O
jornalista, cronista e escritor Ivan Lessa, de 77 anos, morreu nesta
sexta-feira (8) em sua casa em Londres. Lessa morava na Inglaterra desde 1978 e
era colunista da BBC Brasil.
Ivan
Pinheiro Themudo Lessa nasceu em 9 de maio de 1935, em São Paulo, mas foi
criado no Rio de Janeiro.
Segundo
sua viúva, Elizabeth, ele sofria de enfisema pulmonar e tinha problemas
respiratórios graves. Mas o motivo da morte ainda não é conhecido. Ela disse
que, ao chegar à noite em casa, encontrou Ivan Lessa morto em seu escritório.
Ela estima que ele tenha morrido entre as 16h e as 18h30, pelo horário local.
Foi
fundador, em 1969, e um dos principais colaboradores do jornal critico e
satírico “O Pasquim”, durante os anos de resistência à ditadura militar
brasileira.
No
“Pasquim”, ele escreveu, entre outras, a coluna “Gip! Gip! Nheco! Nheco!”,
“Fotonovelas” e os “Diários de Londres”. Ele também criou, em parceria com o
cartunista Jaguar, o ratinho Sig, símbolo da publicação.
Ivan
Lessa trabalhou e colaborou com vários órgãos de imprensa, como a TV Globo, as
revistas “Senhor”, “Veja” e “Playboy” e os jornais “Folha de S. Paulo”, “Estado
de S.Paulo”, “Jornal do Brasil” e “Gazeta Mercantil”. Também trabalhou como
publicitário.
Leia
sua última coluna, publicada na manhã da sexta-feira (8) em que Lessa ironiza a
morte:
Orlando
Porto. Taí um nome como outro qualquer. Podia ser corretor de imóveis,
deputado, ministro, farmacêutico. Mas não é. Trata-se de um anagrama de um
escritor francês – e ator e ilustrador bom e autor e figurinha difícil francesa
e aquilo que se poderia chamar de “frasista”.
Feio
como um demônio, no meio da década de 1950 cansei de dar com ele dando comigo
lá pelo Boulevard St. Germain, cheretando o Flore, o Lipp, fazia uma cara que
quem ia dizer algo importante e logo sumia na companhia do Jean-Pierre Léaud,
aquele maluquinho dos filmes autobiográficos do Truffaut.
Dupla
estranha. Os desenhos do – esse seu nome, artístico ou de batismo, Roland
Topor- eram bacaninhas. Mas sempre foi Orlando Porto para mim.
Fez
cinema também. O Inquilino do Polanski, o Reinfeld de Nosferatu, do Werner
Herzog. Até que bateu o que ocultava seus pés: umas botas estranhas como ele.
De
vez em quando, numa revista esotérica, dou com ele. Ei-lo numa em inglês com
“100 boas frases para eu matar agorinha mesmo”. Se chegou ao fim, e chegou, foi
pelo cachê. Meros galicismos literários.
E
aí trago à cena, mais uma vez, porque cismei, mestre Millôr Fernandes. Esse era
profissional. Nada a ver com “frasista”. Trabalhava com a enxada dura da
língua. Nunca para dar a cara no Flore, principalmente com Topor e Léaud.
Reli
umas 100 frases do Orlando, ou Topor, e não resisti à tentação de, em algumas
delas dar-lhes uma ginga por cima e outra por baixo, à maneira do frescobol
querido do mestre, só para exercitar os músculos muito fora de forma.
Cem
razões: Faço por bem menos, mas mais Copacabana e Leblon. Algumas raquetadas
minhas em homenagem ao mestre cuja falta continuo sentindo:
-
Melhor maneira de verificar, antes, se já não estou morto.
-
Mas não se mata cavalos e malfeitores?
-
Pelo menos eu driblaria o câncer.
-
Milênio algum jamais me assustará.
-
Apanhei-te horóscopo! Pura enganação!
-
Levo comigo a reputação de meu terapeuta.
-
Pronto, agora não voto mais mesmo! Chegou!
-
Aí está: uma cura definitiva para a calvície.
-
Enfim cavaleiro do reino de sei lá o quê.
-
A vida está pelos olhos da cara. Pra morte eles fazem um precinho especial,
combinado?
-
Enfim, ano bissexto nunca mais. Esses ficam para o Jaguar. O resto pro Ziraldo.
-
Ao menos é uma boca de menos a sustentar.
-
Só quero ver quanta gente vai sincera no meu funeral.
-
Pronto! Inaugurei estilo novo: Arte Morta.
-
Sabe que minha vida não daria um filme. O livro eu já escrevi. Deixem o
desgraçado em paz, peço-lhes.
-
Custou, mas estou acima de qualquer lei que vocês bolarem aí.
-
Levou tempo, mas cortei enfim meu cordão umbilical.
-
Roncar, nunca mais. Nem eu nem ninguém ao meu lado.
-
Que desperdício nunca ter fumado em minha vida!
-
Consegui preservar o mistério sempre girando em meu torno.
-
Maioria silenciosa? Essa agora é comigo.
-
Na verdade, nunca me senti à vontade nessa posição incômoda de cidadão do
mundo.
-
Ei, juventude, pode vir que pelo menos uma vaga está aberta.
-
Emagrecer é isso aqui.
-
Agora é conferir se, do outro lado, sobraram tantas virgens assim.
E
assim, cada vez que um “frasista” passar por perto de mim, leve uma nossa:
minha e de Millôr. Dois contra um, a gente ganha mole.
Com
informações do G1
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