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Responderam
que o organismo necessitava de ferro e comer barro era uma das formas de
atender a carência pleiteada pelo corpo. Anos na frente, vi documentário sobre
macacos - estou na dúvida se eram gorilas ou orangotangos - que comiam o que já
havia sido descomido. A explicação foi mais ampla: o método servia para
reprocessar o que não pode ser absorvido no primeiro processamento.
O
processo de sobrevivência imposto pela natureza vai de uma linha que a gente
pode chamar de natural ou de instinto - a critério do freguês -, como a que
vivem os animais que comem plantas para mexer no metabolismo interno e para
'curar' indisposições, até outra, no campo oposto, onde se encontram as
espécies pensantes que se alimentam do necessário, do mais que necessário, do
inimaginável e do inusitado, como o personagem da letra/música de Carlos Lyra e
Vinicius de Moraes, que comia "vrídio" na Praia de Copacabana para
juntar uma graninha.
A
história (ficção) já completou 1/2 século e o País, que tem a 7ª ou 8ª economia
do mundo, ainda convive com os seus comedores de giletes. Hoje, as lâminas são
outras e descem goela abaixo sem pedir 'por favor' ou 'com licença'. Começa
pela 'navalha' chamada de imposto de renda, de apetite incontrolável, caminha
por uma carga tributária que, de tanto receber medalhas de prata e ouro, não
pode mais concorrer, é hors-concours. A fila aumenta com a compensação que
precisa ser dada para cobrir os buracos dos que 'bicam' um naco aqui e outro
ali, produzindo o que pode ser chamado de esforço improdutivo para quem paga
tributo, ou, de outro modo, um passo para frente e dois para trás.
O
Brasil desenvolvido ainda tem outros tipos de comedores de giletes: os que vão
para os lixões atrás de sobras e do sustento; os que comem produtos com volume
e peso, que dão a sensação de 'boa sustância'; e os que colocam para dentro o
que lhes aparece: preás, lagartos e assemelhados, tanajuras e tatus, para
completar a carga. Há outro tipo, especial, que um dia foi chamado de classe
média. Não a de hoje, que subiu degraus sem preencher os requisitos de renda
para a classificação adequada.
A
classe média brasileira 'prepetê' - aquela que se enquadrava numa determinada
faixa de renda para ficar entre os ricos e os pobres - está no desgastante
estica e puxa, sendo obrigada a um esforço inglório de ter que carregar sapos e
engolir pedras, sem poder fazer cara feia, numa situação muito parecida com a
dos hermanos
argentinos: sem tango e com remota chance de volta.
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