sexta-feira, 13 de julho de 2012

Jairo Lima: Incêndio

INCÊNDIO

 Jairo Lima



E então me entregaste em fragmentos

 Umas lonjuras de mar, com suas velas e ventos;



E um gélido sangue de luna

 Derramaste sobre o meu telhado;



Ainda te vi recitar folhas e pedras

 E deitar a maldição

 Que abriu a cortina da madrugada

 E trouxe em cena para as águas dos meus olhos

 O incêndio de um sol assassinado



Isto foi ontem: hoje sei

 que tua vingança

 Esqueceu um caminho

 Entre o crime e a memória:

 Um fio esticado

 Uma palavra inascida

 Um choro macio e claro

 Um regato incerto

 Um relato truncado

 Uma partícula viva da morte

 Um estar agora sobre a sílaba de ontem

 Imóvel, insone, transitória

 Como uma faca de pé

 Ou um sangue deitado sobre lagos

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