quarta-feira, 4 de julho de 2012

POROCA: Tempo dos maduros

José Carlos L. Poroca
Executivo de Shoppings Centers
jcporoca@uol.com.br

Um episódio que rendeu muitas páginas de jornais e comentado à época por dois entre três brasileiros, foi a suposta intervenção de autoridade para escalar um jogador na seleção brasileira de 70. O jogador era o Dario, excepcional goleador, o que “parava no ar como um beija-flor”. O técnico caiu (não deve ter sido só por isso) e Dario foi convocado e, se não estou enganado, ficou no banco. Não quero entrar no mérito das qualidades – e são muitas – do artilheiro, mas, convenhamos, a escalação de qualquer atleta para a seleção que representa um país deve passar por critérios bem distantes da “simpatia de fulano” ou porque “beltrano quer”. A gente sabe que nem sempre se cumpre o beabá, mas, em tese, é assim que deve funcionar.

A colocação neste espaço de um episódio ocorrido há mais de 30 anos não é à toa e não tem relação com a Copa de 2014. Mas tem a ver com Brasil. Já vou me adiantando para dizer que sou brasileiro e, pelo que sei, com ascendência negra, índia, portuguesa e espanhola. No meio do caminho deve ter entrado na história alguns mulatos e mamelucos, sem afastar a possibilidade de ter um tio distante de sangue oriental. Em suma, mais brasileiro impossível. Não posso esquecer de dizer que o sobrenome dinamarquês (ou será norueguês?), afasta a possibilidade de linhagem nobre, como os Alcântaras, os Braganças e os Bourbons.

Plebeu, de pele morena e morando longe, sou um daqueles brasileiros que não podem esconder a sua origem. Como tal, fico muito à vontade para comentar sobre essa história de cotas, de qualquer espécie: raciais, sociais, e tudo o mais. E fico ainda mais à vontade para dizer: sou contra. Quaisquer alegações que se façam para justificar a reserva de vagas para grupos assim ou assado são como o interior dos cocos: pouco recheio. As alegações que essas reservas devem ser utilizadas como forma de se corrigir erros do passado é o mesmo argumento utilizado pela igreja de que nascemos pecadores pelos erros, até hoje mal explicados, de Adão e Eva.

A implantação da política de cotas esconde um problema maior, que é o da existência de um sistema ineficiente nas escolas públicas que não consegue preparar o aluno para o ensino superior. Trabalhar esse sistema exigirá tempo, trabalho e dinheiro. É trabalho para dez, vinte anos, o que certamente contraria interesses de quem está a fim de poder para 2012, 2013, 2014. Sem falar dos arranhões e diminuição de votos, quando a ordem é agradar, a qualquer custo, os cordões azul e encarnado. Implantar a ‘política de cotas’ nas universidades é investir em papéis que vão render poucos dividendos de longo prazo; é o mesmo que substituir a vara e o anzol pelo peixe. Se faltarem peixes, os bons pescadores serão os principais prejudicados. A não ser que apareça um novo santo que possa multiplicar pães, peixes e vagas. Tudo é possível.

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