quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Poroca: Não Espalhe

José Carlos L. Poroca

Executivo do segmento shopping centers

O cinema está na lista dos ‘meus preferidos’. Não vou dizer a ordem que ocupa na lista para não gerar intrigas, ciúmes e ofensas de qualquer natureza. Para resumir, vou dizer que um filme como “A Dançarina e o Ladrão” (“El Baile de La Victoria”) oferece deleite equivalente a duas taças de bom vinho. Chileno, de preferência. Coincidências á parte, a história se passa no Chile e tem participação de espanhóis, chilenos, argentinos e brasileiros, na direção, na equipe técnica e no elenco. Não sei se a fita, que é de 2009, entrou no chamado circuito comercial, o que não importa. Importa, sim, a sua a beleza, a seriedade e qualidade que se consegue mostrar numa boa peça de ficção que se mistura com dados e fatos da história real.

Só a participação de Ricardo Darin no elenco já proporcionaria retorno de 50% do valor investido. É um daqueles atores que se dão bem em qualquer papel e sabem interpretar como poucos um recém libertado prisioneiro político (como na “A Dançarina...”), um detetive, um trambiqueiro ou um diretor de um clube falido. O diretor, por sua vez, já deu mostra de sua capacidade (ganhou um Oscar pelo “Belle Époque”) e tem uma relação estreita com o Brasil. Realizou um documentário (“O Milagre do Candeal”) sobre uma escola de músicos para jovens numa comunidade de baixa renda existente na capital baiana; e outro, sobre Tenório Jr. - um músico brasileiro desaparecido na década de 70 (Século XX) durante a repressão argentina.

O filme me encantou, porque consegue mostrar de forma eficiente o lado ruim e os reflexos de uma ditadura num país - a do Chile, sob o comando do Gen. Pinochet, foi uma das mais duras -, através de uma história que prende o espectador do início ao fim, com diálogos inteligentes amparados por uma fotografia de primeira e de um roteiro bem conduzido, atestando o que sempre defendi: o cinema é a arte mais completa, por reunir várias artes numa só. Se o diretor errar na mão, dificilmente conseguirá salvar o teatro, a trilha e a interpretação. Há exceções, como o que ocorreu algumas vezes em filmes que teve a participação do ator Robert Mitchum.

Mitchum fez mais de 130 filmes e não recebeu a que consideram a maior estatueta durante os seus mais de cinquenta anos de carreira. Era o famoso “cão chupando manga”, pois atuava com a mesma desenvoltura como mocinho ou como bandido. Faço uma reverência ao ator, não pela qualidade de interpretação (não foi um dos “grandes”), mas pela sinceridade que, dizem, sempre utilizava fora das telas. Certa vez, ao ser indagado, respondeu: “faço filmes para pegar mulher, para fumar erva e levantar uma grana”. Mais sinceridade, impossível.

Sinceridade como a do ator ‘bad boy’, caíram em desuso, foram para o espaço, em qualquer meio. As pessoas dizem ‘sim’ quando querem dizer ‘não’, e vice-versa. Outro dia, vendo um candidato na tevê, quase caí do susto pelo elenco de promessas que, já se sabe, não serão cumpridas. Pensei comigo: “deve estar brincando...”. Robert Mitchum não fez escola.

Nenhum comentário:

Postar um comentário