sexta-feira, 27 de abril de 2012

1954-2012

José Carlos L. Poroca

Está circulando pela Internet um filme em P&B feito em 1954, com o patrocínio de uma grande empresa norte-americana, mostrando como seria o futuro do cidadão. Tudo (ou quase tudo) que está no vídeo é, hoje, uma realidade: equipamentos de cozinha equipados eletronicamente, lava-louças, interrupção da programação da TV e possibilidade de retornar ao ponto de parada, sensores para abertura e fechamento de portas e janelas, telefones celulares, aparelhos de TV de fina espessura, computadores, etc. A visão dos autores, há 60 anos, foi precisa. Olhavam a tecnologia do futuro como benéfica para a humanidade, fugindo daquilo que alguns defendiam (“a ciência irá cegar os prazeres da vida”). Que nada! O que as novas tecnologias proporcionam devem sempre ter como foco principal o bem estar da coletividade.

O filme de 54, presumivelmente feito sob a ótica institucional, remete a outro, de 2011, em cores, do norte-americano Andrew Niccol. A história é interessantíssima e se passa num futuro não determinado. Nesse ‘futuro’ as pessoas não envelhecem, todas tem 25 anos. Que maravilha! Cada uma delas tem um crédito armazenado no próprio corpo e pode viver a quantidade de anos que desejar, desde que haja a realimentação – em minutos, horas, dias, semanas, meses ou anos –, necessária para não falecer. Se zerar, o corpo também zera e morre. Condição para ganhar créditos: ter grana. Para se conseguir grana e os créditos, há opções: pelo trabalho, pelo roubo ou pela herança. Como filme, não consegue passar por média, mas apresenta esse enredo interessantíssimo  que pode ser transportado para os tempos reais e atuais.

Na hora, veio à cabeça um ditado que ouvi há muitos anos do meu tio Eduardo que dizia de modo engraçado: “se merda fosse dinheiro, pobre nascia sem c....”. Observem os dois casos: o real e a ficção. Na comparação com o real, toda a tecnologia foi efetivamente colocada à disposição da humanidade, confirmando as previsões visionárias de quem estava ‘antenado’ com o futuro. Os melhores inventos, no entanto, sequer são conhecidos de uma parte da população que não sabe para que serve o papel higiênico. E por falar nele, a população de uma ilha no Caribe, próxima aos EUA (cerca de 160Km), não tem acesso ao produto. Lista telefônica é vendida a preço de ouro como substituto. (‘Preço de ouro’ é só força de expressão).

Na comparação com a ficção, mesmo não existindo a tecnologia dos créditos como no filme, o processo é semelhante. Quem tem pouco, se esgoela para sobreviver; quem tem muito, quer mais e faz tudo, de forma legal ou não, para tirar de quem já tem pouco. E há os que estão nas vias transversais, fazendo o que todo mundo sabe e faz que não sabe. Isso se dá no mundo todo, inclusive no Brasil maravilha, onde há um preparo para a criminalização do que já era crime: o enriquecimento ilícito. Acho que estou desaprendendo e perdendo créditos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário