segunda-feira, 23 de julho de 2012

Menina de 4 anos sofre racismo na escola

A Polícia Civil de Minas Gerais abriu inquérito para apurar denúncia de racismo contra uma menina de quatro anos em Contagem (região metropolitana de Belo Horizonte). Segundo informações do boletim de ocorrência, a menina foi xingada de “negra e preta, horrorosa e feia” pela avó de um colega de escola com quem a garota dançou quadrilha.

O delegado Juarez Gomes, da 4ª Delegacia de Contagem, disse que a mulher negou ter ofendido a menina. Ainda de acordo com o delegado, durante depoimento prestado nesta segunda-feira (23), Maria Pereira da Silva teria se referido à garota como “a moreninha” e dito que nunca a chamou de horrorosa.

Segundo o boletim de ocorrência, no último dia 7 de julho, a menina participou da dança no Centro de Educação Infantil Emília. No dia 10, a avó do garoto, Maria Pereira da Silva, invadiu a escola querendo saber por que deixaram uma negra dançar quadrilha com o neto dela. De acordo com a mãe da garota, Fátima Viana Souza, mesmo ouvindo as ofensas, a menina não reagiu e foi cercada pelos colegas sem entender o que estava acontecendo.

A professora Denise Cristina Pereira Aragão denunciou o caso para a diretoria da escola. Incomodada com a situação e com a falta de ação da diretora, pediu demissão e procurou a família da menina para contar o que havia acontecido.

Segundo a mãe, a menina passou mal no dia seguinte aos xingamentos, porque ficou muito abalada com as ofensas. A mãe registrou o boletim de ocorrência e buscou apoio jurídico na organização não governamental SOS Racismo.

Suspeita de ofender a aluna da escola, Maria Pereira chegou de surpresa à delegacia nesta segunda. Ela estava intimada para prestar depoimento amanhã, mas compareceu sozinha à unidade policial por volta das 16h. O depoimento durou cerca de uma hora. Segundo o delegado, ela relatou que no dia 10 esteve na escola e foi abordada pela professora que a acusou de ter ofendido a menina no dia da festa junina. As duas discutiram e, para impedir uma confusão maior, a diretora pediu para que saísse da escola.

Também nesta segunda, a mãe e a professora da menina foram ouvidas. Conforme o delegado, os depoimentos foram muito parecidos com os relatos do boletim de ocorrência.

A diretora da escola, Joana Reis Belvino, prestou depoimento na tarde de hoje. Segundo o delegado, ela não pode ser responsabilizada criminalmente pelo que ocorre nas dependências da escola. O advogado da mãe da criança, Amadeus Carlos de Miranda Pimenta, disse que vai processar a diretora e a instituição de ensino pedindo uma reparação por danos morais à menina. A diretora não falou com a imprensa.

Injúria

O delegado que investiga o caso deve autuar a mulher que gritou com a criança por injúria. “Eu acho que vai ser injúria qualificada. Não acho que encaixa no racismo. Para configurar o racismo, o problema teria que ter partido, por exemplo, da diretora da escola se impedisse o acesso da menina no ato da matrícula ou na própria dança durante a festa”, afirmou no delegado.

Para autuação de Maria Pereira, o delegado deverá tomar como base o parágrafo 3º do artigo 140 do Código Penal, que dispõe sobre a injúria preconceituosa. O crime se configura quando há ofensa à honra subjetiva mediante utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.

Os advogados de Fátima Viana vão tentar provar o racismo trazendo ao caso novas testemunhas que disseram ter presenciado Maria Pereira tentando impedir a dança entre o neto e a menina negra.

A defesa da mãe diz que exige que o delegado autue a suspeita levando em conta o artigo 20 da Lei 7.716, que define como crime praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

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