Quem
sou eu, Senhor Redator, para afirmar que fomos melhores e mais modernos em
matéria de ensino público em 1925 se comparados aos dias de hoje. Conheço
apenas, e basta, o ‘Regimento Interno dos Grupos Escolares’ que regulamentou
naquele primeiro quartel do século vinte os cursos infanto-juvenil, elementar e
complementar no Rio Grande do Norte. Organização, programas, conteúdos,
disciplinas, cargas horárias, papéis do professor e do aluno, e bibliografia
básica de cada nível escolar.
É
um pequeno livreto de pouco mais de setenta páginas, impresso nas oficinas de A
República, em 1925, guardado por uma capa singela. Bem em cima, ‘Estado do Rio
Grande do Norte’. Logo abaixo, ‘Departamento de Educação’ – naquele tempo não
havia secretaria na organização administrativa do governo. O título geral –
‘Regimento Interno dos Grupos Escolares’, o brasão do Rio Grande do Norte,
fechando com ‘Natal – Typ. d’A República, 1925′, sem timbres de nomes pessoais
ou do governante.
Governava
o Rio Grande do Norte, em 1925, José Augusto Bezerra de Medeiros que nomeou
para exercer a Diretoria Geral do Departamento de Educação o professor e
historiador Nestor dos Santos Lima que assina o regimento com data de 15 de
maio de 1925, quando de sua publicação oficial. É uma edição austera, feita
para orientar diretores de grupos escolares e inspetores de ensino, assinada
pelo diretor geral como responsável pelas normas de acordo com o que
determinara a lei 595, de 5 de dezembro de 1924.
Na
parte final estão os elencos das disciplinas de cada curso, a bibliografia e
uma recomendação, comum a todos os níveis: redação e leitura. Desde as
cartilhas infantis aos cursos complementares. Para os alunos mais adiantados, a
leitura e estudo das Corografias de Manoel Dantas e Travares de Lyra, das
Histórias do Rio Grande do Norte de Rocha Pombo e de Tavares de Lyra; e o
estudo da constituição política do Estado, de Antônio de Souza. Nada do próprio
Nestor Lima, certamente por pudor pessoal.
Chama
a atenção, Senhor Redator, há tantas décadas passadas, já chegando perto de um
século, o cuidado com o ensino da língua portuguesa. O exercício da escrita –
‘de letra cursiva com exemplo no quadro negro’ – como o ‘ditado de trechos escolhidos’.
Recomenda
expressamente ‘organizar sentenças com as palavras difíceis da leitura;
reproduzir palavras dando-lhes o significado; compor sentenças acerca dos
objetos da sala ou que lhe forem apresentados; cópias separando sílabas e
exercícios de redação’.
Não
sei se o exagero está neste leigo ou se pioramos no ensino da língua. Sei que
ando lendo aqui e ali, nas pesquisas do Ministério da Educação, a constatação
de que alunos entre a primeira e quarta séries não sabem ler e escrever; e da
quinta até oitava, lêem e escrevem, nas não compreendem o lido e o escrito. No
velho regimento de Nestor Lima, de 1925, o aluno precisava saber descrever
cenas da vida comum, passeios e atividades do seu cotidiano. Tudo quanto parece
faltar na modernidade de hoje. Será?
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