sexta-feira, 4 de maio de 2012

Sem métrica e sem rima

Por José Carlos L. Poroca

Executivo do segmento de shopping centers

A notícia foi dada por telefone: Zé Machado se fora. Fiquei com um coraçãozinho apertado, por dois motivos: o fato em si, que, por mais natural que seja, sempre acaba deixando riscas e feridas; o remorso, por não ter realizado o encontro tantas vezes prometido e adiado. Não há retorno, exceto se houver o que chamam de reencarnação e, nela, a gente possa fazer uma arrumação do mal arrumado na vida terrestre. O risco é ter que reencontrar, no novo campo, as almas sebosas que infernizaram a vida de muitos (inclusive a minha) e ter paciência para aguentar tudo de novo, sem poder mandá-las nadar num mar de bosta ou para o inferno.

ZM integrou um período especial que, com o tempo, a gente fica sabendo, às vezes tarde, que se estava vivendo a melhor fase da vida. Não era político profissional, mas era um hábil político nas relações, provavelmente herança familiar da família de Parnaíba (PI). Viveu um tempo entre a Paraíba e o Maranhão. Mais na frente radicou-se em Natal e lá ficou. ZM usava óculos de forte grau, o chamado "fundo de garrafa" e só conseguia ler aproximando o texto o mais próximo dos seus olhos. Soube que, nos últimos meses (ou anos), enxergava quase nada.

O que impressionava a todos era o seu nível de informação, narrando histórias (geralmente sobre política) ocorridas nos estados do Nordeste ou de Brasília, ou vindas das Minas Gerais, quando não existia internet. Fã confesso do governador potiguar Aluísio Alves, do senador piauiense Petrônio Portela e do general gaúcho Golbery ("primeiro ministro de Figueiredo"), dizia, com ênfase, que eram os três maiores políticos da era pós Vargas.

Por que estou falando de Zé Machado? Bateu a saudade. Fiquei imaginando o que estaria dizendo sobre os últimos fatos da vida nacional envolvendo bicheiros, senadores, governadores, empreiteiras, etc. Qual seria a sua impressão sobre o "ficha limpa"? Provavelmente ia sugerir a oficialização da quirologia informatizada. Seria mais ou menos como já se faz hoje em alguns países que conferem a identidade das pessoas através da íris dos olhos, identificando e confirmando se João é João e se Maria é Maria, sem probabilidade de erro.

Para quem não sabe, a quirologia estuda as linhas das mãos das pessoas e pode identificar através delas traços de personalidade (o cafajeste é traído pelas suas próprias linhas) e a identificação de perfis. Admitindo a possibilidade e viabilidade, como usar na prática a quirologia para os candidatos? Simples. Inicialmente, o sistema armazenaria o maior número possível de dados de linhas das mãos. Na inscrição, o candidato colocaria a sua mão na máquina (não confundir com mão na massa). Em segundos, a máquina apresentaria o perfil do candidato. A ficha seria o salvo-conduto (ou não) para ele seguir em frente ou desviar no sentido da plantação de batatas. Atenção! A máquina teria que vir acoplada com uma câmera para atestar se a mão em análise pertencia de fato ao seu dono ou se era de outro. Não dá pra confiar.

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