Maria.
Simplesmente Maria para os amigos. Trabalhadeira e, acima de tudo, de bem com a
vida. Além de ser uma das poucas primas que tenho verdadeiro apreço. Mas, vamos
ao que interessa: Maria tem duas únicas paixões na vida: Dançar forró e
participar (pro-ativamente) de velórios.
_Olhe,
Junior (é assim que ela me chama), quer me ver chateada: avise-me que morreu
alguém que eu conheço e que eu tenha perdido o velório. É o último momento da
pessoa aqui na terra. Eu acho que é o mais importante. É nesta hora que estamos
mostrando o resumo de nossas vidas. Acho velório muito chique. E olhe que eu
choro junto à família e só tenho como cumprida minha missão, quando, também, vou
ao enterro.
_Mas,
e o forró como é que fica depois de tanta tristeza? Perguntei-lhe.
_
O forró é a comemoração do retorno à vida. Já teve ocasião que sai de meu
trabalho no sábado às doze horas; corri para um velório de uma amiga e ainda
fui ao enterro às cinco horas da tarde. Este enterro foi em outra cidade. Na
volta, era quase umas oito horas. Pense! Desci do ônibus fretado pela família em
frente a um forró. Liguei para casa e avisei que iria chegar no dia seguinte. Foi
cansativo: trabalho, velório -com muito choro- e enterro. Mas, quando eu ouvi, a
sanfona tava me chamando. Já estava em outra sintonia. Dancei em homenagem à
minha amiga até as cinco horas da manhã. Pensa que acabou? Nada! Cheguei em
casa, fui lavar roupa e depois fazer o almoço do domingo. Tirei um cochilo à
tarde e, ainda, fui até à casa da finada para ver como estavam os familiares. Na
segunda-feira, tudo voltou ao normal.... Se bem que morrer e dançar forró é
também muito normal.
Pois
a vida é isso: nascer, dançar (que representa a felicidade) e depois morrer. Minha
prima em sua simplicidade me mostrou o quanto sou ingênuo e estúpido ao
imaginar a vida com toda a complexidade e pós-modernidade que tanto apregoa a
academia.
Ao
fim de nossa conversa me arrancou uma promessa:
-Junior!
Você não vai faltar ao meu velório, né? Até porque se você for primeiro eu
estarei lá com tudo que tenho direito: choro, servir cafezinho, acudir as
mulheres escandalosas e, claro, ir ao enterro.... Você que é antropólogo e estuda os nossos costumes me responda:
antigamente se tinha costume de beber o morto. Então, por que não retornamos
estas tradições. Até acrescentaria uma sugestão: podia se fazer tudo no dia
seguinte, assim: bebe-se o morto a dança-se para comemorar o resto de vida que
ainda temos?
Fiquei
mudo e sem resposta. Mas, com o peito cheio de orgulho de ter uma prima como
Maria; que me ensinou tanto em tão pouco tempo.
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