quinta-feira, 10 de maio de 2012

Pedido gentil

Por: Vicente Serejo

Os convites para caminhar a passos lentos são poucos nesses tempos em que a vida não passa, voa; a informação não chega, “já está no seu e-mail”; os dias levam bem menos do que 24 horas para chegarem ao fim.

Por isso, resolvi fazer um convite diferente a mim hoje: tentar viver um dia comum, de muito trabalho e responsabilidade, de maneira lenta. Talvez “lenta” não seja bem a palavra, mas “condizente com o ritmo da vida” ou “de acordo com o que a vida nos pede”.
Aboli, por um dia, o tempo dos ponteiros alucinados e adotei o tempo do pedido da vida. Ela nos pede com tanta delicadeza. Uma pena não repararmos. A vida é uma “lady” – tão sutil, que não conseguimos, muitas vezes, perceber o ritmo que ela nos propõe porque estamos atados ao que nós mesmos nos obrigamos. Somos bem menos democráticos do que a vida.

Vagarosamente (no ritmo da vida), decidi executar as tarefas, sem querer estar em vários lugares ao mesmo tempo por milagre da tecnologia. Estive somente onde eu precisava estar, com quem eu precisava estar e no momento em que foi necessário.
Desta forma, pude reparar em mais expressões faciais, no estilo de vestir. O dia foi de muitas estampas. Foi floral e com poá. Reparei na espuma que se formava no cafezinho. Prestei atenção às propagandas que me arrancaram alguns sorrisos. Estive inteira com quem eu tinha que estar. Reparei quem escreve com a mão esquerda e me senti aliviada por estacionar, desligar o motor, pegar a bolsa e acionar o alarme sem esquecer depois o local onde deixei o carro, simplesmente porque dei atenção – vivi! – cada uma dessas corriqueiras ações, uma após outra, passo a passo.

Ao final do dia, fiquei com a sensação de que vivenciei mais, acumulei experiências e ofereci mais possibilidades para meu corpo e minha mente. Atendi a um pedido especial e a vida me retribuiu com paz.

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