Executivo do segmento shopping centers
jcporoca@uol.com.br
A
notícia vem da terra que adotei no coração, o Rio Grande do Norte. Foi real.
Uma pessoa levou um tiro nas costas e o acusado alegou legítima defesa. Vão
dizer: “impossível!”. Sinto pela morte da vítima e lamento não apenas mais esse
episódio, mas os que ocorrem todos os dias com mortes e agressões de toda ordem
neste Brasil inzoneiro e inseguro. O que estou querendo saber: é possível a
aplicação da legítima defesa quando o agressor atira pelas costas?
Antes,
é bom ressalvar, não se pode esquecer que o mundo está muito violento e nem os
templos escapam da onda. Outro dia, os amigos do alheio entraram numa igreja e
levaram objetos e o dinheiro recolhido horas antes dos fiéis a título de
dízimo. Os transgressores correram (e correm) risco duplo: justiça em dobro, na
terra em cima ou em baixo. Não é o pior, se a gente sabe que verbas cujo
destino eram a saúde, a educação, o saneamento e a segurança são desviadas para
beneficiar fulaninhos e os seus. Desvio duplo: moral e mortal.
Há
outros tipos de tiros nas costas que podem provocar efeitos dos mais variados,
da coceira à morte. A traição, por exemplo, pode funcionar como uma alfinetada;
mas também pode fazer os mesmos estragos que uma facada no peito ou um tiro de
revólver calibre 38 provocariam. Não estou me referindo à traição da mulher ou
do homem em relação ao parceiro, até porque, se sabe, muitas dessas traições
são consentidas ou fazem parte de acordos; há traições previamente combinadas
para que alguém possa se beneficiar de algum tipo de ganho.
Outro
exemplo: o dedo-duro que é, via de regra, um atirador nato e só atira pelas
costas. Não acerta todas, porque, atira na surdina, na penumbra, na calada da
noite, como um gatuno de meia-tigela. É o chamado ladrão de galinhas. Na tabela
de classificação, os dois (dedo-duro e ladrão de galinhas) estão empatados, se
equivalem em quase todos os aspectos, com ligeira vantagem para o ladrãozinho.
Poderia até amenizar na dose e dizer que o dedo-duro age em legítima defesa.
Não consigo, pela forma covarde, sorrateira e astuta como age, muitas vezes
pelo prazer de tirar proveito próprio ou para justificar um defeito, erro ou
falha.
O
que o dedo-duro não sabe é que o seu índice de vulnerabilidade é maior em
relação aos comuns. Outro alcaguete fica mais à vontade e em situação mais
confortável para agir contra os de seu tipo e espécie. Aí, neste caso, é
admissível a alegação de legítima defesa, partindo por similaridade de outro
pressuposto: “ladrão que rouba ladrão...”. Se encaixa como uma luva.
Encerro
por aqui sem oferecer qualquer contribuição para a minha dúvida e a dúvida de
outros. Parto antes da chegada de algum carcará que queira fazer o teste para
depois ver como fica. Antes do “até logo”, quero dedicar esse texto aos que
possuem dedos com desvios de função. Que o panariço e a artrite não larguem do
seu pé, digo, do seu dedo, até o fim da vida.
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