Um levantamento
realizado pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI)
aponta que a agricultura e o setor de serviços no Estado poderão amargar um
prejuízo de até R$ 7,7 bilhões com a seca que assola o Nordeste. Isso ocorrerá
caso não chova até o mês de outubro, completando o ciclo de um ano sem
precipitações. Esta é a pior seca em décadas, e no Estado se fala na pior em 47
anos.
Santa Brígida (BA).
Mais de 750 municípios do Nordeste já decretaram situação de emergência e mais
de 4 milhões de pessoas foram afetadas Mais Beto
Macário/UOL
O estudo levou em
conta três possíveis cenários. No primeiro deles, o mais otimista, com chuvas
até o início do mês de junho, o prejuízo agrícola chegaria a R$ 3,8 bilhões. No
segundo cenário, mais moderado e considerando chuvas a partir de agosto, o
déficit alcançaria R$ 5,7 bilhões. No terceiro e mais pessimista cenário, o
prejuízo alcançaria R$ 7,7 bilhões do PIB (Produto Interno Bruto) estadual.
Segundo o IBGE, o último PIB consolidado da Bahia é de 2009 e somou R$ 137
bilhões.
Segundo
meteorologistas, não há previsão de chuva significativa para as próximas
semanas na região afetada pela estiagem –segundo alguns, as precipitações previstas para o Estado ficarão apenas
sobre o litoral, para outros, elas devem atingir o oeste do Estado, mas sem
acabar com o problema.
“Na análise do cenário
pessimista considerou-se uma redução de 40% na produção agropecuária e, como
consequência, uma queda de 20% no setor de serviços e comércio dos municípios
atingidos pela seca”, apontou o estudo.
“Essa é uma simulação
para mostrar que essa seca veio realmente muito forte. A gente tem esse
terceiro cenário, que digo pessimista, mas que possivelmente pode ocorrer se as
chuvas não caírem até outubro –aí fecharíamos um calendário agrícola inteiro de
seca, com algumas culturas perdendo as três safras. É um tipo de perda que não
se pode recuperar”, explicou ao UOL o coordenador de Acompanhamento Conjuntural
da SEI, Luiz Mário Vieira.
Segundo o
levantamento, existem 446 mil estabelecimentos agropecuários nos municípios em
situação de emergência, o que corresponde a mais de 60% daqueles existentes na
Bahia. Desses, 58% são pequenas propriedades, com menos de 10 hectares de área
(cada hectare equivale a 10.000 m²).
Os números ainda
mostram que mais de 2,2 milhões de pessoas trabalham nas lavouras nos
municípios em situação de emergência e estão sofrendo diretamente com a
estiagem.
Feijão e milho em
falta
Em todo o Estado, 242
municípios decretaram situação de emergência e mais de 2,7 milhões de pessoas
são afetadas pela seca.
Prejuízo maior
Mas o prejuízo deve
ser ainda maior que o estimado, já que não foi levado em conta o prejuízo da
pecuária. “A pecuária é muito mais difícil mensurar. Vamos tentar fazer isso
posteriormente, quando tivermos a noção da perda do rebanho. Há informações
ainda desencontradas. Existe também uma perda derivada, que é a oferta de leite
que já está sendo afetada. A oferta de carne também pode sofrer em alguns
locais”, disse Luiz Mário Vieira.
Para a Federação da
Agricultura e Pecuária do Estado (Faeb), a estiagem provocará uma perda na
produção geral entre 20% e 40%. Em 90 dias, segundo a federação, as pequenas
cidades do interior começarão a sentir sinais de desabastecimento de carne
bovina e o consequente aumento de preço do produto.
A produção de leite já
apresenta uma queda aproximada de um terço, o que representa 1,5 milhão de
litros por dia. Com redução de 60% na produção no setor, as cidades de
Itapetinga, Jequié e Itabuna são as que sentem os maiores efeitos da seca.
A Faeb considera
perdida a produção de feijão e milho que ainda não foi colhida. Em diversos municípios,
não houve condições para plantio. O abastecimento deverá ser feito com os
produtos vindos de Minas Gerais e do Paraná.
O plantio de frutas
também está prejudicado, com exceção da região do rio São Francisco, onde não
há problemas de irrigação. Por causa da seca, o governo proibiu o uso da água
para fins comerciais e liberou apenas para abastecimento da população. A
produção de abacaxi em Itaberaba, por exemplo, já está com a safra deste ano
comprometida e com o plantio para o próximo ano atrasado.
Durante visita do UOL
ao sertão baiano, muitos produtores se queixaram das perdas agrícolas
causadas pela seca. “Sempre planto feijão e milho, mas esse
ano a chuva não veio e não plantei nada. Ano passado perdi tudo, pois depois de
maio a seca começou a chegar e a chuva foi enfraquecendo até parar de vez em
setembro”, disse José Luís do Nascimento, 65, agricultor de Santa Brígida (a
458 km de Salvador).
Festas juninas
Além do plantio e
criação de gado, a seca afeta os festejos tradicionais de Santo Antônio, São
João e São Pedro. Até o momento, 26 municípios baianos cancelaram suas festas
por causa da seca e 21 reduziram as atividades.
A orientação do
Tribunal de Contas dos Municípios é para que não gastem com os festejos juninos
mais do que o gasto em anos anteriores para que as comemorações não prejudiquem
as ações de combate à seca. (Com
Agência Brasil)
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