Nem
sei se ainda há moças, Senhor Redator. Muito menos em fúria. Falo assim só por
lembrar um livro que durante alguns poucos anos viveu seu fulgor nas vitrines
da livrarias, mais pelo deboche do que pela originalidade das idéias, e com um
título assim: Manual para Moças em Fúria, edição da Record. E assinado por três
autoras: Jô Hallack, Nina Lemos e Raq Afonso. Algumas das histórias saíram numa
edição de bolso – ou de bolsa? – brinde da revista TPM às suas leitoras que até
hoje ainda dorme por aqui.
Também
não pergunte quem são elas e o que fazem assinando um livro. Hoje ninguém
precisa mais ser escritor para publicar nada. Pelo contrário. Os escritores de
verdade andam inibidos, vendem poucos livros e muitos deles nem sempre são
populares. Jô, Nina e Raq fizeram sucesso em 2003 não por conta da literatura
que criaram, pela ironia contra os homens. Uma ironia bem humorada, sadia, sem
o amargor das feministas. Flagrando o bicho homem no que ele tem mais cretino e
que esconde com medo do ridículo.
É
de Nina Lemos, por exemplo, a descoberta de como nasce ‘o homem mais gostoso do
mundo’. Não é raro, devo dizer do que apreendi de sua leitura, e não precisa de
uma idade definida, da beleza, nem religião. Pode ser qualquer tipo, inclusive
feio e burro, afinal os inteligentes e bonitos já se acham gostosos sem
precisar que se diga. Ser ‘o homem mais gostoso do mundo’, na visão de Nina, é
um destino. Um dia vai ser. Basta que uma garota bacana ou uma mulher bonita se
interesse por ele e leve seu desejo à cama.
Digamos
que naquela primeira noite ele demonstre um desempenho incrível. É o que basta,
avisa Nina. Encerrados os jogos sexuais, e antes do repouso completo, começa a
se operar na sua cabeça uma metamorfose que ele imagina envolver todo o seu
corpo. E nasce ali ‘o homem mais gostoso do mundo’. Ele se convence de tal
maneira que imagina vê-la desesperada de desejo a procurar casar de todo jeito.
Ele então desaparece. Procurado, diz a frase cretina: ‘Espero que você não
tenha levado aquilo muito a sério’.
O
melhor antídoto para evitar ‘o homem mais gostoso do mundo’, sugere Nina, é não
ficar dizendo em toda parte que não há homens disponíveis. Não deixe que ele
pense ser o único. Muitos deles, a rigor, são bobos. Depois, dependendo da
performance da mulher, até suas carências são passageiras e podem ser
resolvidas na dança, ensina. Às vezes mais prazerosa do que ficar com um deles.
É imprescindível ser bom de sexo, não se nega. Mas não é o único atributo da
sensualidade masculina, nem é tão insubstituível assim.
Seu
humor é leve. Como no caso da visita inesperada de uma mãe ao apartamento da
filha, ela do tipo que entra logo e vai até o quarto da ‘menina’ solteira que
pensa ainda ser bem comportada como no tempo do colégio. E suponha – nunca
fique desprevenida! – que por um lapso qualquer você esqueça na cama o seu
vibrador que acabara de usar quando a campanhinha tocou. Não fique nervosa,
ensina o livro. Nem explique nada. Diga apenas, com jeito casual: ‘– Mamãe,
este é o Arnaldo. Arnaldo, esta é a mamãe!’
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