DO "NEW YORK TIMES"
Barack Obama
raramente tece reflexões sobre a experiência de ser o primeiro presidente negro
dos Estados Unidos, convertendo em algo quase ordinário o que antes dele era
extraordinário.
Mas sua
tranquilidade aparente oculta a ansiedade e a emoção com que, segundo
assessores, ele atua em sua posição histórica: orgulho pelo que realizou,
determinação para fazer um bom trabalho e frustração intensa. Obama busca um
equilíbrio entre dois impulsos: a visão de que a política universal não é
baseada em critérios raciais e a promoção da vida negra e seus desafios.
Atento para não
criar pontos de atrito raciais, o presidente é reservado e cuidadoso ao falar
sobre o assunto. Seus assessores orquestram com muita diplomacia as aparições
de personalidades negras e manifestações de cultura negra na Casa Branca. As
pessoas próximas a Obama dizem que ele se irrita por ser incompreendido -não
apenas por adversários que insinuam que ele favorece os afro-americanos, mas
também por intelectuais e parlamentares negros que o criticam por ele não fazer
de sua Presidência um ataque frontal à disparidade racial.
"Tragicamente,
parece que o presidente se sente constrito por sua negritude", disse o
apresentador de rádio e televisão Tavis Smiley. "Tem sido doloroso, em
alguns momentos, assistir ao tratamento calculado, cauteloso e por vezes
indiferente dado pelo presidente à sua base eleitoral mais leal. Os
afro-americanos perderam terreno na era Obama."
De acordo com
assessores, críticas desse tipo deixam o presidente ressentido e sentindo-se
traído por aqueles que ele acha que deveriam ser seus aliados.
Observadores
atentos dizem que Obama está ficando mais confiante para falar de raça em
público, da mesma forma que o faz em conversas particulares.
Indagados sobre
quando puderam perceber essa mudança, vários assessores e amigos mencionaram o
final da festa de aniversário de Obama em 2011. Quando ficou tarde, muitos dos
convidados brancos foram embora, e a música ficou "mais e mais
negra", como o humorista Chris Rock contou a uma plateia mais tarde.
Quando viu artistas e atletas afro-americanos dançando o Dougie (movimento de
dança hip-hop) para celebrar um presidente negro numa Casa Branca construída
por escravos, disse Rock, "senti que eu tinha morrido e ido para o céu
negro".
Hoje Obama preside
uma Casa Branca que projeta a unidade transracial. Muitas de suas decisões mais
críticas de política doméstica beneficiaram afro-americanos: pacotes de
estímulo que mantiveram os empregos de funcionários públicos, doações para o
setor educacional para ajudar escolas com desempenho fraco e uma reforma da
saúde que vai garantir cobertura médica a milhões de americanos. Mas Obama
apresenta essas medidas como políticas que visam ajudar os americanos de todas
as origens.
Falando
reservadamente, assessores da Casa Branca frequentemente dissecam a dinâmica
racial da Presidência, perguntando se o deputado republicano Joe Wilson, da
Carolina do Sul, teria gritado "o senhor mente!" para um presidente
branco durante um discurso perante o Congresso, ou qual é o significado real de
cartazes do Tea Party pedindo "Vamos Tomar Nosso País de Volta".
Obama é
circunspecto quanto à questão de parte da oposição a ele ser movida pela
questão racial. Assessores dizem que o presidente tem plena consciência de que
alguns eleitores dizem que nunca se sentirão à vontade com ele, além das
ocasionais manifestações de racismo na campanha, como a camiseta, vista num
comício recente de Mitt Romney, estampada com a frase "Vamos Devolver o
Branco à Casa Branca". Mas eles dizem, também, que Obama é disciplinado,
obrigando-se a não reagir, porque fazê-lo poderia facilmente provocar reações
contrárias indesejadas.
Mesmo quando Newt
Gingrich o descreveu como "presidente dos tíquetes-alimentação", nas
primárias republicanas, o máximo que Obama fez foi lançar um olhar cheio de
significado para seus confidentes, como se dissese "não vou dizer nada,
mas já estou dizendo", comentou um assessor.
Aos negros que o
acusam de não ser agressivo na questão racial, Obama responde: "Não sou o
presidente da América Negra. Sou o presidente dos Estados Unidos da
América."
Na primeira reunião
de seus maiores doadores de campanha, no ano passado, alguns doadores negros
ficaram consternados quando funcionários distribuíram fichas com tópicos sobre
as conquistas obtidas pela administração Obama em favor de grupos diversos:
mulheres, judeus, gays e lésbicas. Mas não havia ficha para os afro-americanos.
Pouco antes de sua
posse, em 2009, Barack Obama levou sua família para conhecer o Memorial
Lincoln. "Primeiro presidente afro-americano... é bom que você seja
bom", disse Malia Obama, então com 10 anos, a seu pai, que relatou o caso
mais tarde.
Apesar de toda a
cautela de Obama, ele está numa missão, dizem seus assessores: mudar os estereótipos
relativos aos afro-americanos, incentivando, por exemplo, realizações de negros
na ciência e na engenharia.
O professor de
direito em Harvard Charles J. Ogletree disse que Obama sabe que o próximo
candidato presidencial negro poderá ser avaliado segundo o desempenho dele,
Obama.
Um assessor da Casa
Branca falou que o desejo de Obama de ser reeleito é em parte pelo fato dele
ser o primeiro presidente negro: "é tão implícito que é como a
respiração".
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