Sempre
achei, Senhor Redator, que sendo um país bonito e continental, cheio de
riquezas naturais e com uma diversidade cultural encantadora, o Brasil seria
sempre muito cobiçado pelos olhos gulosos dos estrangeiros. Não é à toa que há
cinco séculos levam tudo: Pau Brasil, ouro, diamante, pimenta do reino e até
nossas mulheres desejadas pelo calor sensual da carne morena nascida de uma
bela mistura de raças que Gilberto Freyre viu muito cedo e avisou. Não é fácil
viver sob esses riscos.
Daí
os problemas diplomáticos que de vez em quando pousam nas águas quietas daquele
lago do Palácio do Itamaraty, em Brasília, e onde uma bela flor de mármore de
Carrara fere a calma do jardim. Mas, agora a coisa foi além dos limites da diplomacia
normalmente de atenção voltada para as relações políticas e econômicas. Chegou
a notícia de que é preciso fazer alguma coisa pelas mulheres brasileiras que se
apaixonaram pela beleza dos homens indianos, e foram embora a procura de um
grande amor.
Dirá
você, leitor, e não lhe tiraria a razão, que a paixão é assim mesmo. Muito mais
quando nasce de um último e súbito instante. E seria assim mesmo se não
tivesse, segundo nossos experientes observadores, um motivo singular: a novela
‘Caminho das Índias’, da Rede Globo, de 2009. Foi ali que tudo começou. Ora,
começou o que os graves diplomatas, nos seus relatórios impecavelmente limpos
de uma adjetivação capaz de sujar de pessoalidade ou ferir a isenção, chamam de
‘namoros malogrados’.
Compreendo, mas discordo, Senhor Redator. Não
são apenas namoros malogrados o que vem acontecendo no coração das mulheres
brasileiras, geralmente em torno dos quarenta anos, vítimas da solidão a
corroer de monotonia as suas vidas. Não é assim, como se fosse uma Síndrome de
Raj, o nome do personagem desempenhado pelo ator Rodrigo Lombardi na novela
‘Caminho das Índias’, por mais engraçado que tenha sido ouvir do diretor da
Divisão de Assuntos Consulares do Itamaraty, em Brasília.
Hoje as pobres vítimas do amor já são até
agora mais de trinta brasileiras com pedidos de ajuda à Embaixada do Brasil na
Índia. E são sinceras: os rapazes são sempre mais jovens que elas, entre 20 e
30 anos, se tanto, com os seus retratos no Orkut e no Facebook e prometendo o
néctar do amor de que tanto sentem falta neste Brasil com excesso de mulheres
sem namorados. Por isso elas vão. Como iriam todas as mulheres do mundo e não
apenas as brasileiras. O amor tem mistérios encantadores, quem não sabe?
É nessa hora, Senhor Redator, que faz falta não
ser deputado federal ou senador para vencer as águas quietas do lago que separa
o Palácio do Itamaraty das brasileiras abandonadas na Índia só porque um dia
sonharam com um grande amor. E sonharam de verdade. Na hora mais difícil. Ali
por volta dos quarenta anos, quando os desejos de amor parecem pardos, mas
ardem como fogo no coração das mulheres. E há, Senhor Redator, – pra que negar?
– o medo que a triste solidão chegue como um adeus…
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