Na
verdade, os neutrinos não viajam mais rápido do que a velocidade da luz.
Cientistas reafirmaram isso em março, corrigindo as conclusões extraídas de um
experimento em setembro passado que pareceu virar de cabeça para baixo a teoria
especial da relatividade de Einstein. De acordo com reportagem da Science, o
erro do outono passado pode ter sido resultado de uma conexão falha de fibra
óptica entre o receptor GPS e o computador usado para calcular o tempo que os
neutrinos levavam para viajar de CERN em Genebra até um laboratório na região
de Gran Sasso, na Itália. Evidentemente, os cientistas tinham a intenção de
replicar o experimento para tentar determinar se aquilo que não era verdade era
de fato verdade. Veremos.
Fiquei
surpreso ao ler que os neutrinos provavelmente não são mais velozes do que a
luz, afinal, também fiquei bastante impressionado quando descobri que o
espinafre não continha nem perto da quantidade de ferro que diziam antes.
Durante os anos 30, os produtores de espinafre atribuíam a Popeye – e à crença
popular de que ele devia sua força ao ferro do espinafre – um aumento de 33% do
consumo da verdura. Esta tendência fez com que os produtores e vendedores de
espinafre erguessem estátuas em homenagem a Popeye em Crystal City, Texas;
Chester, Illinois; e Alma, Arkansas.
Num
artigo recente na revista Query na Itália, Sergio della Sala e Stefania de Vito
citaram uma tabela de valores nutricionais publicada pelo Departamento de
Agricultura dos EUA, que mostra que 100 gramas de espinafre contêm 2,7
miligramas de ferro. (E este é o espinafre fresco – o enlatado, como o do
Popey, tem apenas 2,3 miligramas.) Por comparação, 100 gramas de fígado de
galinha contêm 11,6 miligramas de ferro. Se o Popeye engolisse fígado de
galinha com a mesma voracidade com que ele devorava lata após lada de
espinafre, ele poderia ter agarrado o Super-Homem pelo calcanhar e o colocado
em órbita.
De
acordo com uma teoria há muito estabelecida conhecida nos círculos científicos
como História do Erro Decimal do Ferro no Espinafre do Popeye, ou SPIDES, na
sigla em inglês, o criador do Popeye, E.C. Segar, entendeu errado a quantidade
de ferro no espinafre por causa de uma vírgula colocada na casa decimal errada.
Diz-se que no ano de 1870 um certo Dr. E. von Wolff publicou uma tabela na qual
a vírgula da casa decimal aparecia no lugar erado – e que o erro foi retificado
nos anos 30, mas Segar não sabia disso.
Entretanto,
parece que até a hipótese SPIDES é falsa. Filologistas nos dizem que Segar
escolheu o espinafre para alimentar seu herói dos quadrinhos não por causa de
seu conteúdo de ferro, mas por causa de seu alto teor de vitamina A. Vale a
pena olhar um dos inúmeros textos dedicados ao assunto – talvez o mais famoso
seja "Espinafre, Ferro e Popeye", um artigo de 2010 escrito por Mike
Sutton no Internet Journal of Criminology. A história pode parecer sem consequências
na superfície, uma vez que está ligada a um personagem de quadrinhos. Mas é
significativa, considerando o negócio multimilionário que emergiu do fato de
este famoso marinheiro declarar qual era sua verdura favorita. O incidente é só
um exemplo de como os mitos nascem e se perpetuam.
Outra
informação: numa edição recente do jornal italiano La Repubblica (que também,
incidentalmente, quase chamou os neutrinos de tartarugas), havia uma discussão
sobre a necessidade de uma cultura multilíngue. Isso é óbvio, pode-se dizer,
hoje em dia. Mas por muito tempo sustentou-se que para superar a Babel de
línguas era necessário inventar uma linguagem universal, e muitas línguas assim
foram propostas – algumas delas excelentes, como o Esperanto. Mas no final, uma
língua natural – o inglês – ganhou o dia.
A
ideia de desenvolver uma linguagem universal feio de outro mito de mil anos: de
que nos tempos primordiais havia a língua de Adão, uma língua perfeita que foi
perdida com o escândalo da Torre de Babel. Vide a busca espasmódica pela língua
perdida, ou por uma que possa substitui-la.
Hoje
nós sabemos que não existe nada parecido com uma língua perfeita – que as
línguas se desenvolvem espontaneamente de acordo com as necessidades das
pessoas, que evoluem. Mas há uma história esplêndida contada por Ibn Hazm, um
pensador árabe do século 11: no início, disse ele, existia uma língua dada por
Deus, mas esta língua continha todas as outras, que se separaram só depois.
Então o dom de Adão era o poliglotismo, e por esse motivo, todos os homens
podem entender revelações em quaisquer línguas que sejam expressas.
Este
é um ótimo mito com o qual encorajar o poliglotismo – uma habilidade,
incidentalmente, que será útil para perpetuar, e derrubar, mitos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário