sábado, 28 de abril de 2012

Educação: professores nota AAA

 Por Christophe Hélou

Ao final de seu mandato, Sarkozy terá suprimido 80 mil postos de trabalho na educação pública francesa. O chefe de Estado pretende impor uma ruptura na avaliação dos professores secundários com o objetivo de submeter os educadores aos chefes de estabelecimentos de ensino, seus "empregadores"

É preciso um patrão nos estabelecimentos de ensino”, clamava o ministro da Educação francês, Luc Chatel, em 7 de dezembro de 2011 na rádio France Inter. Ele resumia assim o espírito das novas modalidades de avaliação dos professores, anunciadas um mês antes e que deverão entrar em vigor em setembro de 2012.

Atualmente, os professores do ensino médio recebem duas notas: uma, administrativa, atribuída todo ano pelo diretor do estabelecimento em função de uma tabela nacional; a outra, pedagógica, estabelecida pelo inspetor da disciplina durante uma visita de classe, realizada a cada três a dez anos. A combinação das duas avaliações resulta em uma nota final que determina a progressão das carreiras e das remunerações. Para as evoluções mais lentas, o avanço depende exclusivamente do tempo de serviço: um nível a cada 3,5 anos, por exemplo, a partir do quinto nível (que engloba cerca de 50% dos professores).1 Para os mais rápidos, conhecidos por “grande seleção” (30% dos professores), a progressão se efetua no ritmo de um nível a cada 2,5 anos (sempre a partir do quinto nível).

Hierarquia adicional

Nesse sistema, inaugurado em 1950 e revisado em 1989, o ministro Luc Chatel deseja incluir duas modificações. A primeira faz a promoção das carreiras basear-se apenas no tempo de serviço, ou seja, traz uma forte desaceleração da progressão dos salários para a maioria dos professores: a medida significaria o mesmo que prolongar a carreira completa em seis anos (uma evolução que deveria refletir o alongamento das carreiras em consequência da reforma das regras das aposentadorias de 2010). A segunda emenda prevê a eliminação da nota pedagógica: a avaliação dependeria totalmente de uma entrevista trienal com o diretor do estabelecimento de ensino (o empregador direto), o qual poderia efetuar reduções no tempo de serviço de dois ou cinco meses em função dos méritos do “funcionário”.

Alguns se surpreendem com os esforços do ministro Chatel para diminuir um pouco mais a remuneração dos professores, enquanto um relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), publicado em outubro de 2010,2 salienta o baixo valor das remunerações: ela é em média 20% inferior à do conjunto dos países-membros da organização. Em 28 de fevereiro, Nicolas Sarkozy propôs aumentar o salário dos professores do ensino fundamental (do 5º ano ao 8º ano) em 25%, com a condição de que fizessem a partir de então 26 horas de “presença” em seus estabelecimentos, contra as 18 horas atuais, segundo o candidato da União por um Movimento Popular (UMP). Essa última cifra só corresponde, no entanto, às horas de aula e ignora o trabalho de preparação, correção, as reuniões obrigatórias (conselhos de classe, reunião de pais) ou informais etc. Segundo o Sindicato Nacional dos Professores do Segundo Grau (SNES), o tempo de trabalho real dos professores chega atualmente a 40 horas semanais.

O governo havia em um primeiro momento anunciado um aumento da remuneração de início de carreira: generosos 200 euros a mais para alguns milhares de professores justificaria então, segundo ele, o corte de alguns milhares de euros para todos no conjunto da categoria.3 Nada melhor para dividir os funcionários.

A evolução “administrativa” que as medidas anunciadas refletem prolonga o projeto geral da Nova Gestão Pública (NPM, sigla em francês), que visa regular a atividade dos funcionários públicos por meio de objetivos (aqui, o êxito dos alunos, por exemplo) e regras estatutárias.4 A NPM vem acompanhada ao mesmo tempo de uma autonomização crescente dos estabelecimentos – justificada por um discurso de “liberdade” – e de um acréscimo de supervisão, e portanto de hierarquia. Assim, satisfaz menos aos empregados submetidos a esse novo controle social que aos quadros dirigentes, em quem ele se apoia, sem que estes últimos percebam como eles próprios se encontram enredados por princípios pelos quais são responsáveis.

“Bom” ou “belo” trabalho?

Entretanto, avaliar um professor implica distinguir as normas do “belo trabalho” e do “bom trabalho”. A comunidade profissional avalia em geral a primeira tendo por base seus ideais profissionais e organizacionais; o reconhecimento por seus pares se revela fundamental. O bom trabalho se apoia em uma norma institucional, em uma concepção normativa formulada pelo empregador. Toda atividade se vê então continuamente dividida em sua avaliação entre o trabalho imposto, bem próximo ao bom trabalho, e o trabalho real, bem próximo ao belo trabalho.

Querer sobrepor o trabalho imposto em relação ao trabalho real – a ambição final das lógicas administrativas – depende, portanto, de uma forma de taylorização, sentida como violenta pelos trabalhadores. Não é mais a própria atividade que é levada em conta, mas unicamente seus resultados, sua “renda visível”. A avaliação se dirige para o que não é objeto direto da atividade: os sinais tangíveis e aparentes da submissão aos objetivos definidos pela instituição.

Assim, uma grade de entrevistas utilizada hoje na academia “piloto” de Dijon propõe avaliar a capacidade dos professores para “entregar documentos solicitados no momento desejado, aplicar as regras coletivas referentes às sanções e punições, respeitar a hierarquia, participar do conselho de administração ou do conselho pedagógico, preencher a agenda de classe”.

Mais alunos, mais aprendizagens, conhecimentos e pedagogia: somente permanece a avaliação dos contornos da tarefa profissional. E como a avaliação acaba por comandar a atividade, só restará aos professores produzir as provas artificiais de sua excelência, que são geralmente sinais de sua submissão às injunções da autoridade.

Christophe Hélou

Autor, com Françoise Lanthéaume, de La Souffrance des enseignant: Une sociologie pragmatique du travail enseignant (O mal estar dos professores: uma sociologia pragmática do trabalho docente), Presses Universitaires de France, Paris, 2008

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