sexta-feira, 27 de julho de 2012

Poroca: When I'm sixty four

José Carlos L. Poroca
Executivo do segmento shopping centers
jcporoca@uol.com.br

Essa frescura de ficar colocando títulos em inglês nos textos de meu português ruim deve ser fruto de uma das daquelas fases sorumbáticas das manhãs de segunda, quando, no dia anterior, o time perdeu ou venceu sem convencer. Se a perda foi por mau desempenho e resultou em goleada, vem à boca um gosto de acre misturado com azedo. Não é só. Todas as vezes que vejo uma vitória suada do meu time, pergunto de imediato sobre a próxima para minha bola de cristal e ela responde, bocejando: - vai perder! Se for questionada sobre os números da megasena, a bola engasga, tosse, espirra, fica apitando incessantemente e emudece. Injusto.

Resultados de jogos à parte, sempre associei o humor ao tempo: tempo bom, melhor o humor; tempo ruim, pinta o grumf. A percepção coincide com o ar sombrio e ausência de escracho no temperamento das pessoas dos chamados países frios. Deve ser muito chato (não é a palavra que queria usar) passar meses a fio com roupas pesadas e sem ver um piscar de olho do sol. Se vier com o peso de 64 anos sobre o casaco e as botas, o peso aumenta e o tempo fecha ad eternum.

O título é o de uma música composta por aquela dupla de Liverpool que mexeu com os pés e cabeça de muita gente. Reapareceu há poucos dias num site potiguar e resolvi fazer o autoquestionamento imaginando a aproximação daquele número gigante (64), numa cena parecida com a da assustadora boca do tamanho de um jacaré de 5m que me perseguia, num sonho. O fato de ser um admirador de bocas bonitas não dá o direito a qualquer uma de querer me engolir ou de obrigar este atleta a colocar a língua para fora de tanto correr. A música tem uma sonoridade agradável, boa batida; a letra traz um traço engraçado principalmente para quem tem menos de trinta (cadê o Marcos Valle?). Mas, cá pra nós, para quem já percorreu 50% da linha, coloca o dedo na ferida ao falar de temas que mexem com a vaidade masculina, como perda de cabelo. Do lado feminino, a letra diz algo sobre tricotar e fazer comida para o "velho".

O título deste texto está incompleto, falta algo. Não me refiro ao uso desnecessário da língua inglesa na terra que pariu Machado de Assis. Não é o trazer à tona uma música feita há mais de 40 anos que não tem nada de extraordinário. Também não é exclusivamente a melancolia de um dia chuvoso associado ao dia da semana. Acho que falta um ponto de interrogação. Com o uso dele, surge a oportunidade de fazer a pergunta aos meus botões e a quem dorme ao lado deles.

 A verdade é uma só: vamos ter, daqui a pouco, muitos brasileiros de 64 anos. Nada de tricô ou crochê, nada de ficar olhando jardins para matar o tempo. Os tempos são outros neste Brasil que ostenta a 7a economia do Planeta. Tá difícil, mas quero uma aposentadoria com estilo parecido com o do cara daquela outra música que falava sobre campo, sobre plantar e colher discos, livros, não sei lá mais o quê. E tomando umas de vez em quando, afinal, ninguém é de ferro.

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