Os noventa anos da Semana de Arte Moderna de
1922 já caminhavam há meses quando sugeri a Abimael Morais a edição autônoma da
conferência de Peregrino Júnior sobre o modernismo que circulou originalmente
ao lado de dois outros ensaios sobre a Amazônia e Graciliano Ramos, reunidos
num pequeno volume da Livraria São José, Rio, 1969, que tenho aqui com
dedicatória de próprio punho a Gilberto Freyre. Abimael topou. Sugeri mais: na
capa, o retrato a nanquim feito por Erasmo Xavier, em 1929, quando da presença
de Mário de Andrade em Natal, a quem deve ter presenteado e por isso integra o
acervo do Instituto de Estudos Brasileiros, IEB, da Universidade de São Paulo.
Eis a breve história deste livro que saiu com o pequeno texto a seguir que
escrevi para as orelhas.
Sua consagração como escritor nacional veio no
rastro luminoso dos seus dois maiores conjuntos de contos – Mata Submersa e
Matupá, ambos nascidos das histórias, mitos e lendas da vida amazônica, onde
foi médico ainda no início da vida profissional. Uma literatura que se
revelaria forte e tão brasileira que fixaria seu nome na cena modernista, com
uma presença na série Seleta publicada pela Editora José Olympio com seus
maiores nomes e no grande elenco da Coleção Nossos Clássicos, da editora Agir.
A glória do contista venceu o ensaísta, a ponto de
elegê-lo para a Academia Brasileira de Letras – o segundo norte-rio-grandense a
alcançar a imortalidade nacional, depois de Rodolfo Garcia e antes de Murilo
Melo Filho – escondendo o grande ensaísta que ousou, como médico e escritor,
elucidar de uma vez a epilepsia da qual era portador Machado de Assis, num
ensaio que se tornaria célebre e insuperável: ‘Doença e Constituição de Machado
de Assis’, volume 171 da Coleção Documentos Brasileiros.
O crítico literário atuou em vários jornais e
revistas de circulação nacional, daí ser sempre citado por historiadores e
estudiosos do modernismo brasileiro, mesmo agora, em 2012, nos noventa anos da
Semana de Arte de 1922. Sua atuação, ao lado de Jayme Adour da Câmara, um dos
editores da Revista de Antropofagia, e de Câmara Cascudo, este no plano do
Movimento Regionalista, marcam a presença do Rio Grande do Norte nos jornais,
revistas e embates literários em torno das idéias modernistas.
É o grande ensaísta que brilha aqui, nesta edição
do Sebo Vermelho que o editor Abimael Silva aceitou desentranhar de ‘Três
Ensaios’, o pequeno livro lançado pela Livraria São José, Rio, em 1969, e no
qual Peregrino Júnior reuniu três dos seus mais importantes textos ensaísticos:
Modernismo, Graciliano Ramos e Amazônia. Uma edição com o sentido histórico de
fixar a visão de um potiguar que viveu aqueles tempos de ousadia modernista,
depois de um quase um século da ruidosa semana.
O ensaio de Peregrino, como ele mesmo confessa na
abertura, mas sem detalhar a data original, nasceu da uma conferência sua, em
Montevidéu, sobre o modernismo brasileiro, a convite do Itamarati como
representante do Brasil. Das anotações que usou como roteiro para a sua
exposição no Uruguai, nasceu este ensaio que reconhece não ser um levantamento
completo pela extensão do tema e dos seus desdobramentos, mas é inestimável
como testamento, ele que foi ‘testemunha dos acontecimentos’.
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