quinta-feira, 19 de julho de 2012

Jairo Lima - A foto que eu vi

A foto que eu vi
 Jairo Lima

 A Fernando Monteiro


vi o sangue e o pus de Anna Akhmátova

 celebrados em duras taças de granito

 e ali estava um corpo de suores

 feito poema

 transformado em mito

 ou salmo de escárnio e maldições ferozes

 ou ainda em memória de gritos



vi a grande mordaça cujo número é vinte e dois

 jogada inútil num monte de pó

 para que um canto, uma blasfêmia

 fosse buscar sua têmpera

 nas próprias fornalhas do sol



ah, estes clarões de sangue

como iluminam

 e rasgam

 as rimas, os risos, os guizos

 a sensibilidade em febre, assustada

 de minúsculos passarinhos

 que negam o trovão da Grande Mágoa

 e se entretêm em cantar pequenas insolências

ritmadas

 em versos ruiz



vi, de fato, a foto ensangüentada

 enclausurada num sacrário ateu

 e vi escrito em suas carnes devastadas

 queste parole di colore oscuro

 que dante um dia no inferno viu

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