quarta-feira, 9 de maio de 2012

Empate não é um bom resultado

 Por: Vicente Serejo

Ações pontuais defendendo que a prática da leitura precisa ser incorporada à vida dos brasileiros são comuns em datas comemorativas, como Dia Nacional do Livro Infantil, no próximo dia 18 de abril. E, certamente, são válidas, porém insuficientes. Chamou-me a atenção a, recentemente divulgada, pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizada pelo Instituto Pró-Livro, entre junho e julho de 2011, que entrevistou mais de cinco mil pessoas em 315 municípios.

O estudo continua comprovando que o brasileiro lê pouco. Além disso, demonstrou que a qualidade literária do que é lido e as possíveis motivações para a leitura ainda estão aquém do que poderiam, especialmente em relação aos países desenvolvidos.

Ao questionar os participantes sobre os gêneros que costumam ler, a Bíblia foi citada por 42% e manteve-se no primeiro lugar da lista, mesma posição ocupada na edição anterior da pesquisa, em 2007. Quase a metade dos entrevistados! Claro que o Livro Sagrado do Cristianismo tem seu valor literário e pode ser um grande incentivador para a prática da leitura. Porém, o percentual leva a crer que o brasileiro lê por outros motivos que não são o prazer em ler ou por terem compreendido como a leitura pode ser relevante para o desenvolvimento humano. Não percebo a luz da consciência nas respostas do levantamento.

Os livros didáticos foram citados por 32%, os romances por 31%, os livros religiosos por 30% e os contos por 23%. Na lista dos 25 livros mais marcantes indicados pelos entrevistados, os religiosos levaram a melhor: o livro “Ágape”, do padre Marcelo Rossi, aparece em segundo lugar na lista. Perde apenas para a própria Bíblia e para a obra “A Cabana”, do canadense William Young. Vitória para a fé, mas empate para a leitura. E empate nem sempre é um bom resultado, porque “quem não faz, leva”.

Sem políticas públicas efetivas e permanentes de leitura, fica difícil mudar esta realidade “empatada”… “Empacada”… No RN, existem ações nesta direção, vindas principalmente da iniciativa privada e do terceiro setor, mas que parecem obstruídas pelo poder público – personagem fundamental para fazer acontecer. O time entrou em campo de salto alto ou, talvez, apático e não vem conseguindo alterar o placar para um contexto realmente vencedor.

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