A gente não fica avô quando nasce o primeiro neto.
Logo ali, naquela hora. Pelo contrário: quando vi Alberto, hoje com sete anos,
do outro lado daquele vidro, como um aquário, a sensação foi de um prazer tão
intenso que desabei emocionado. Mas, voltemos ao ponto inicial. A gente fica
avô aos poucos. À medida que o mundo vai ensinando. Avô só tem mesmo uma
utilidade: saber disfarçar o riso quando eles pintam e bordam e os pais fazem
aquelas caras de agradáveis patetas fracassados.
A coisa pior nesta profissão sublime de amar sem
nada pedir em troca, devo confessar, é conversar sobre neto. Coisa que tenho
evitado para não torturar meus poucos leitores. Basta o que já exigem deles os
advogados dos réus do mensalão com seus anjos imaculados. Pois bem, resisto.
Mas tudo tem um limite, Senhor Redator. Como vi outro dia num pedaço de filme
na tevê, numa dessas madrugadas, quando um menino de sete ou oito anos, se
tanto, pergunta ao pai o que é masturbação.
Até nem parecia que uma tragédia cairia sobre o
pai. Ele então foi respondendo, catando as palavras, enfrentando o incômodo das
dúvidas. Quando caminhava para o desfecho da pobre e tímida descrição, veio o
primeiro foguete: ‘Órgão sexual que o senhor fala é o pinto, papai?’. Saiu-se
bem, de fato. Confirmou. E sem deixar espaço, lançou a frase seguinte na busca
de chegar ao final. Veio então o segundo míssil: Papai, o que é friccionar?
Outra breve a incômoda explicação com gestos tímidos.
Aliás, rememorando a cena, acho que aquele pai, de
tão enrolado, devia ser um austero auditor da Receita Federal ou um perito em cálculos
atuariais. Só sendo. Nunca vi tanta dificuldade. Quando mais tentava ser claro
sem chocar o filho, mais mergulhava como um náufrago em águas de um redemoinho
que antigamente a gente chamava de caldeirão. Mas o pai ia resistindo, fazendo
das tripas coração, nos seus pobres limites. Era preciso ter fôlego, altivez, e
uma naturalidade a toda prova.
Chega a um momento que o pai resolve recomeçar a
explicação, agora de forma mais simples e mais direta, mas pelo jeito sem
maiores detalhes. E foi descrevendo o sexo dos meninos e das meninas. O futuro
– logo senti seu drama – era seu maior problema. Precisava explicar que o pinto
tinha algo de mais importante e nobre a desempenhar no futuro, mas só quando
ele ficasse grande. E chegasse à idade certa, repetia precavido. O menino
calmo, olhos e ouvidos acesos, registrando todos os detalhes.
O pai já retomava a leitura do jornal que deixara
de lado, quando viu que o neto queria falar. Veio aquele silêncio terrível que
antecede aos grandes terremotos. Foi então que o menino, como que meio
decepcionado com a novidade, disse para o pai, depois de todo esforço da
explicação: ‘Ah, pai, isso é a mesma coisa de punheta!’. Aqui,
confesso: se Albertinho pedir uma explicação dessas a mim quem vai responder é
o pai. Que além de advogado, é muito mais moderno que um pobre avô de doze.
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