A
produção orgânica de vegetais ocupa 1% de toda a área plantada no planeta. Os
outros 99% são cultivados utilizando os métodos tradicionais. Mas, se você perguntar
aos consumidores se eles preferem um tomate orgânico - cultivado sem
pesticidas, herbicidas e adubos químicos - ou um tomate produzido de maneira
convencional, provavelmente a estatística se inverte: 99% (eu inclusive)
preferiria o tomate orgânico. Será que a humanidade não deveria adotar de
maneira definitiva a produção orgânica?
Aparentemente,
a metodologia orgânica é superior do ponto de vista ambiental, não polui os
rios, preserva o solo e é mais saudável. Mas existe um outro lado da questão ambiental
que é a produtividade por área cultivada.
Nas
últimas décadas a humanidade descobriu que o planeta não é capaz de alimentar
um número infinito de seres humanos. À medida que cresce a população mundial,
cresce a área utilizada para produzir alimentos, biocombustíveis e celulose.
Cada hectare dedicado a satisfazer as necessidades humanas é um hectare a menos
coberto de florestas, Cerrado ou outros ecossistemas naturais.
E
aí vem o dilema: como alimentar os quase três bilhões de bocas humanas que vão
ser acrescentadas à população mundial nos próximos 50 anos? Aumentando a área
plantada ou aumentando a quantidade de alimentos produzida nas áreas
cultivadas?
É
neste contexto que a produtividade dos diversos métodos se torna importante. O
tomate orgânico é melhor, mas quanto maior seria a área cultivada se toda
produção de tomate fosse orgânica?
Agora,
um grupo de cientistas analisou 66 estudos independentes contendo 316
comparações entre a produtividade obtida utilizando métodos convencionais e
orgânicos. Para ser incluído na comparação, os estudos deveriam seguir alguns
critérios: rigor científico e as áreas consideradas deveriam ter sido
certificadas por órgãos internacionais.
Os
resultados demonstram que, na média, a produtividade por hectare obtida com
métodos orgânicos é entre 20% e 25% menor. Em nenhum caso ela é superior à
produtividade obtida com a agricultura convencional. Mas a boa notícia é que em
muitos casos a diferença é pequena, chegando a somente 10% no caso da soja e do
milho. Em outros casos, como nos vegetais usados em saladas, a produtividade
com métodos orgânicos é muito menor, chegando a 30%.
Esses
resultados são animadores já que muitos defensores da agricultura tradicional
palpitavam que a produtividade obtida utilizando métodos orgânicos seria metade
da convencional.
Mas
infelizmente isso não resolve a questão. Mesmo que a humanidade decida adotar o
cultivo orgânico - e consequentemente aumentar a área cultivada, mas se
libertando da ameaça dos produtos químicos -, outros aspectos do problema
precisam ser analisados. Os autores do estudo listam alguns deles. Um é o custo
dos alimentos produzidos pelas duas formas de cultivo e seu impacto no problema
da fome no planeta e nos níveis de emprego na agricultura. Outro é a sustentabilidade
ambiental de cada forma de cultivo no longo prazo e em grande escala (se você
cultiva alface sem adubo químico, mas usa esterco como adubo, sua produção de
alface depende do rebanho bovino).
O
que fica claro é que a comparação entre métodos produtivos não é simples, pois
não depende de uma única variável. Vai ser necessário desenvolver metodologias
capazes de comparar variáveis complexas e um modelo em escala global. O que é
melhor para a humanidade, um tomate orgânico mais caro, que ocupa uma área agrícola
maior, mas que não utiliza agroquímicos e emprega três pessoas, ou um tomate
convencional, mais barato, produzido em uma área menor, mas que utiliza insumos
químicos e emprega uma pessoa?
Dada
a complexidade das comparações necessárias é pouco provável que no curto prazo
sejam obtidos dados suficientes para fazer uma comparação rigorosa. Mas será
que a Terra aguenta esperar?
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