Executivo do segmento shopping centers
jcporoca@uol.com.br
O meu avô materno era um sujeito de pouca instrução, mas,
como se dizia, “muito viajado”. Participou de guerras internas no país, como,
por exemplo, como integrante da Guarda Nacional. A seguir, entrou noutra
guerra: o combate às endemias, através de programa num ministério criado com
essa finalidade. Os “soldados”, uniformizados, possuíam carta branca para
ingressar nas residências e verificar as condições de higiene, saúde etc. O
inimigo maior era o mosquito da febre amarela, mas não ficavam de fora o transmissor
das chagas, os carrapatos, os piolhos, os mosquitos que transmitiam a filariose
e outros bichinhos menos célebres.
Na mesma época, fazia muito sucesso no mundo história
(ficção) de um personagem órfão, criado por macacos, numa versão parecida com a
loba que amparou Rômulo e Remo, fundadores de Roma. Quem se aprofundou um
pouquinho na história, sabe que a “loba” era outra. O episódio da loba romana é
mais um daqueles em que prevalece a versão oficial ou, melhor dizendo, se cria
uma versão que melhor atenda ao momento e às circunstâncias.
Meu avô não tinha interesse na história do menino criado por
macacos. Preferia o canto e o ritmo de Luiz Gonzaga ou Jackson do Pandeiro,
aliados ao cheiro de uma “cabrita”. O personagem chamava-se Tarzan, filho de aristocratas
ingleses abandonados na selva por amotinados do navio em que viajavam. Foram
mortos por macacos. A criança, ainda bebê, foi criada por outro primata,
cresceu e passou a ser conhecido como o “homem-macaco”. A partir daí, sucesso
nos quadrinhos, no rádio, no cinema (mais de 50 filmes) e na TV. Com o tempo,
as aventuras do herói foram saindo da linha original criada no livro de Edgar
Rice Bourroughs.
Em 2012, o herói completa 100 anos. Não se pode imaginar um
personagem como ele nos dias de hoje. As selvas foram desbravadas, aquilo que
representa o “bem” e o “mal” foi repaginado e já há versões em 3D e 4D,
oficiais ou genéricas. Os mocinhos estão mais interessados em aparecer nas
capas e páginas de revistas de celebridades, de morar em locais que dão status
e de achar uma forma de passar a perna (e ganhar dinheiro) dos incautos. Os
bandidos deixaram de ser maus, agem com educação e enganam até os melhores
detectores de mentiras. Dão abraços de tamanduás (com todo respeito aos bichos
da espécie) e se comportam como Judas, sem demérito para quem se vendeu por
apenas trinta moedas.
O Tarzan, nos dias de hoje, seria taxado de “careta”, no
mínimo. Teria que arrumar advogados renomados para defendê-lo contra processos
movidos por entidades protetoras de animais e por outras que entenderiam o seu
modo de ser e viver como preconceituoso, racista, dotado de comportamento que
exerce má influencia sobre novas gerações, etc. De quebra, o “homem-macaco”
ganharia aviso de despejo numa ação movida pelo “dono” da selva. Eita, mundo.
Em tempo: “Krig-ha, Bandolo!” significa “Cuidado, vem aí o
inimigo!”
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