segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Katorga,

De Mário Hélio

há uma hora exata a morte esguia
passou nesta rua e deixou um recado:
para desocuparmos o sobrado,
sem reação, nenhuma valentia.
éramos em seis. um que obedecia
sempre a ordens severas - o ordenado
da vida - fugiu logo, bom criado
em meio ao temor do meio que temia.
há uma hora enfim? não sei, havia
o caminho que nunca é palmilhado.
me ponho no centro calado e cansado
medonho e sem rumo, eu choro agonia.
seis c+r+u+z+e+s+ na estrada a morte que+ria.
a morte é o ocaso ou acaso aguardado.
um outro que não queria ser herói,
queria ser só seu, com liberdade,
segundo as informações da verdade
igualmente outrossim também se foi.
transhistória que corres e corróis,
este era gêmeo meu. que crueldade
há em cada um que a vida invade
que quando não cega nem nos mata, dói?
fechou todas as frestas um terceiro
e misteriosamente sumiu.
perdemos mais um nosso companheiro
quando uma das vigas da casa ruiu.
o que ficou comigo era um cordeiro.
lendo um pouco pra mim me distraiu
com os versos de um poeta ligeiro.
este era da morte o mensageiro.
bebeu (que lhe dei) algo caseiro,
fechou olhos e sonhos e dormiu.
só eu fiquei com a minha sombra dura+
como a pedra que sobrou, como os duros
comungam com os concretos puros+
como? em segredo, co+a+gula a amargura+
como posso ser feliz à procura
dos mortos amontoados nos monturos
onde dormem paliúros, tisanuros
que a vida sem piedade enclausura?
o medo é o que me restou de ternura+
a vida acre+dita seus rumos e muros
e nós (os mais sós) sonhamos no escuro.

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