No Parnamirim, fim
de tarde, compro uma revista e vou comer empada com cafezinho expresso no Bar
do Neno
Joca Souza Leão
Meu amigo Plínio
Duque escreveu à redação daqui do JC se queixando da lavagem de carros na rua.
No Rosarinho, na pracinha da General Abreu e Lima, e na Praça do Parnamirim.
Plínio tinha toda razão. Tá uma zona!
Sou, confesso,
freguês das duas. No Rosarinho, deixo o carro lá e vou cortar cabelo com Tânio
na esquina. No Parnamirim, fim de tarde, compro uma revista e vou comer empada
com cafezinho expresso no Bar do Neno. Mão na roda! Quando volto, o bicho tá no
grau. Shampoo, polimento com Carnu (que meu irmão Caio não gosta, pois Catita,
um especialista, disse que é abrasivo), bomba de flit com diesel nas rodas e
não sei o que nos pneus (ficam pretinhos que só!), tapetes e aspirador,
inclusive no porta-malas. Tudo, 15 pratas. Em qualquer lava a jato por aí é 35.
E no da Rosa e Silva, em frente ao Pão de Açúcar, 70.
Se o céu é do
condor e a praça é do lavador, qual o problema, então? A zona! Carros
estacionados por todo canto (em locais proibidos, inclusive), baldes e
materiais espalhados, aguaceiro... praças degradadas. E se a coisa continuar
nessa pisada, daqui a pouco a zona vai estar por todo canto, em toda a cidade.
O que sempre se
coloca nessas situações é “o leite dos meninos” versus a deterioração do espaço
urbano. E o argumento: “Melhor trabalhar do que roubar”. Mas, por aí,
justificar-se-ia tudo, da cafetinagem ao narcotráfico. E você, leitor, é
testemunha: sempre lutei pela preservação do espaço urbano.
O fato real e
concreto, no entanto, é que a prefeitura pode até proibir, mas pode fiscalizar?
Duvido! Os camelôs que o digam (acabaram de reocupar a 7 de Setembro e entorno
dos mercados de São José e Casa Amarela). Viável, enquanto é tempo – e a praga
não se alastra –, talvez seja regular, estabelecer normas e locais. A pracinha
do Parnamirim, mesmo, tá mais pra girador do que pra praça. Já a de Casa Forte,
nem pensar em lavadores por lá!
Atualmente, a zona
funciona assim. Cada praça tem um dono. E o dono é dono do macaco que puxa
eletricidade do poste e de todo o material: aspirador, cera, baldes, tudo. O
lavador fica com 60%, e ele, o dono, com 40. “O dono daqui tem mais duas”,
disse um lavador.
Seguinte. Antes de
tudo, fim da informalidade. A prefeitura cadastra e registra os caras como
autônomos. Pagando ISS, rateando despesas e tudo mais. Bata, quepe e crachá.
Locais demarcados (pintados no asfalto), torneiras (com hidrômetro da Compesa),
tomadas elétricas (com medidor da Celpe) e por aí vai. Nada de graça.
Claro que se a
coisa for disciplinada, o dono dança. Mas os lavadores topariam na hora. E como
beneficiários, seriam os guardiões das regras. Lavar e polir eles sabem. Só têm
que aprender o resto. Cidadania, inclusive.
“A praça é do povo!
/ como o céu é do condor. (...) / Desgraçada populaça / Só tem a rua de
seu...”, nos ensinou Castro Alves, na esperança de que aprendêssemos.
P.S. – Em relação à última crônica, Rosebud, Homero Fonseca, David Hulak, Ronald Guimarães, Everardo Maciel, Vera Cristina Bandeira, Pedro Crisóstomo Jr., Francis Souto, Sylvia C. Cunha e Rosana Bastos Piquet (além de três leitores que enviaram apenas seus endereços eletrônicos) escreveram se referindo a rosebud como o nome ou a marca do trenó de Kane quando menino ou, simplesmente, traduzindo a palavra, botão de rosa. No filme, no entanto, o repórter tenta – e não consegue – desvendar o porquê da citação (não o significado da palavra). E apenas nós, espectadores, vemos o trenó – e lemos o nome/marca – que é queimado na lareira. A ser verdadeira a versão de Mankiewicz – que eu acho que é –, o sarcástico Orson Welles tirou um sarro do apelido que Hearst deu ao clitóris da amante. Daí seu ódio, ainda maior, ao filme e a Welles.
Joca Souza Leão é cronista
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