Executivo do segmento shopping centers
O cinema está na lista dos ‘meus preferidos’. Não
vou dizer a ordem que ocupa na lista para não gerar intrigas, ciúmes e ofensas
de qualquer natureza. Para resumir, vou dizer que um filme como “A Dançarina
e o Ladrão” (“El Baile de La Victoria”) oferece deleite equivalente a duas
taças de bom vinho. Chileno, de preferência. Coincidências á parte, a história
se passa no Chile e tem participação de espanhóis, chilenos, argentinos
e brasileiros, na direção, na equipe técnica e no elenco. Não sei se a fita,
que é de 2009, entrou no chamado circuito comercial, o que não importa.
Importa, sim, a sua a beleza, a seriedade e qualidade que se consegue mostrar
numa boa peça de ficção que se mistura com dados e fatos da história real.
Só a participação de Ricardo Darin no elenco
já proporcionaria retorno de 50% do valor investido. É um daqueles atores que
se dão bem em qualquer papel e sabem interpretar como poucos um recém libertado
prisioneiro político (como na “A Dançarina...”), um detetive, um
trambiqueiro ou um diretor de um clube falido. O diretor, por sua vez, já deu
mostra de sua capacidade (ganhou um Oscar pelo “Belle Époque”) e
tem uma relação estreita com o Brasil. Realizou um documentário (“O Milagre
do Candeal”) sobre uma escola de músicos para jovens numa comunidade de baixa
renda existente na capital baiana; e outro, sobre Tenório Jr. - um
músico brasileiro desaparecido na década de 70 (Século XX) durante a repressão
argentina.
O filme me encantou, porque consegue mostrar de
forma eficiente o lado ruim e os reflexos de uma ditadura num país - a do
Chile, sob o comando do Gen. Pinochet, foi uma das mais duras -,
através de uma história que prende o espectador do início ao fim, com diálogos
inteligentes amparados por uma fotografia de primeira e de um roteiro bem
conduzido, atestando o que sempre defendi: o cinema é a arte mais completa, por
reunir várias artes numa só. Se o diretor errar na mão, dificilmente conseguirá
salvar o teatro, a trilha e a interpretação. Há exceções, como o que ocorreu
algumas vezes em filmes que teve a participação do ator Robert Mitchum.
Mitchum fez mais de 130
filmes e não recebeu a que consideram a maior estatueta durante os seus mais de
cinquenta anos de carreira. Era o famoso “cão chupando manga”, pois atuava com
a mesma desenvoltura como mocinho ou como bandido. Faço uma reverência ao ator,
não pela qualidade de interpretação (não foi um dos “grandes”), mas pela
sinceridade que, dizem, sempre utilizava fora das telas. Certa vez, ao ser
indagado, respondeu: “faço filmes para pegar mulher, para fumar erva e
levantar uma grana”. Mais sinceridade, impossível.
Sinceridade como a do ator ‘bad boy’, caíram
em desuso, foram para o espaço, em qualquer meio. As pessoas dizem ‘sim’ quando
querem dizer ‘não’, e vice-versa. Outro dia, vendo um candidato na tevê, quase
caí do susto pelo elenco de promessas que, já se sabe, não serão cumpridas.
Pensei comigo: “deve estar brincando...”. Robert Mitchum não fez
escola.
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