terça-feira, 16 de outubro de 2012

Souza Leão: O último pingo


                                          
                                        O último pingo

                                                                                       Joca Souza Leão
                                                                                       jocasouzaleao@gmail.com

 
            O último pingo era da cueca. Era. Não é mais. Agora é da toalhinha de papel. Antigamente, por maior que fosse o cuidado e empenho, não tinha jeito, o último pingo era dela. Ou, pior, da calça. Próximo à braguilha. Aí, meu, não tinha como disfarçar. E pra não passar por mentiroso, além de mijão, melhor não dizer que respingou da pia.

Mas, até que fim, graças!, aleluia!, os bons restaurantes, lanchonetes e barzinhos do Recife agora têm banheiros masculinos decentes. Limpos, limpíssimos. Alguns, um luxo. Ar-condicionado e tudo. Pias, torneiras e espelhos arretados, balcão de granito, fio dental, antiséptico bucal, sabonete cheiroso... e elas, as toalhinhas especiais ao lado de cada mictório. Macias e absorventes. Agora, só pinga na cueca ou na calça se o cabra for demente.

 É raro, raríssimo, inventarem essas coisas pra gente, homens. Pras mulheres, tudo. Pra gente, nada. Pra elas, vibrador. Pra gente, boneca inflável. E tinta pra cabelo? Pra mulher, tinta boa e de tudo quanto é cor. Tem mulher de cabelo verde que a gente jura que ela nasceu assim (em marte, claro).  Pra homem, tinta ruim e só duas cores: acaju e preto-graúna. O cara vem na esquina e todo mundo já sabe qu’ele pinta o cabelo. Um horror! Peruca, então, nem se fala. Parece chapéu de cabelo.

“E o Viagra?”, clamarão elas em coro. “Tão reclamando de quê?” Ok. Reconheço. Em matéria de invenção, deixa o silicone no chinelo. Mas, também, convenhamos, ao contrário do pênis disfuncional, peito pequeno tem função. E encanto.

A primeira taça criada para beber champanhe teve como inspiração e molde sabe o quê? Isso! Um peito. O seio de Madame Pompadour. Pequeno. E não por acaso, mas justo por isso, mereceu a homenagem de Luís XV. Ao contrário do Viagra, que foi inventado por puro e absoluto acaso.

O inglês Peter Ellis, pai do Viagra, não sentou o rabo na banqueta de um laboratório e disse “vou inventar um antibrochante”, não. Tava pesquisando a sildenafila (princípio ativo do Viagra) para tratar angina e hipertensão. Sur-pre-sa! E os pacientes do doctor Ellis foram correndo, alegrinhos e eréteis, contar-lhe sobre o surpreendente efeito colateral da sildenafila. Bendita surpresa! Bendita e providencial surpresa! Reconhecemos. E agradecemos. Afinal, doctor Ellis trabalhou duro.

A propósito de banheiro limpinho e bacana, mote desta crônica, lembrei de uma história que Antônio Callou me contou (e que tá no meu livro Pano rápido). Aconteceu com ele em Remanso, sertão da Bahia. O dono do único hotel e restaurante de lá era conhecido por Revestrés. Pois bem, Callou foi ao banheiro do restaurante. Impossível. Milhões de moscas. “Seu Revestrés, o senhor já viu como o banheiro tá de mosca?” “Ah!, doutor, o senhor foi na hora errada. Vá na hora do almoço que elas vão estar todas aqui, no restaurante.” 

Mas, antes que eu perca o fio da meada, voltemos à toalhinha do último pingo. Você acha que foi um homem que a inventou? Duvido! Homem ia logo dizer “isso é coisa de veado”. Foi uma mulher, claro. A pobre não aguentava mais passar pelos constrangimentos que o marido lhe causava. “De novo?” “Pois é, minha filha, balancei, balancei, mas não adiantou.” Da vez seguinte, ela teve a brilhante ideia: “Amor, leve meu lencinho pra enxugar o último o pingo.” Pronto!, tava inventada a toalhinha.

Invenção pra homem nenhum botar defeito. Minha candidata ao Nobel de para o ano. Só não sei Nobel de quê. O leitor arrisca um palpite?
 
Joca Souza Leão é cronista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário