Os versos da poetisa sul-africana Ingrid Jonker
viraram película, que já está em cartaz nos cinemas. O filme “Borboletas
Negras”, inspirado em um documentário holandês e dirigido por Paula Von der
Oest, conta a história da escritora que viveu na época do Apartheid (regime de
segregação racial vigente de 1948 a 1994) e ficou conhecida quando Nelson
Mandela leu seu poema “A Criança que foi Assassinada pelos Soldados de Nyanga”,
no seu primeiro discurso como presidente da África do Sul.
As questões do racismo são destacadas, mas chama a
atenção o temperamento melancólico da escritora – característica comum em quem
decide seguir a seara da arte. O conflito com o pai Abraham Jonker, que não
reconhecia o talento literário da filha e a rejeitava, permeia a trama e
justifica boa parte de seus comportamentos.
O genitor era membro do Partido Nacional do
Parlamento e um dos responsáveis pela manutenção do Apartheid e Ingrid lutava
justamente contra o governo segregacionista, o que estimulava o
descontentamento de um com o outro. A harmonia nunca chegou a acontecer.
“A criança é a sombra escura dos soldados com fuzis
e cacetetes. Essa criança que só queria brincar ao sol em Nyanga e em qualquer
lugar… A criança cresceu em jornadas gigantes por todo o mundo. Sem uma
passagem(…)”.
O desabafo de Ingrid pelas crianças negras em seus
escritos pode representar seu próprio desabafo pela vida incompleta, pels
relações incompreendidas. Depois de viver a inocência, ela não conseguiu suplantar
seus conflitos, a medida que amadurecia. Desconheceu a experiência do perdão e
da liberdade em relação às expectativas alheias. Não elaborou suas fases de
desenvolvimento e o pai nunca foi ressignificado. A mágoa assolou sua e
existência, destruindo sua sanidade e impedindo sua plenitude e felicidade. A
melancolia mal canalizada leva a um “luto” que nunca é resolvido
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