José
Carlos L. Poroca // Executivo do segmento shopping centers
jcporoca@uol.com.br
Dona
Iraci recomendava o andar só ("antes só...") e distância nas
discussões que envolvessem três temas palpitantes: política, futebol e
religião. Havia outro assunto que recomendava cautela, pela complexidade e
pelos mistérios em torno dele. Só direi que começa com a letra 'm', para evitar
xingamentos de qualquer ordem a este cristão e, principalmente, à mulher do meu
pai, que não merece qualquer tipo de ofensa por desejar o bem do filhote..
Aproveito
o ensejo para pedir tardiamente desculpas a quem me deu carinho e atenção até o
final da vida, seguindo a velha máxima "mãe é mãe, paca é paca..." e
o resto fica por conta dos rimadores. Não segui as lições e vez ou outra
descumpro as orientações maternas. Chego a acreditar que as recomendações se
perderiam no tempo ou seriam, digamos, repaginadas, diante do que se vê nos
dias atuais. Mesmo que não queira, estamos envolvidos com os três temas, às
vezes até o pescoço, de forma direta ou pelas vias indiretas.
Não
há como deixar de lado o "último desvio" ou passar a mão na cabeça do
"corrupto da vez". Não dá para fechar os olhos para o caótico
trânsito, para a (in)segurança de dia ou de noite, para as vias públicas mal
cuidadas. Tudo é política e o cidadão, mesmo que queira ficar à margem, está
inserido no contexto. Faço questão de não fazer referência a fato tal ou qual.
É só abrir o jornal do dia ou a revista da semana para se conhecer de algo que
exala mau cheiro.
Outro
beco que requer pelo menos atenção, até porque há trechos mal iluminados, é
aquele que envolve seitas, templos, salvação, etc. Do jeito que a coisa anda,
logo, logo todo brasileiro precisará juntar um dote para salvar a pátria,
perdão, a alma. Quem não tiver o dote, não deve nem entrar na fila; pelo
contrário, deve ir preparando o leque e abano para passar a eternidade num
quitinete de 12m², sem janela e sem ventilação, temperatura beirando a casa dos
50º C. De quebra, leva o "som", 24h por dia, daquilo que chamam de
música: ai, se eu te pego...
O
beco menos perigoso é o futebol, que, à exceção do Neymar, anda mal das pernas.
É só não se envolver em demasia, achar que o nosso timezinho é um time de
primeira ou afirmar que fulano - que joga no nosso time - é craque para
seleção. Quem tem a pretensão de chegar lá precisa ter como espelho o Dr. Eduardo
Gonçalves de Andrade, também conhecido como Tostão. Com a bola nos pés, passava
por qualquer beco, estreito ou largo. Craque de bola e excepcional cronista.
Acabou de publicar o livro "A perfeição não existe". Bom de bola, bom
de letra.
A
vida tem avenidas largas, ruas esburacadas e becos. Não dá para escolher: a
avenida é larga com automóveis dos dois lados. Atravessá-la é ganhar meio
caminho para a eternidade. As ruas esburacadas estão aí, oferecendo perigo ao
pedestre ou aos que andam sobre rodas. Os becos são as alternativas para quem
optar pelo caminho mais curto e aparente mais fácil. Curto e perigoso. Síntese
(copiando Dona Iraci): se correr o bicho pega, se ficar o bicho pega e come.
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