segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Lima: Pequena variação sobre um tema de Lívio Oliveira

Por Jairo Lima
 

“não me é de responsabilidade

 a estrutura do tempo frio”

 nem os vapores maléficos

 da digestão dos carros

 amontoados na rua

 O que Vejo se anuncia em mirantes acesos

 Sobre as cinzas do rio

 

Um dia vi um Beco vomitando suas lamas

 Numa cantiga noturna

 Que rimava dejetos

 E exibia a podridão de suas lendas

 E o seu rosto desfeito em tiras, em iras, lama sobre merda, Palimpsesto

 

Ainda era a chuva, ainda era o vento, ainda era o sol imolando a cidade e os seus dejetos

 

Belos e inúteis como um campanário esculpido contra um azul ateu

 Os versos me rasgavam a pele, na procura vã de uma alma, e me iniciavam,

 Solenes, em profecias sem hinos, epifanias sem céu.

 

Um poema me faz pedra e lama

 Corrente como um despojo de águas

 Feridas na raiz insone do medo.

 E eu, desdenhoso de deuses e almas

 Acendo como um sol inerte sobre o beco.

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