Executivo de Shopping Centers
Ao
dizer “vou morrer” posso não estar dizendo nada, absolutamente nada. É o
destino de todos nós, valendo até para os que receberam o canudo de imortais.
Também não quero fazer drama ou inventar doença, para amolecer corações e obter
vantagens de qualquer natureza. Pode ser que, neste momento, seja portador de
algum mal que antecipe o meu ‘até logo’ ou o meu ‘adeus’, mas, por suposição,
nada que não possa aguardar a Copa de 2014.
Ao
dizer “vou morrer”, assim, de supetão, posso estar decepcionando os mais
próximos que aguardavam a promessa feita de superar o recorde familiar
pertencente a meu pai, que emplacou cem anos e dois meses. Mas, entendam, agora
admito, ele viveu num tempo em que a palavra empenhada era mais forte que o
papel assinado. Hoje, nem a assinatura reconhecida em cartório tem valia, é
vista com desdém, como ‘coisa do passado’.
Quero
justificar o “vou morrer” pelo choque que se repete a cada trinta dias quando
recebo o contracheque. A distância entre o bruto e o líquido é quase a
distância entre a terra e a lua. O esforço é inglório: trabalho doze meses no
ano e só chegam menos de oito meses na minha conta. É como se o meu motorzinho
tivesse uma configuração de 120hps (exagerei?) e fosse dele exigido uma
produtividade de 150 a 160hps. A máquina não aguenta.
Se
não for pelo esforço, há outras hipóteses pela possibilidade de antecipação do
the end: a bala e o susto. Descarto o vício – que seria a terceira hipótese –
porque os meus vícios não fazem mal, ou, melhor dizendo, fazem um mal pequeno,
menor. A bala poderá vir de qualquer lado, de cima ou de baixo, nunca se sabe.
Do jeito que as balas estão indisciplinadas, poderei ser atingido até nos
sonhos. Se for assim, menos mal: mesmo com o sangue e a dor da cena, ficarei
satisfeito porque o acordar virá mais cedo ou mais tarde, o que não impedirá
nem diminuirá o risco do furo no peito ou na cabeça que todo brasileiro pode
levar nos tempos de hoje.
O
susto tem tudo para ser a causa mortis, já admitindo que nenhum profissional vá
querer colocar que o óbito ocorreu pela ação inesperada que interferiu no
metabolismo ou que foi excesso de adrenalina provocado por forte emoção.
Independente do que vai no obituário, repito que o susto é a bola da vez, o
mais cotado, o que tem mais chances. Não à toa. As emoções do dia a dia, seja
pela perda do campeonato do meu time, seja pelo aparecimento como corrupto de
paladino que se apostava como exceção à regra. E nem vou falar noutras emoções
vividas pelos portadores de carteira profissional, que precisam derrubar uma
alcateia por dia.
O
coraçãozinho é forte e aguentará os trancos até quando chegar a hora. Enquanto
o trem não vem, apelo para os amigos e para quem ler este trecho: contribuam
para que os anos vindouros sejam mais agradáveis e mais confortáveis para este
nordestino de sobrenome dinamarquês. A casa aceita dinheiro (real, dólar, euro
– tanto faz), cheques com suficiência de fundos, pacotes de viagem (Europa,
preferencialmente). Se for na executiva, melhor. A família agradece.
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