sexta-feira, 25 de maio de 2012

Serejo: O Fantasma

Por: Vicente Serejo

 Fui leitor do Fantasma, ‘O Espírito-que-anda’, a genial criação de Lee Falk, nos anos trinta. Por sinal criador também do velho e mágico Mandrake. Sua lenda é cheia de mistérios. Único sobrevivente de um naufrágio provocado por piratas nas costas africanas, ainda muito criança, acabou sobrevivendo e criado pelos pigmeus da tribo Bandar. Pequenos e ferozes, as suas flechas envenenadas com curare, eram os únicos que sabiam a sua história e o juramento de combater a pirataria ao longo dos séculos. 

 O Fantasma, o espírito-que-anda era tão misterioso que tinha três nomes: Fantasma, na Floresta Negra, onde vivia na caverna da Caveira, escondida depois de uma cachoeira, um símbolo respeitado e temido que ‘estava’ em toda parte: no anel que marcava o queixo de quem esmurrava, na roupa, na sua poltrona ao lado de um rádio com o qual sabia de tudo e tudo controlava lá da Floresta Negra. Na mão esquerda, outro anel, a marca do bem que usava para assinalar as pessoas e as coisas sob sua proteção.

 Como ‘Fantasma’ era aquele que jurara, sobre a caveira do seu próprio pai, sempre combater os piratas. Como ‘O Comandante’, era o chefe misterioso da Patrulha da Selva que criou para defender a Floresta Negra dos bandidos, sem revelar seu rosto aos comandados, deixando suas ordens em bilhetes e usando um túnel, num poço de água ‘envenenada’ para despistar. E o ‘Sr. Walker’, nome do seu passaporte, quando viajava em missões ou para visitar a noiva, a ex-campeã de natação Diana Palmer.

Quando embarcava em navios para viagens à África do Sul, onde morava Diana, ou mesmo em aviões, estes mais raros, tinha sempre o mesmo problema: tentavam impedir que levasse ao seu lado ‘Capeto’, seu lobo de estimação. Quando um funcionário do navio lhe avisava, no portaló, que os cães eram proibidos de embarcar, respondia com a voz forte que todos temiam: ‘Não é cão, é lobo’. E entrava, sem mais uma palavra, e fechava-se no seu camarote, sem pedir nada, nem água, nem comida.

Seu quarto, na casa de Diana, tinha uma janela sempre encostada, por onde entrava sem avisar a chegada. Nada lá dentro. Só duas esteiras para ele e ‘Capeto’. Na Floresta Negra, seu cavalo era branco, puro da raça árabe, e tinha o nome de ‘Herói’. Passava dias, namorava e, algumas vezes, era ela que ia visitá-lo na Caverna da Caveira. Chegava a cavalo, guardada pelas flechas dos pigmeus Bandar chefiados por Guran. Nas manhãs, nadava nos rios, sob o olhar atento e amoroso do Fantasma.

 Hoje não acompanho mais a sua vida. Só sei que casou com Diana, quando já desconfiavam de sua virilidade, e foi feliz. Teve um filho, a quem deixou os símbolos de sua eternidade – os anéis, a roupa, a máscara, as duas pistolas e o coldre. Mas, às vezes, penso que ainda hoje há outros Fantasmas por ai, dando ordens, e tão misteriosos quanto o Comandante da Patrulha da Selva. Mas talvez sem o charme daquele herói. É que a vida, Senhor Redator, imita a arte e os mitos na velha floresta do poder.

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