quinta-feira, 7 de junho de 2012

Poroca: O Beco


José Carlos L. Poroca // Executivo do segmento shopping centers

jcporoca@uol.com.br

Dona Iraci recomendava o andar só ("antes só...") e distância nas discussões que envolvessem três temas palpitantes: política, futebol e religião. Havia outro assunto que recomendava cautela, pela complexidade e pelos mistérios em torno dele. Só direi que começa com a letra 'm', para evitar xingamentos de qualquer ordem a este cristão e, principalmente, à mulher do meu pai, que não merece qualquer tipo de ofensa por desejar o bem do filhote..

Aproveito o ensejo para pedir tardiamente desculpas a quem me deu carinho e atenção até o final da vida, seguindo a velha máxima "mãe é mãe, paca é paca..." e o resto fica por conta dos rimadores. Não segui as lições e vez ou outra descumpro as orientações maternas. Chego a acreditar que as recomendações se perderiam no tempo ou seriam, digamos, repaginadas, diante do que se vê nos dias atuais. Mesmo que não queira, estamos envolvidos com os três temas, às vezes até o pescoço, de forma direta ou pelas vias indiretas.

Não há como deixar de lado o "último desvio" ou passar a mão na cabeça do "corrupto da vez". Não dá para fechar os olhos para o caótico trânsito, para a (in)segurança de dia ou de noite, para as vias públicas mal cuidadas. Tudo é política e o cidadão, mesmo que queira ficar à margem, está inserido no contexto. Faço questão de não fazer referência a fato tal ou qual. É só abrir o jornal do dia ou a revista da semana para se conhecer de algo que exala mau cheiro.

Outro beco que requer pelo menos atenção, até porque há trechos mal iluminados, é aquele que envolve seitas, templos, salvação, etc. Do jeito que a coisa anda, logo, logo todo brasileiro precisará juntar um dote para salvar a pátria, perdão, a alma. Quem não tiver o dote, não deve nem entrar na fila; pelo contrário, deve ir preparando o leque e abano para passar a eternidade num quitinete de 12m², sem janela e sem ventilação, temperatura beirando a casa dos 50º C. De quebra, leva o "som", 24h por dia, daquilo que chamam de música: ai, se eu te pego...

O beco menos perigoso é o futebol, que, à exceção do Neymar, anda mal das pernas. É só não se envolver em demasia, achar que o nosso timezinho é um time de primeira ou afirmar que fulano - que joga no nosso time - é craque para seleção. Quem tem a pretensão de chegar lá precisa ter como espelho o Dr. Eduardo Gonçalves de Andrade, também conhecido como Tostão. Com a bola nos pés, passava por qualquer beco, estreito ou largo. Craque de bola e excepcional cronista. Acabou de publicar o livro "A perfeição não existe". Bom de bola, bom de letra.

A vida tem avenidas largas, ruas esburacadas e becos. Não dá para escolher: a avenida é larga com automóveis dos dois lados. Atravessá-la é ganhar meio caminho para a eternidade. As ruas esburacadas estão aí, oferecendo perigo ao pedestre ou aos que andam sobre rodas. Os becos são as alternativas para quem optar pelo caminho mais curto e aparente mais fácil. Curto e perigoso. Síntese (copiando Dona Iraci): se correr o bicho pega, se ficar o bicho pega e come.

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