Joca Souza Leão
jocasouzaleao@gmail.com
O
último pingo era da cueca. Era. Não é mais. Agora é da toalhinha de papel.
Antigamente, por maior que fosse o cuidado e empenho, não tinha jeito, o último
pingo era dela. Ou, pior, da calça. Próximo à braguilha. Aí, meu, não tinha
como disfarçar. E pra não passar por mentiroso, além de mijão, melhor não dizer
que respingou da pia.
Mas, até que
fim, graças!, aleluia!, os bons restaurantes, lanchonetes e barzinhos do Recife
agora têm banheiros masculinos decentes. Limpos, limpíssimos. Alguns, um luxo.
Ar-condicionado e tudo. Pias, torneiras e espelhos arretados, balcão de
granito, fio dental, antiséptico bucal, sabonete cheiroso... e elas, as
toalhinhas especiais ao lado de cada mictório. Macias e absorventes. Agora, só
pinga na cueca ou na calça se o cabra for demente.
É raro, raríssimo, inventarem essas coisas pra
gente, homens. Pras mulheres, tudo. Pra gente, nada. Pra elas, vibrador. Pra
gente, boneca inflável. E tinta pra cabelo? Pra mulher, tinta boa e de tudo
quanto é cor. Tem mulher de cabelo verde que a gente jura que ela nasceu assim
(em marte, claro). Pra homem, tinta ruim
e só duas cores: acaju e preto-graúna. O cara vem na esquina e todo mundo já
sabe qu’ele pinta o cabelo. Um horror! Peruca, então, nem se fala. Parece
chapéu de cabelo.
“E o Viagra?”,
clamarão elas em coro. “Tão reclamando de quê?” Ok. Reconheço. Em matéria de
invenção, deixa o silicone no chinelo. Mas, também, convenhamos, ao contrário
do pênis disfuncional, peito pequeno tem função. E encanto.
A primeira taça criada para beber champanhe teve como
inspiração e molde sabe o quê? Isso! Um peito. O seio de Madame Pompadour. Pequeno.
E não por acaso, mas justo por isso, mereceu a homenagem de Luís XV. Ao
contrário do Viagra, que foi inventado por puro e absoluto acaso.
O inglês Peter
Ellis, pai do Viagra, não sentou o rabo na banqueta de um laboratório e disse
“vou inventar um antibrochante”, não. Tava pesquisando a sildenafila (princípio
ativo do Viagra) para tratar angina e hipertensão. Sur-pre-sa! E os pacientes
do doctor Ellis foram correndo, alegrinhos
e eréteis, contar-lhe sobre o surpreendente efeito colateral da sildenafila.
Bendita surpresa! Bendita e providencial surpresa! Reconhecemos. E agradecemos.
Afinal, doctor Ellis trabalhou duro.
A propósito de
banheiro limpinho e bacana, mote desta crônica, lembrei de uma história que
Antônio Callou me contou (e que tá no meu livro Pano rápido). Aconteceu com ele em Remanso, sertão da Bahia. O dono
do único hotel e restaurante de lá era conhecido por Revestrés. Pois bem,
Callou foi ao banheiro do restaurante. Impossível. Milhões de moscas. “Seu
Revestrés, o senhor já viu como o banheiro tá de mosca?” “Ah!, doutor, o senhor
foi na hora errada. Vá na hora do almoço que elas vão estar todas aqui, no
restaurante.”
Mas, antes que
eu perca o fio da meada, voltemos à toalhinha do último pingo. Você acha que
foi um homem que a inventou? Duvido! Homem ia logo dizer “isso é coisa de veado”.
Foi uma mulher, claro. A pobre não aguentava mais passar pelos constrangimentos
que o marido lhe causava. “De novo?” “Pois é, minha filha, balancei, balancei,
mas não adiantou.” Da vez seguinte, ela teve a brilhante ideia: “Amor, leve meu
lencinho pra enxugar o último o pingo.” Pronto!, tava inventada a toalhinha.
Invenção pra
homem nenhum botar defeito. Minha candidata ao Nobel de para o ano. Só não sei
Nobel de quê. O leitor arrisca um palpite?
Joca Souza Leão é cronista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário