Só
agora, Senhor Redator, lendo a crônica de ontem – dos jovens políticos que
improvisam uma vocação que imaginam receber como herança – lembrei a frase de
Oscar Wilde, quando diz que a máscara revela mais que o rosto. Poder ser apenas
uma boutade de um gênio irônico que desafiou a Londres grave e vitoriana, mas
no fim levanta o véu e deixa sair a verdade encoberta pelas conveniências. No
marketing não há fronteira a separar o real e o irreal. A não ser quando
separá-los faz parte da magia da danação.
Não
quero assim, só por arranjo pseudo-literário, misturá-los na mesma bacia. Mas,
cá pra nós, é impossível não desconfiar de certos brilhos lançados na cara de
nós todos, os desavisados telespectadores da propaganda eleitoral. Há deles, e
Deus perdoe a sinceridade tão nua, que ostentam no bestunto aquilo que nunca
leram, pensaram ou escreveram. Um descompasso que só os mais perspicazes sabem
perceber. É preciso ter olhos e ouvidos bem atentos, do contrário os gatos
passarão por lebres na floresta virtual.
Sou de um tempo de coisas óbvias. Um gato era um gato e uma lebre uma lebre. Nada de uma pele de cordeiro a esconder um lobo. A política era uma escola. E os políticos, mesmo aqueles mais jovens, eram formados a partir do espírito público. A riqueza não ia além de um sinal de prosperidade herdado da família, mas o níquel não substituía o talento. Agora, não. Nossos políticos são jovens sedutores que se nos ademanes sociais ostentam uma vida próspera e na vida pública exibem namoradas como troféus.
Mas,
por amostragem, devo reconhecer, um dia colheremos os frutos dessa exposição de
vocações inventadas. Há de existir sempre uma ovelha de bom espírito no meio do
rebanho a procura de um motivo para ser deputado ou senador. O vazio que nos
foi legado é resultado de como se exerceu a política nas últimas décadas. Nada
de líder. De uma luta na busca do voto como forma de construção do futuro.
Nada. De filhos biológicos passaram a filhos virtuais do marketing e, assim, se
inventaram políticos. E só.
Outro
dia acompanhei a conversa de um deles pela tevê. Uma conversa arrumada, montada
passo a passo. Fabricada numa boa marcenaria de idéias prontas, de clichês que
andam de boca em boca, nas telas de tevê e nas páginas dos jornais. Nada de
original. Muito menos de substancial, como visão capaz de ir além do apenas
comum. Mas tudo arrumado. Coisa sobre coisa, erguendo a parede como um dever de
casa, desses que assessores passam a cada eleição e saídas do amarelado de
manuais de inteligência.
Algum
leitor há de dizer que é pessimista uma visão assim. Talvez. Não desminto. Quem
sabe são estes olhos e ouvidos de diabo velho. Não são mais sabidos que
ninguém. São velhos. Já viram e ouviram essas bruxarias. Outro dia mesmo, era
tão artificial o movimento fisionômico de um deles na tevê que fechei os olhos.
Parecia que estava declamando. Não argumentava. Declamava. Cumprindo um script
que lhe foi dado antes. Tudo bem arrumado. Empilhadas na prateleira. Como se a
realidade fossem assim.
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