Eles preferem não saber. Certamente. E não é por despreparo. São
sabidos, mas é melhor a inconsciência trágica do erro. Também não sei dos
saberes do mundo, muito menos da ciência política. Mas sei da existência do livro
de Robert Michels que nasceu em Colônia, na Alemanha. Foi escrito há mais de um
século, em 1911. No Brasil a ‘Sociologia dos Partidos Políticos’ foi traduzida
e publicada em 1982, há trinta anos, na ‘Coleção Pensamento Político’ da
Universidade Nacional de Brasília, UnB.
Há tempos o volume anda por aqui, perto dos olhos e das mãos. Desde
1982, quando encontrei na livraria da própria Universidade de Brasília. É ali,
com tradução de Arthur Chaudon e um prefácio brasileiro sem assinatura, que ele
desnuda, há mais de um século, toda a pantomima que os políticos inventaram
para a conquista do poder. Desde quando foi instaurada a primeira democracia e
aos homens Deus concedeu o manejo da arte da retórica. De lá para cá, vivemos
entre dominadores e dominados.
Esse nariz de cera é pra dizer que foi Robert Michels quem claramente
avisou ao mundo que os partidos políticos, quando propriedades, são, sim,
oligárquicos. E se são propriedade neles prevalece a vontade dos donos. Não há
como vê-los de outra forma. No prefácio que faz à edição francesa, dois anos
depois da alemã, traduzido e mantido na edição brasileira, Michels reconhece:
se amanhã o socialismo alcançar o poder, virá trazendo nele mesmo a própria
semente da oligarquia. Um dia veio. E foi assim.
Michels não inventa, constata. É sua a constatação que tem um século:
‘Terminadas as eleições, termina também o poder dos eleitores sobre os seus
eleitos’. Os líderes populistas se elegem com o voto das massas, mas governam
ao lado das elites. Com elas definem o que farão em nome da massa, o papel de
cada segmento consciente na manutenção do poder. Menos a massa. Esta não tem
função a exercer. Para Michels, é como se em cada partido existisse um novo Rei
Sol a vociferar: ‘O partido sou eu’.
No poder, o segmento mais servil é a burocracia, principalmente no
estágio hoje mais requintado que é a tecnocracia. Michels, impiedoso e genial,
afirma no capítulo III: ‘O despotismo dos chefes não decorre apenas de um amor
vulgar pelo poder e de um egoísmo imoderado, mas também da consciência do seu
próprio valor’. Logo depois, conclui: ‘A burocracia mais fiel a seus deveres e
mais competente será também a mais autoritária’. Ora, para testar a verdade,
até hoje, basta dar poderes a um tecnocrata.
Daí não se precisar de oligarquias para se ter uma política oligárquica.
É o que temos. Aos que ainda duvidam, basta apenas fazer a relação dos partidos
e acrescentar à direita de cada uma das siglas os nomes dos seus presidentes
aqui no Rio Grande do Norte. E todos logo verão que eles não são presidentes,
pois não presidem. São donos. Proprietários de feudos oligárquicos diante dos
quais nunca precisam falar nada. Determinam. Eles sabem que podem dizer como o
Rei Sol: ‘O partido sou eu’
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