Fui
leitor do Fantasma, ‘O Espírito-que-anda’, a genial criação de Lee Falk, nos
anos trinta. Por sinal criador também do velho e mágico Mandrake. Sua lenda é
cheia de mistérios. Único sobrevivente de um naufrágio provocado por piratas
nas costas africanas, ainda muito criança, acabou sobrevivendo e criado pelos
pigmeus da tribo Bandar. Pequenos e ferozes, as suas flechas envenenadas com
curare, eram os únicos que sabiam a sua história e o juramento de combater a
pirataria ao longo dos séculos.
O Fantasma, o espírito-que-anda era tão
misterioso que tinha três nomes: Fantasma, na Floresta Negra, onde vivia na
caverna da Caveira, escondida depois de uma cachoeira, um símbolo respeitado e
temido que ‘estava’ em toda parte: no anel que marcava o queixo de quem
esmurrava, na roupa, na sua poltrona ao lado de um rádio com o qual sabia de
tudo e tudo controlava lá da Floresta Negra. Na mão esquerda, outro anel, a
marca do bem que usava para assinalar as pessoas e as coisas sob sua proteção.
Como ‘Fantasma’ era aquele que jurara, sobre a
caveira do seu próprio pai, sempre combater os piratas. Como ‘O Comandante’,
era o chefe misterioso da Patrulha da Selva que criou para defender a Floresta
Negra dos bandidos, sem revelar seu rosto aos comandados, deixando suas ordens
em bilhetes e usando um túnel, num poço de água ‘envenenada’ para despistar. E
o ‘Sr. Walker’, nome do seu passaporte, quando viajava em missões ou para
visitar a noiva, a ex-campeã de natação Diana Palmer.
Quando
embarcava em navios para viagens à África do Sul, onde morava Diana, ou mesmo
em aviões, estes mais raros, tinha sempre o mesmo problema: tentavam impedir
que levasse ao seu lado ‘Capeto’, seu lobo de estimação. Quando um funcionário
do navio lhe avisava, no portaló, que os cães eram proibidos de embarcar,
respondia com a voz forte que todos temiam: ‘Não é cão, é lobo’. E entrava, sem
mais uma palavra, e fechava-se no seu camarote, sem pedir nada, nem água, nem
comida.
Seu
quarto, na casa de Diana, tinha uma janela sempre encostada, por onde entrava
sem avisar a chegada. Nada lá dentro. Só duas esteiras para ele e ‘Capeto’. Na
Floresta Negra, seu cavalo era branco, puro da raça árabe, e tinha o nome de
‘Herói’. Passava dias, namorava e, algumas vezes, era ela que ia visitá-lo na
Caverna da Caveira. Chegava a cavalo, guardada pelas flechas dos pigmeus Bandar
chefiados por Guran. Nas manhãs, nadava nos rios, sob o olhar atento e amoroso
do Fantasma.
Hoje não acompanho mais a sua vida. Só sei que
casou com Diana, quando já desconfiavam de sua virilidade, e foi feliz. Teve um
filho, a quem deixou os símbolos de sua eternidade – os anéis, a roupa, a
máscara, as duas pistolas e o coldre. Mas, às vezes, penso que ainda hoje há
outros Fantasmas por ai, dando ordens, e tão misteriosos quanto o Comandante da
Patrulha da Selva. Mas talvez sem o charme daquele herói. É que a vida, Senhor
Redator, imita a arte e os mitos na velha floresta do poder.
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