O
brasileiro não gasta com livro. A constatação é antiga, mas a persistência da
realidade denuncia o rosto verdadeiro do nosso leitor. Mas há dados informais
mais recentes do que a pesquisa feita em 2009, agora coletados pela empresa de
consultoria da GfK. Se naquela época os números apontavam uma despesa por
pessoa de R$ 11 reais/ ano, e se você acha alarmante, tem mais: não é dinheiro
que falta no bolso das famílias. É falta de hábito de leitura, mesmo que se considere
elevado o preço médio do livro.
A
GfK é uma empresa de origem alemã, segundo matéria divulgada pelo Estado de S.
Paulo e sua especialidade é a observação dos mercados de varejo em vários
setores. Hoje já analisa trezentos grupos de produtos no Brasil e a partir
deste ano vai incluir a venda de livros. Com experiência na observação de
vendas – de máquinas de lavar a brinquedos – a GfK hoje já analisa os mercados
livreiros da França, Itália, Alemanha e Portugal. Na América Latina, além do
Brasil, vai analisar os livros no Chile e Argentina.
Nas
estimativas da empresa que desde o início do ano observa o cliente das
livrarias brasileiras, o mercado tem uma distribuição concentrada: dez editoras
respondem por 26% do volume de vendas entre quinhentas editoras ativas, das
médias às pequenas. Mesmo assim, o mercado livreiro no Brasil vive hoje uma
fase de comprovada estabilidade. Na Europa, apenas a Bélgica tem um crescimento
positivo de 2,5% contra marcas negativas da Suíça, Itália e Espanha, com quedas
que oscilam entre seis e sete por cento.
Estatisticamente,
não gostamos de ler, Senhor Redator. Não gostamos por uma razão bem simples e
que nunca foi segredo: não formamos o hábito no âmbito da família e é
exatamente assim, desabituados, que chegamos à escola. E lá não encontramos a
leitura como iniciação indispensável a qualquer processo educativo. Na verdade,
o aluno pode até sair da escola com um bom letramento, o indispensável como
instrumental, mas nem sempre com um hábito formado e gerador de uma eficiente
compreensão do texto.
Uma
pesquisa na escola pública mostrou que da primeira à quarta série o aluno
domina o ato de escrever e ler. Da quarta até a oitava, pode dominar, mas é
baixo o nível de eficiência. Quando conclui o ensino fundamental e profissionaliza-se,
formal ou informalmente, se é o caso, para o exemplo não exigir curso superior
do grande contingente, sua leitura é exercida no âmbito restrito de suas
necessidades. E longe de uma prática de fruição ou, pior, até como uma visão
crítica com boa capacidade de formulação.
Há
uma grande massa de letrados no Brasil, em todos os níveis, fora das livrarias.
Uma despesa com livro de R$ 11 reais por pessoa/ano já demonstra o quanto é
reduzido o contingente de compradores num Brasil que tem quinhentas editoras.
De janeiro a maio deste ano, segundo a GfK, os livros de ficção – teoricamente
uma leitura de entretenimento, incluindo-se o best-seller – representam 22,9%
contra 61% dos livros de não-ficção. Mas tem um dado promissor: o livro
infantil já chega a 16% das vendas.
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