segunda-feira, 30 de abril de 2012

TEATRO WANKABUKI INVADE FEIRA E SHOPPING NO DOMINGO

Vilhena, Rondônia.
Reflexão em três atos. Fome, violência e abuso sexual foram os temas representados pelos atores em cena

Imagine-se na feira, fazendo suas habituais compras de domingo, ou comendo um pastel, ou ainda uma tapioca, e ser surpreendido por um grupo de pessoas que ligam uma pequena caixa de som e começam a construir cenas teatrais.   Imaginou? Pois foi isso o que aconteceu no domingo, 29 de abril, por volta das 8 horas da manhã. O Grupo de Teatro Wankabuki, estendendo as atividades realizadas na IV Oficina de Teatro Cena Aberta, resolveu intervir em ambientes com grande movimentação de pessoas para mostrar um pouco do trabalho desenvolvido em sala de aula. Na ocasião, doze atores, divididos em três grupos, construíram cenas de acordo com temáticas pré-estabelecidas: fome, violência e abuso sexual.

Para a confecção das cenas foi utilizada a Teoria do Oprimido, desenvolvida pelo teatrólogo brasileiro Augusto Boal, durante a década de 60, em plena Ditadura Militar. Dentro da proposta apresentada por Boal, foi adotado o jogo das massas de modelar, em que três dos atores de cada grupo ficavam inertes, enquanto o quarto ia moldando-os, conforme a cena desejada e que foi ensaiada durante a oficina. Apresentaram-se os artistas: Daniela Gonçalves, Danielle Bezerra da Silva, Dennis Weber, Elieldo Alves Paes, Herbert Weil, Isabela Tabalipa, Mayko Estefano, Rafael Reis, Rutileia Barbosa, Shely Lisboa, Stefhani Wolf e Valdete Sousa.

O resultado das intervenções realizadas na Feira Municipal do centro (no período matutino) e no Park Shopping Vilhena (no período noturno) foi positivo, segundo a presidente do Grupo de Teatro Wankabuki, Valdete Sousa. “Os atores em cena, alguns estreantes, reagiram bem à atividade. Ocorre muito nervosismo nas primeiras apresentações, e a consequência disso pode ser o esquecimento dos movimentos, no entanto, isso não aconteceu. Todos se saíram muito bem”, ressaltou.

Segundo Valdete, as intervenções realizadas pelo grupo têm caráter marginal. “Nós não trabalhamos por dinheiro. Fazemos arte pela arte. É claro que precisamos de um mínimo de recurso para poder montar uma apresentação, mas mesmo assim não temos atrelamentos com empresas. Isso faz com nossas intervenções, como essas que ocorreram, sejam livres, momentos em que podemos fazer denúncias através do teatro. E o caráter dessas denúncias já é explicitado no cotidiano das pessoas, quando elas assistem a uma novela, por exemplo, onde são mostradas cenas de violência, e às vezes, até de abuso sexual. Nós só reforçamos esses assuntos, claro que com uma proximidade muito maior do espectador, por que estamos no mesmo ambiente que ele”, explicou.

Quanto à reação do público presente Valdete disse ser possível qualquer coisa. “O que a gente percebeu foi muita dúvida por parte das pessoas que passavam pelos ambientes. A maioria parava e olhava, e que acredito que se perguntava o que era aquilo. Mas ninguém atacou a gente”, explicou rindo. “Esse tipo de atividade cênica é imprevisível. Todos que estão no local acabam se envolvendo de alguma forma. Acredito que na feira tivemos maior dificuldade, por ser um ambiente mais aberto, com pessoas gritando, outras buzinando para chamar a atenção para seus produtos e outras ainda trombando nos atores que estavam nos locais de maior fluxo de transeuntes. Muitos pararam, e ficaram realmente interessados naquilo que estava sendo exposto”, descreve.

Park Shopping Vilhena

Agora imagine-se no Park Shopping Vilhena, degustando um cappucino, um chopp ou qualquer outra coisa e de repente o som ambiente que, até então era dominado pelo sertanejo, é modificado e, irrompem dos alto-falantes as interpretações venais de Edith Piaf. Em seguida um grupo de indivíduos, todos vestidos de preto, entram e começam a criar cenas temáticas, sem pronunciar uma palavra sequer. Essa foi a segunda intervenção realizada pelo Grupo de Teatro Wankabuki, no domingo, 29 de abril. O horário escolhido pela trupe foi o noturno, e em ambiente fechado, executaram os movimentos realizados pela manhã, na feira municipal.

“O espaço do shopping é diferente. Porque não há tanto barulho quanto na feira. Todos estão sentados, degustando suas bebidas e comidas, mas quando veem uma movimentação fora do habitual, já ficam sobressaltados. Assim que entramos em cena, notamos o silêncio que aquela plateia fazia. No final aplaudiram a nossa apresentação”, disse Valdete.

Os atores

A concentração era o fator principal cobrado dos artistas em cena. “Achei que não conseguiria me apresentar, principalmente no shopping, onde muitas pessoas conhecidas estavam presentes. Mas o foco na atividade, fez com esquecesse por um momento que estava sendo observada, e assim pude realizar a atividade com desenvoltura”, relatou a universitária Daniela Gonçalves de Souza, 18, integrante do grupo há um ano.

Para o assistente social Rafael Reis, 25, que está no grupo há dois anos, a atividade foi impactante. “Não sabíamos a reação do público, então estávamos preparados para tudo. Achei que nem iríamos receber atenção das pessoas que estavam passando, mas não foi isso o que aconteceu. Muita gente parou para ver e no final aplaudiu”, descreveu.

O resultado da intervenção foi ótimo, segundo a estudante Isabela Tabalipa, 16, atriz no grupo há dois anos. “Achei muito legal a curiosidade com que as pessoas olhavam pra gente, ainda mais em uma situação não prevista por elas. Penso que elas acham que a gente seja um bando de loucos. E não estão totalmente erradas, né,” disse sorrindo.

Estreia

O nervosismo foi o grande obstáculo para aqueles que estavam iniciando nas artes cênicas, como apontou o estreante Elieldo Alves Paes, 22 anos. “Estava mais calmo na apresentação da manhã, mas quando soube que apresentaríamos aqui no shopping fiquei um pouco nervoso, mas depois da metade da apresentação conseguir ficar calmo”, narrou.

Frio na barriga também sentiu a universitária Danielle Bezerra da Silva, 22 anos. “Na apresentação da feira nem abri os olhos de tão nervosa que estava. Já na intervenção do shopping estava mais calma, mesmo com um monte de gente olhando pra mim, consegui abrir os olhos”, contou.

Foco foi a arma utilizada pelo locutor e produtor, Mayko Estefano, durante a performance. Acostumado com os bastidores do teatro, onde executa as funções de iluminador e sonoplasta, o acadêmico de Administração encarou a plateia pela primeira vez. “Mantive a concentração na atividade. Sabia que estava rodeado de pessoas, mas tinha um objetivo e acabei por cumpri-lo, sempre com uma sensação de tranquilidade me acompanhando”, falou.

Para o jornalista Herbert Weil, estrear com intervenções em espaços públicos e privados foi desafiador. “Isso porque o público foi escolhido pela gente, e não ao contrário, como é comum de acontecer. Então você fica ansioso, pensando o que pode acontecer durante a apresentação. Mas a atividade superou minhas expectativas. De um modo geral, achei muito pertinente a proposta da intervenção, de ter esse tom de denúncia. As performances que realizamos tiveram como objetivo mostrar que problemas existem, e que a gente deve parar para pensar neles e procurar uma solução”, descreveu.

TEXTO: ASSESSORIA

FOTOS: NAYARA PECINATO

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