domingo, 13 de maio de 2012

Serejo: Espera mística

Por: Vicente Serejo

 Há uma mística nos encontros e desencontros. As pessoas escolhem e são escolhidas. E mudam de ideia, tempos depois. Constroem um novo cenário com alegorias de carne e osso, momento a momento. Autorizam um contato que vai perdurar ou não. Um segredo que foge aos que não prestam atenção aos detalhes.

 As situações novas e os novos lugares são ideais para desvendar as nuances deste segredo. Sem conhecer ninguém, cara a cara com o desconhecido, milagrosamente nos abrimos. A mente permite novas entradas, que irão mexer com o que já existe. Libera espaço para a novidade se estabelecer.

É no descanso que os encontros acontecem. O mar precisa estar calmo. E na paz interior que o amor próprio se sente à vontade. E no habitat amado, outros querem estabelecer ninhos.

Quando nos distraímos do foco da seleção e da lista interminável de exigências é que somos encontrados. A forma passiva de encontrar é que promove verdadeiramente os encontros. A sabedoria das borboletas nos jardins… A flor mais bonita não faz esforço algum para ser polinizada.

 O olhar único desfavorece as parcerias. Quando estamos atentos aos detalhes do cotidiano, experienciando um dia após o outro, com a tranquilidade de um viajante que vê novidade em tudo, com um olhar plural, simplesmente atraímos aquilo que procurávamos e, ansiosamente, dávamos nome, sobrenome e todas as especificações possíveis. O encontro se processa na surpresa – precioso presente, muito além dos nossos melhores sonhos.

Andar em círculos ou mover-se agitadamente nos afasta do ponto que estamos buscando. Ao passo que sentar e aguardar, observando as paisagens em volta, indica que distância está próxima do fim. “Dizem que tudo o que buscamos também nos busca e, se ficarmos quietos, o que buscamos nos encontrará. É algo que levou muito tempo esperando por nós. Enquanto não chega, nada faça. Relaxe. Logo verás o que acontece enquanto isso”, já observou a psicoterapeuta junguiana Clarissa Pinkola, em seu livro “Mulheres que correm com os lobos”.

Ser encontrado geralmente traz melhores resultados do que buscar encontrar. Porque pessoas não são metas a serem atingidas. É místico observar quem está ao nosso redor, por que gostamos de desta ou daquela característica, o que nos uniu, como nossos ímãs se atraíram e começaram a escrever uma história. Muitas vezes, as histórias iniciam na similaridade, mas é na diferença, na particularidade, que se perpetuam.

Escolhemos e somos escolhidos a todo momento. Chegamos e deixamos ir. O livre arbítrio das relações humanas está aí para ser orientado por influências mais sutis.

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