Jairo Lima
A Fernando Monteiro
vi o sangue e o pus de
Anna Akhmátova
celebrados em duras taças de granito
e ali estava um corpo de suores
feito poema
transformado em mito
ou salmo de escárnio e maldições ferozes
ou ainda em memória de gritos
vi a grande mordaça cujo
número é vinte e dois
jogada inútil num monte de pó
para que um canto, uma blasfêmia
fosse buscar sua têmpera
nas próprias fornalhas do sol
ah, estes clarões de
sangue
como iluminam
e rasgam
as rimas, os risos, os guizos
a sensibilidade em febre, assustada
de minúsculos passarinhos
que negam o trovão da Grande Mágoa
e se entretêm em cantar pequenas insolências
ritmadas
em versos ruiz
vi, de fato, a foto
ensangüentada
enclausurada num sacrário ateu
e vi escrito em suas carnes devastadas
queste parole di colore oscuro
que dante um dia no inferno viu
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