhante na Espanha. Minha indignação não é tanto pessoal,
como pela forma como tratam a gente", explicou ao jornal "O
Globo". E acrescentou: "Passei 30 horas detido, sem direito nem a
tomar banho. A comida é horrível. Você só tem direito a beber água durante as
refeições. Fora disso, só água da torneira. Havia homens, mulheres e crianças.
Havia até um berço. Estavam todos desesperados."
Os
40 quadros pintados durante sua retenção em Barajas serão apresentados em uma
próxima exposição. Para o artista, entrar na Espanha hoje "é apenas
questão de sorte", e não de ter ou não a documentação em regra.
Menelaw
Sete é o nome artístico do pintor Jorge do Nascimento Ramos. Conhecido
internacionalmente como representante da arte de influência cubista e
neoimpressionista, o pintor baiano se interessou pela pintura desde pequeno. As
repetidas queixas de cidadãos brasileiros que acabam retidos em Barajas e são
repatriados para o Brasil, incluindo personalidades como catedráticos de
universidade convidados para congressos na Europa, fizeram que o governo de
Dilma Rousseff começasse a aplicar em abril passado a lei de reciprocidade em
termos de entrada de espanhóis. Por isso também aumentou o número de espanhóis
que chegam aos aeroportos brasileiros e são detidos e devolvidos à Espanha por
algum problema burocrático.
Condições
recíprocas
Há
mais de quatro anos os turistas brasileiros e seu governo se queixam de que a
Espanha tem condições de entrada tão duras na fronteira (as ditadas pelo
tratado de Schengen) que muitos brasileiros que vão visitar parentes ou
estudar, inclusive com matrículas pagas, são devolvidos ao Brasil de forma
arbitrária. O país sul-americano decidiu finalmente, há menos de dois meses,
aplicar as regras de reciprocidade e exigir dos espanhóis exatamente os mesmos
requisitos que a Espanha pede aos brasileiros para entrar.
Desde
1º de abril os espanhóis que querem viajar ao Brasil como turistas têm de
mostrar a passagem de volta e garantir meios econômicos suficientes para sua
estada e uma reserva de hotel ou, na falta desta, uma carta de convite assinada
diante de um notário brasileiro por algum nacional que se responsabilize de que
o turista ficará hospedado em sua casa e de que, quando acabarem as férias,
voltará à Espanha.
O
mesmo têm de fazer os brasileiros que viajam à Espanha.
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