-- Valeeeeeeeeu!
-- Depois de dar essa na ferradura, agora vamos dar uma no cravo, né?
-- Como assim?
-- Tem um bispo babaca lá em Limoeiro do Norte; vamos dar a Comenda pelos Direitos Humanos Dom Hélder Câmara pra ele, pra desviar a atenção da plebe ignara?
-- Vamoooooos!
Tem gente que acha que as coisas não são resolvidas assim no Congresso Nacional. Mas são. Assim mesmo. (Ou – vá lá! – quase assim). Nesse caso, esqueceram apenas de um pequeno detalhe: combinar com o bispo. Aliás, dois: o bispo não era babaca.
Dom Manuel Cruz, bispo emérito de Limoeiro do Norte, Ceará. “O povo brasileiro ainda os considera parlamentares? Quem assim procedeu não é parlamentar. É para lamentar. Esta comenda não representa Dom Hélder. Desfigura-o, porém. Só me resta uma atitude: recusá-la. Ela é um atentado, uma afronta ao povo brasileiro. Os aumentos de salário deveriam guardar sempre a mesma proporção que o salário-mínimo e a aposentadoria. O que aconteceu foi um atentado contra os direitos humanos de nosso povo.”
Dom Manuel Cruz, bispo emérito de Limoeiro do Norte, Ceará. “O povo brasileiro ainda os considera parlamentares? Quem assim procedeu não é parlamentar. É para lamentar. Esta comenda não representa Dom Hélder. Desfigura-o, porém. Só me resta uma atitude: recusá-la. Ela é um atentado, uma afronta ao povo brasileiro. Os aumentos de salário deveriam guardar sempre a mesma proporção que o salário-mínimo e a aposentadoria. O que aconteceu foi um atentado contra os direitos humanos de nosso povo.”
Que figura, esse Dom Manuel! Nada demais, à primeira vista. Um nordestino, apenas. Um severino (entre muitos severinos, que é nome de santo de romaria), como no poema de João Cabral. Baixinho e mirrado, já entrado nos setenta. Mas de um riso e uma cara de franqueza irresistível. O hábito, por certo, não faz o monge. Mas, no caso de Dom Manuel, o colarinho eclesiástico lhe conferia (ou acentuava) uma aura angelical, em flagrante contraste com a figura dos senadores, sentados à mesa que presidia a sessão e no plenário do Senado.
Se é que existe céu (e Deus queira que exista), Dom Hélder tá por lá e assistiu à peleja do seu conterrâneo de camarote. E gostou do que viu. Mais, achou arretado. Quem sabe, não deu até uns pitacos? (O Dom bem que era chegado a um joguinho de palavras, tipo essas usadas por Dom Manuel, “parlamentar” e “para lamentar”).
De minha parte, espero que os senadores e deputados de Pernambuco (meus candidatos, pelo menos) sejam coerentes e deem o exemplo assim que assumirem os seus mandatos: 5% de aumento (em relação à legislatura anterior), igual ao salário mínimo. Qualquer coisa diferente disso pode até ser – e é – legal. Mas, na minha opinião, não é moral. (E, nesse caso, que não me venham depois cagar regras sobre o que é ético e moral).
Quando a gente vê um cara como Dom Manuel Cruz, fica até animado. Eita bispinho pai d’égua! – que é assim que se diz de quem se tem admiração, naqueles sertões do Ceará.
Pois bem, que surjam, por toda parte, mais e mais brasileiros capazes de se indignar, renunciar, protestar e botar a boca no trombone. São meus votos, para que o Brasil se torne um país melhor e mais justo. Em 2011. E sempre.
Pois bem, que surjam, por toda parte, mais e mais brasileiros capazes de se indignar, renunciar, protestar e botar a boca no trombone. São meus votos, para que o Brasil se torne um país melhor e mais justo. Em 2011. E sempre.
Notas: 1ª- A Marcha da Insensatez (de Troia ao Vietnã) é título de um bom livro da escritora americana Barbara Tuchman, de 1984. 2ª- O cronista entra em férias hoje. Volta ao batente no primeiro sábado de fevereiro, dia 5. Aos leitores, um ótimo ano.
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