sexta-feira, 8 de junho de 2012

POROCA: Vou morrer

Por: José Carlos L. Poroca
Executivo de Shopping Centers

Ao dizer “vou morrer” posso não estar dizendo nada, absolutamente nada. É o destino de todos nós, valendo até para os que receberam o canudo de imortais. Também não quero fazer drama ou inventar doença, para amolecer corações e obter vantagens de qualquer natureza. Pode ser que, neste momento, seja portador de algum mal que antecipe o meu ‘até logo’ ou o meu ‘adeus’, mas, por suposição, nada que não possa aguardar a Copa de 2014.

Ao dizer “vou morrer”, assim, de supetão, posso estar decepcionando os mais próximos que aguardavam a promessa feita de superar o recorde familiar pertencente a meu pai, que emplacou cem anos e dois meses. Mas, entendam, agora admito, ele viveu num tempo em que a palavra empenhada era mais forte que o papel assinado. Hoje, nem a assinatura reconhecida em cartório tem valia, é vista com desdém, como ‘coisa do passado’.

Quero justificar o “vou morrer” pelo choque que se repete a cada trinta dias quando recebo o contracheque. A distância entre o bruto e o líquido é quase a distância entre a terra e a lua. O esforço é inglório: trabalho doze meses no ano e só chegam menos de oito meses na minha conta. É como se o meu motorzinho tivesse uma configuração de 120hps (exagerei?) e fosse dele exigido uma produtividade de 150 a 160hps. A máquina não aguenta.

Se não for pelo esforço, há outras hipóteses pela possibilidade de antecipação do the end: a bala e o susto. Descarto o vício – que seria a terceira hipótese – porque os meus vícios não fazem mal, ou, melhor dizendo, fazem um mal pequeno, menor. A bala poderá vir de qualquer lado, de cima ou de baixo, nunca se sabe. Do jeito que as balas estão indisciplinadas, poderei ser atingido até nos sonhos. Se for assim, menos mal: mesmo com o sangue e a dor da cena, ficarei satisfeito porque o acordar virá mais cedo ou mais tarde, o que não impedirá nem diminuirá o risco do furo no peito ou na cabeça que todo brasileiro pode levar nos tempos de hoje.

O susto tem tudo para ser a causa mortis, já admitindo que nenhum profissional vá querer colocar que o óbito ocorreu pela ação inesperada que interferiu no metabolismo ou que foi excesso de adrenalina provocado por forte emoção. Independente do que vai no obituário, repito que o susto é a bola da vez, o mais cotado, o que tem mais chances. Não à toa. As emoções do dia a dia, seja pela perda do campeonato do meu time, seja pelo aparecimento como corrupto de paladino que se apostava como exceção à regra. E nem vou falar noutras emoções vividas pelos portadores de carteira profissional, que precisam derrubar uma alcateia por dia.

O coraçãozinho é forte e aguentará os trancos até quando chegar a hora. Enquanto o trem não vem, apelo para os amigos e para quem ler este trecho: contribuam para que os anos vindouros sejam mais agradáveis e mais confortáveis para este nordestino de sobrenome dinamarquês. A casa aceita dinheiro (real, dólar, euro – tanto faz), cheques com suficiência de fundos, pacotes de viagem (Europa, preferencialmente). Se for na executiva, melhor. A família agradece.

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