quarta-feira, 4 de julho de 2012

SEREJO: O livro e a leitura

 Por: Vicente Serejo

O brasileiro não gasta com livro. A constatação é antiga, mas a persistência da realidade denuncia o rosto verdadeiro do nosso leitor. Mas há dados informais mais recentes do que a pesquisa feita em 2009, agora coletados pela empresa de consultoria da GfK. Se naquela época os números apontavam uma despesa por pessoa de R$ 11 reais/ ano, e se você acha alarmante, tem mais: não é dinheiro que falta no bolso das famílias. É falta de hábito de leitura, mesmo que se considere elevado o preço médio do livro.

A GfK é uma empresa de origem alemã, segundo matéria divulgada pelo Estado de S. Paulo e sua especialidade é a observação dos mercados de varejo em vários setores. Hoje já analisa trezentos grupos de produtos no Brasil e a partir deste ano vai incluir a venda de livros. Com experiência na observação de vendas – de máquinas de lavar a brinquedos – a GfK hoje já analisa os mercados livreiros da França, Itália, Alemanha e Portugal. Na América Latina, além do Brasil, vai analisar os livros no Chile e Argentina.

Nas estimativas da empresa que desde o início do ano observa o cliente das livrarias brasileiras, o mercado tem uma distribuição concentrada: dez editoras respondem por 26% do volume de vendas entre quinhentas editoras ativas, das médias às pequenas. Mesmo assim, o mercado livreiro no Brasil vive hoje uma fase de comprovada estabilidade. Na Europa, apenas a Bélgica tem um crescimento positivo de 2,5% contra marcas negativas da Suíça, Itália e Espanha, com quedas que oscilam entre seis e sete por cento.

Estatisticamente, não gostamos de ler, Senhor Redator. Não gostamos por uma razão bem simples e que nunca foi segredo: não formamos o hábito no âmbito da família e é exatamente assim, desabituados, que chegamos à escola. E lá não encontramos a leitura como iniciação indispensável a qualquer processo educativo. Na verdade, o aluno pode até sair da escola com um bom letramento, o indispensável como instrumental, mas nem sempre com um hábito formado e gerador de uma eficiente compreensão do texto.

Uma pesquisa na escola pública mostrou que da primeira à quarta série o aluno domina o ato de escrever e ler. Da quarta até a oitava, pode dominar, mas é baixo o nível de eficiência. Quando conclui o ensino fundamental e profissionaliza-se, formal ou informalmente, se é o caso, para o exemplo não exigir curso superior do grande contingente, sua leitura é exercida no âmbito restrito de suas necessidades. E longe de uma prática de fruição ou, pior, até como uma visão crítica com boa capacidade de formulação.

Há uma grande massa de letrados no Brasil, em todos os níveis, fora das livrarias. Uma despesa com livro de R$ 11 reais por pessoa/ano já demonstra o quanto é reduzido o contingente de compradores num Brasil que tem quinhentas editoras. De janeiro a maio deste ano, segundo a GfK, os livros de ficção – teoricamente uma leitura de entretenimento, incluindo-se o best-seller – representam 22,9% contra 61% dos livros de não-ficção. Mas tem um dado promissor: o livro infantil já chega a 16% das vendas.

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