sábado, 20 de outubro de 2012

Poroca: Krig-ha, Bandolo!

José Carlos L. Poroca
Executivo do segmento shopping centers
jcporoca@uol.com.br

O meu avô materno era um sujeito de pouca instrução, mas, como se dizia, “muito viajado”. Participou de guerras internas no país, como, por exemplo, como integrante da Guarda Nacional. A seguir, entrou noutra guerra: o combate às endemias, através de programa num ministério criado com essa finalidade. Os “soldados”, uniformizados, possuíam carta branca para ingressar nas residências e verificar as condições de higiene, saúde etc. O inimigo maior era o mosquito da febre amarela, mas não ficavam de fora o transmissor das chagas, os carrapatos, os piolhos, os mosquitos que transmitiam a filariose e outros bichinhos menos célebres.

Na mesma época, fazia muito sucesso no mundo história (ficção) de um personagem órfão, criado por macacos, numa versão parecida com a loba que amparou Rômulo e Remo, fundadores de Roma. Quem se aprofundou um pouquinho na história, sabe que a “loba” era outra. O episódio da loba romana é mais um daqueles em que prevalece a versão oficial ou, melhor dizendo, se cria uma versão que melhor atenda ao momento e às circunstâncias.

Meu avô não tinha interesse na história do menino criado por macacos. Preferia o canto e o ritmo de Luiz Gonzaga ou Jackson do Pandeiro, aliados ao cheiro de uma “cabrita”. O personagem chamava-se Tarzan, filho de aristocratas ingleses abandonados na selva por amotinados do navio em que viajavam. Foram mortos por macacos. A criança, ainda bebê, foi criada por outro primata, cresceu e passou a ser conhecido como o “homem-macaco”. A partir daí, sucesso nos quadrinhos, no rádio, no cinema (mais de 50 filmes) e na TV. Com o tempo, as aventuras do herói foram saindo da linha original criada no livro de Edgar Rice Bourroughs.

Em 2012, o herói completa 100 anos. Não se pode imaginar um personagem como ele nos dias de hoje. As selvas foram desbravadas, aquilo que representa o “bem” e o “mal” foi repaginado e já há versões em 3D e 4D, oficiais ou genéricas. Os mocinhos estão mais interessados em aparecer nas capas e páginas de revistas de celebridades, de morar em locais que dão status e de achar uma forma de passar a perna (e ganhar dinheiro) dos incautos. Os bandidos deixaram de ser maus, agem com educação e enganam até os melhores detectores de mentiras. Dão abraços de tamanduás (com todo respeito aos bichos da espécie) e se comportam como Judas, sem demérito para quem se vendeu por apenas trinta moedas.

O Tarzan, nos dias de hoje, seria taxado de “careta”, no mínimo. Teria que arrumar advogados renomados para defendê-lo contra processos movidos por entidades protetoras de animais e por outras que entenderiam o seu modo de ser e viver como preconceituoso, racista, dotado de comportamento que exerce má influencia sobre novas gerações, etc. De quebra, o “homem-macaco” ganharia aviso de despejo numa ação movida pelo “dono” da selva. Eita, mundo.

Em tempo: “Krig-ha, Bandolo!” significa “Cuidado, vem aí o inimigo!”

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