Por:
Vicente Serejo
Lamento
muito que esta frase não seja minha. Sempre quis dizer que “todo ser humano é
um texto a ser lido”, mas nunca encontrava a maneira certa. Já sentia isso no
decorrer do meu trabalho de escrever e lidar com pessoas, mas somente depois
que comecei a estudar Psicanálise é que tive noção de quanta verdade existe
nessa afirmação. Estou certa de que vou precisar dessas aspas por um bom tempo,
até que eu consiga uma definição melhor.
Percebo
que quando encaramos cada pessoa que se relaciona conosco como um livro, que
começa a ser apreciado, nosso tratamento, para com o interlocutor, muda. Correr
os olhos como fazemos, em um primeiro momento numa obra literária, já nos dá as
primeiras informações. Mas temos que ir além. Nunca confie totalmente em
sinopses. Prefiro começar logo a “ler” o outro. No entanto, esta segunda
leitura nem sempre é fiel ao conteúdo. Há sempre algo mais: figuras de
linguagem, construções diferentes, licenças poéticas e muitas reticências
ocultadas.
Interpretar
esse texto humano é o que me fascina. Saber, por exemplo, que o que a pessoa
diz não reflete, necessariamente, o que ela sente e que o que ela mostra é
resultado de reações incríveis que a mente humana foi capaz de fazer diante de
suas experiências vividas. É preciso entender muito mais do que o significado
de palavras para ler o texto apresentado pelo ser humano.
A
comunicação não verbal, muitas vezes, proporciona mais informações do que
raciocínios expressados por meio da fala. A gente diz e mostra o que pode.
Fazemos manobras inconscientes para poder expressar determinada impressão, sem
nos ferirmos. E quanta energia nós gastamos nisso! Investimos mais para
ocultarmos do que para vivermos em equilíbrio.
Página após página é folheada, algumas são
marcadas com marca-texto, outras deixamos para ler melhor depois, outras ainda
nos dão sono… A verdadeira leitura consiste em ser capaz de entender as
entrelinhas.
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