sexta-feira, 11 de maio de 2012

Poroca - Caminhos factíveis


José Carlos L. Poroca // Executivo do segmento de shopping centers

jcporoca@uol.com.br

Dizem que, quando se passa dos 40, há uma tendência natural do cinquentão desempenhar o papel de orador repetitivo. Quem não possui o dom da oratória, se transforma numa espécie de pica-pau falante, batendo na mesma tecla 'n' vezes. Quem mais sofre são os mais próximos que escutam a mesma história 10, 20, 30 vezes, durante 10, 20, 30 anos. O sofrimento é menor quando o 'pica-pau' não é um carente de riso da plateia. Imagine rir da mesma piada durante anos. Não dói, mas, sem dúvida, se constitui em mais um exercício da nem sempre fácil matéria da boa convivência que muitos não conseguem sair do abecedê e outros são pós-graduados.

Como estou na faixa etária do pica-pau, procuro ter as cautelas necessárias para não cair no beco, no sentindo mais amplo. Não preciso colocar a mão no fogo para descobrir que posso ganhar uma queimadura; não fico sob a água mais que um minuto e meio para não ganhar no obituário, na linha causa mortis, o título de 'afogado'; também durmo de pijama, independente da temperatura, nunca se sabe; rezo ao dormir e ao acordar, nunca se sabe. Viram um sinal ("nunca se sabe") que pode denunciar a idade ou configurar um sinal do bis?

Feitas as observações ad cautelam, volto a comentar sobre assuntos que me fascinam: sono e sonhos. Insone, morro de inveja daqueles que dormem ao menor balanço (olhaí, Conceição!), independente do local: esteira, rede, sofá, poltrona, pedra ou cama de pregos. O sono não é interrompido mesmo com os gritos da moçada que chega da balada de madrugada ou do som do vizinho ligado a pleno volume com um daqueles pagodes incômodos. Aliás, dizer 'pagodes incômodos' é o mesmo que dizer infelicidade infeliz.

Durmo pouco e sonho menos ainda. Minto: sonho, mas um sonho, digamos, diferente dos normais e mortais deste planeta. Os meus são sonoros, mas não tem cores; são em preto e branco. Não é de todo ruim e depende muito como se vê um copo de 300 ml ocupado pela metade: meio cheio ou meio vazio. A vantagem é que não posso contemplar na plenitude oferecida as cores dos melhores sonhos; em contrapartida, também não vejo as cores feias dos piores. Sou um sonhador conformista ou um conformista sonhador, a critério do freguês.

Conformista e otimista - é bom retificar. Não à toa. Estou à espera pelo lançamento de um aplicativo para celulares que poderá trazer benefícios. A invenção é de um psicológico e ilusionista britânico que tenta descobrir a possibilidade de influenciar o conteúdo dos sonhos das pessoas. Já imaginei a cena: acionar o aplicativo às 23h e tocar nos ícones programados, seguindo passo a passo as instruções: deitar, relaxar e aguardar. Espero que o caminhão do lixo - que só passa de madrugada - não interrompa as melhores cenas e não transfira os 'cheiros' para os meus sonhos.

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