segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Serejo: Moças em fúria

Por: Vicente Serejo

Nem sei se ainda há moças, Senhor Redator. Muito menos em fúria. Falo assim só por lembrar um livro que durante alguns poucos anos viveu seu fulgor nas vitrines da livrarias, mais pelo deboche do que pela originalidade das idéias, e com um título assim: Manual para Moças em Fúria, edição da Record. E assinado por três autoras: Jô Hallack, Nina Lemos e Raq Afonso. Algumas das histórias saíram numa edição de bolso – ou de bolsa? – brinde da revista TPM às suas leitoras que até hoje ainda dorme por aqui.

 Também não pergunte quem são elas e o que fazem assinando um livro. Hoje ninguém precisa mais ser escritor para publicar nada. Pelo contrário. Os escritores de verdade andam inibidos, vendem poucos livros e muitos deles nem sempre são populares. Jô, Nina e Raq fizeram sucesso em 2003 não por conta da literatura que criaram, pela ironia contra os homens. Uma ironia bem humorada, sadia, sem o amargor das feministas. Flagrando o bicho homem no que ele tem mais cretino e que esconde com medo do ridículo.

 É de Nina Lemos, por exemplo, a descoberta de como nasce ‘o homem mais gostoso do mundo’. Não é raro, devo dizer do que apreendi de sua leitura, e não precisa de uma idade definida, da beleza, nem religião. Pode ser qualquer tipo, inclusive feio e burro, afinal os inteligentes e bonitos já se acham gostosos sem precisar que se diga. Ser ‘o homem mais gostoso do mundo’, na visão de Nina, é um destino. Um dia vai ser. Basta que uma garota bacana ou uma mulher bonita se interesse por ele e leve seu desejo à cama.

 Digamos que naquela primeira noite ele demonstre um desempenho incrível. É o que basta, avisa Nina. Encerrados os jogos sexuais, e antes do repouso completo, começa a se operar na sua cabeça uma metamorfose que ele imagina envolver todo o seu corpo. E nasce ali ‘o homem mais gostoso do mundo’. Ele se convence de tal maneira que imagina vê-la desesperada de desejo a procurar casar de todo jeito. Ele então desaparece. Procurado, diz a frase cretina: ‘Espero que você não tenha levado aquilo muito a sério’.

 O melhor antídoto para evitar ‘o homem mais gostoso do mundo’, sugere Nina, é não ficar dizendo em toda parte que não há homens disponíveis. Não deixe que ele pense ser o único. Muitos deles, a rigor, são bobos. Depois, dependendo da performance da mulher, até suas carências são passageiras e podem ser resolvidas na dança, ensina. Às vezes mais prazerosa do que ficar com um deles. É imprescindível ser bom de sexo, não se nega. Mas não é o único atributo da sensualidade masculina, nem é tão insubstituível assim.

 Seu humor é leve. Como no caso da visita inesperada de uma mãe ao apartamento da filha, ela do tipo que entra logo e vai até o quarto da ‘menina’ solteira que pensa ainda ser bem comportada como no tempo do colégio. E suponha – nunca fique desprevenida! – que por um lapso qualquer você esqueça na cama o seu vibrador que acabara de usar quando a campanhinha tocou. Não fique nervosa, ensina o livro. Nem explique nada. Diga apenas, com jeito casual: ‘– Mamãe, este é o Arnaldo. Arnaldo, esta é a mamãe!’

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