segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Serejo: O partido sou eu

 Por: Vicente Serejo

Eles preferem não saber. Certamente. E não é por despreparo. São sabidos, mas é melhor a inconsciência trágica do erro. Também não sei dos saberes do mundo, muito menos da ciência política. Mas sei da existência do livro de Robert Michels que nasceu em Colônia, na Alemanha. Foi escrito há mais de um século, em 1911. No Brasil a ‘Sociologia dos Partidos Políticos’ foi traduzida e publicada em 1982, há trinta anos, na ‘Coleção Pensamento Político’ da Universidade Nacional de Brasília, UnB.

Há tempos o volume anda por aqui, perto dos olhos e das mãos. Desde 1982, quando encontrei na livraria da própria Universidade de Brasília. É ali, com tradução de Arthur Chaudon e um prefácio brasileiro sem assinatura, que ele desnuda, há mais de um século, toda a pantomima que os políticos inventaram para a conquista do poder. Desde quando foi instaurada a primeira democracia e aos homens Deus concedeu o manejo da arte da retórica. De lá para cá, vivemos entre dominadores e dominados.

Esse nariz de cera é pra dizer que foi Robert Michels quem claramente avisou ao mundo que os partidos políticos, quando propriedades, são, sim, oligárquicos. E se são propriedade neles prevalece a vontade dos donos. Não há como vê-los de outra forma. No prefácio que faz à edição francesa, dois anos depois da alemã, traduzido e mantido na edição brasileira, Michels reconhece: se amanhã o socialismo alcançar o poder, virá trazendo nele mesmo a própria semente da oligarquia. Um dia veio. E foi assim.

Michels não inventa, constata. É sua a constatação que tem um século: ‘Terminadas as eleições, termina também o poder dos eleitores sobre os seus eleitos’. Os líderes populistas se elegem com o voto das massas, mas governam ao lado das elites. Com elas definem o que farão em nome da massa, o papel de cada segmento consciente na manutenção do poder. Menos a massa. Esta não tem função a exercer. Para Michels, é como se em cada partido existisse um novo Rei Sol a vociferar: ‘O partido sou eu’.

No poder, o segmento mais servil é a burocracia, principalmente no estágio hoje mais requintado que é a tecnocracia. Michels, impiedoso e genial, afirma no capítulo III: ‘O despotismo dos chefes não decorre apenas de um amor vulgar pelo poder e de um egoísmo imoderado, mas também da consciência do seu próprio valor’. Logo depois, conclui: ‘A burocracia mais fiel a seus deveres e mais competente será também a mais autoritária’. Ora, para testar a verdade, até hoje, basta dar poderes a um tecnocrata.

Daí não se precisar de oligarquias para se ter uma política oligárquica. É o que temos. Aos que ainda duvidam, basta apenas fazer a relação dos partidos e acrescentar à direita de cada uma das siglas os nomes dos seus presidentes aqui no Rio Grande do Norte. E todos logo verão que eles não são presidentes, pois não presidem. São donos. Proprietários de feudos oligárquicos diante dos quais nunca precisam falar nada. Determinam. Eles sabem que podem dizer como o Rei Sol: ‘O partido sou eu’

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