sábado, 2 de junho de 2012

SEREJO: O Líder

 Por: Vicente Serejo

Não sou de seguir os passos dos rabinos, Senhor Redator. Não sou. Não tenho sequer um pouco de virtude que opere nesta alma tão pequena o milagre da glória. Mas os rabinos, às vezes, caem diante dos olhos da gente. Como caiu outro dia o pequeno ensaio de Nilton Bonder – ‘O crime descompensa’. Talvez tenha sido por conta de crime, palavra muito em voga na vida e nos jornais. E fui lendo, cavando aqui e ali uma novidade, até que lá para as páginas tantas dei de cara com o que ele chama de tabela do humano.

Tenho minhas desconfianças que a grandeza humana possa caber numa tabela. Mas quem sou eu, Senhor Redator, para discordar de um rabino especialista nas cabalas do amor, do poder e do dinheiro. Só anoto uma coisa e outra, curando no rastro como um rastejador de abelhas. Nada de esquemático fascina a alma deste cronista de província. Aprendi com o tempo que os esquemas, filhos bastardos do tecnicismo, empobrecem a visão. Melhor é vê-la romper os limites do apenas comum, o olho a saltar sobre os muros.

 Mas, devo confessar que Bonder faz uma observação no seu pequeno ensaio tão forte e inesperada que flagra os tolos, quando avisa: ‘Não confie em ninguém que não seja capaz de assumir suas virtudes e de reconhecê-las’. Para ele, é preciso ter cuidado com os que descambam para o angelical. O pior é tentar ser o que não se pode ser. É intrinsecamente impossível. E dispara como um tiro: quem procura um líder não busca um anjo, mas um símbolo capaz de fecundar no sentimento coletivo um signo da esperança.

Tivemos na história política da segunda metade do século vinte dois símbolos fortes, protetores e provedores: Dinarte Mariz e Aluizio Alves. Ninguém há de negar na personalidade deles o papel másculo no acasalamento com o sentimento feminino das massas. Tão fortes e fecundantes que não escaparam do confronto, afinal eram grandes demais para ficarem juntos e no mesmo lado da uma luta. Foram os pólos contrários de um conflito tão intenso que definiu o modo de pensar e de fazer política aqui no Estado.

 Voltando a Bonder, um líder de verdade não pode ser bonzinho, e, pior, apenas para com os seus, bem-intencionado, mas ineficiente, com mentalidade apenas um pouco mais moderna e menos truculenta do que um Torquemada. Com uma retórica artificial onde os verbos neutralizem-se uns aos outros como se nada dissessem. Nunca incluir entre as qualidades positivas do líder a imposição dos seus argumentos e razões a todas as pessoas, como se ainda fosse possível diante da sociedade esconder um ego gigante.

 Um líder, ensina o rabino, é aquele que ousa, não teme assumir as suas qualidades no sentido de bem praticá-las, que luta em favor daquilo que é seu, que lhe pertence como direito e lhe é legítimo como aspiração. Que não usa a falsa humildade como escudo, não é simplório, não renega as boas qualidades e o brilho do próprio valor. No líder a vaidade se expressa na sua grande capacidade de lutar por sonhos e ideais, consciente de que liderar é conduzir um povo para o bem. Como de fosse uma missão de fé.

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