segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Serejo: Há 87 anos

Por: Vicente Serejo

Quem sou eu, Senhor Redator, para afirmar que fomos melhores e mais modernos em matéria de ensino público em 1925 se comparados aos dias de hoje. Conheço apenas, e basta, o ‘Regimento Interno dos Grupos Escolares’ que regulamentou naquele primeiro quartel do século vinte os cursos infanto-juvenil, elementar e complementar no Rio Grande do Norte. Organização, programas, conteúdos, disciplinas, cargas horárias, papéis do professor e do aluno, e bibliografia básica de cada nível escolar.

 É um pequeno livreto de pouco mais de setenta páginas, impresso nas oficinas de A República, em 1925, guardado por uma capa singela. Bem em cima, ‘Estado do Rio Grande do Norte’. Logo abaixo, ‘Departamento de Educação’ – naquele tempo não havia secretaria na organização administrativa do governo. O título geral – ‘Regimento Interno dos Grupos Escolares’, o brasão do Rio Grande do Norte, fechando com ‘Natal – Typ. d’A República, 1925′, sem timbres de nomes pessoais ou do governante.

 Governava o Rio Grande do Norte, em 1925, José Augusto Bezerra de Medeiros que nomeou para exercer a Diretoria Geral do Departamento de Educação o professor e historiador Nestor dos Santos Lima que assina o regimento com data de 15 de maio de 1925, quando de sua publicação oficial. É uma edição austera, feita para orientar diretores de grupos escolares e inspetores de ensino, assinada pelo diretor geral como responsável pelas normas de acordo com o que determinara a lei 595, de 5 de dezembro de 1924.

 Na parte final estão os elencos das disciplinas de cada curso, a bibliografia e uma recomendação, comum a todos os níveis: redação e leitura. Desde as cartilhas infantis aos cursos complementares. Para os alunos mais adiantados, a leitura e estudo das Corografias de Manoel Dantas e Travares de Lyra, das Histórias do Rio Grande do Norte de Rocha Pombo e de Tavares de Lyra; e o estudo da constituição política do Estado, de Antônio de Souza. Nada do próprio Nestor Lima, certamente por pudor pessoal.

 Chama a atenção, Senhor Redator, há tantas décadas passadas, já chegando perto de um século, o cuidado com o ensino da língua portuguesa. O exercício da escrita – ‘de letra cursiva com exemplo no quadro negro’ – como o ‘ditado de trechos escolhidos’.

 Recomenda expressamente ‘organizar sentenças com as palavras difíceis da leitura; reproduzir palavras dando-lhes o significado; compor sentenças acerca dos objetos da sala ou que lhe forem apresentados; cópias separando sílabas e exercícios de redação’.

 Não sei se o exagero está neste leigo ou se pioramos no ensino da língua. Sei que ando lendo aqui e ali, nas pesquisas do Ministério da Educação, a constatação de que alunos entre a primeira e quarta séries não sabem ler e escrever; e da quinta até oitava, lêem e escrevem, nas não compreendem o lido e o escrito. No velho regimento de Nestor Lima, de 1925, o aluno precisava saber descrever cenas da vida comum, passeios e atividades do seu cotidiano. Tudo quanto parece faltar na modernidade de hoje. Será?

Nenhum comentário:

Postar um comentário