sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Doir poemas para duas vozes, de Pietro Wagner, Recife, PE

escutai
aqui não é mais agora
não há mais pedra ruína ou escuro
dos tempos e do vermelho desta casa
escutai
aqui é mais ontem que a história
a casa que agora vedes neste não do espaço
é palavra
escutai

PARA ULISSES


porque tu fazes do meu nome uma casa
e principias nos meus dedos versos mais amenos
porque serás das minhas palavras nervo nunca maresia
saúdo tua vinda com o cântico de quem tarda


ANUÁRIO

quando teu nome navegou as horas
doze aves levantaram as asas
doze ondas saíram pelos oceanos
doze ventos curvaram os matagais
o sol foi tua pátria e minha mão teu sol

porque és pássaro
cada som nubla o dia
porque és terra
inventamos marés
porque és verbo
teu nome está inteiro sol


SONETO AUSENTE

nem todas eram sonolentas vaidades de outono
nem mesmo era outono aqueles dias
havia corpos mutantes no ar da estação que não havia
depositando som na linha curva dos sentidos

árvores amaciando o escuro imóvel das telhas
deitando silêncio na casa de si mesma vazia
nem um único sopro de existência
vagas noites de nuvens argentinas

corpos mortos no vagão do dia
o trem imóvel à espera dos trilhos
na cabeça um olho que não vê

na mão a caneta esculpindo o branco
na mente mortas satisfações e nostalgias
o poema acaba ausente dele mesmo

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