quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Serejo: A nova classe média

 Por: Vicente Serejo

Vaguinaldo Marinheiro, da Folha de S. Paulo, tem toda razão quando umedece com bom humor e ironia e imagina que a nova classe média, aquela nascida das estatísticas petistas, é a moça bonita que todos querem tirar para dançar. E completa: uma moça que de 2003 a 2011 se multiplicou em quarenta milhões de pessoas, segundo dados da sempre insuspeita Fundação Getúlio Vargas. E ainda acrescenta: o mesmo que a população de 31 países europeus ou de toda a Argentina para citar um exemplo vizinho.

A coisa é tão séria que a nova classe média fez a antiga Classe ‘C’ representar hoje um grande contingente responsável por 54% da população brasileira. Em moeda eleitoral, se alguém prefere uma comparação mais popular, decide uma disputa para presidente do Brasil. Este dado, aliás, mostra que o PT está certo quando fez nascer uma nova classe média com o sentimento de conquista social e gratidão nos seus integrantes não pelo grau de instrução ou politização, mas pelo seu novo poder de compra.

Segundo analisa Vaguinaldo, os efeitos já são claros no tecido social: a propaganda começa a buscar novos nichos e é um dos mais sensíveis termômetros para se medir sintomas de ascensão social.

Querem saber? As novelas da Globo, tipo ‘Cheias de Charme’ e ‘Avenida Brasil’, apostam nos núcleos da nova classe média e relegam o consumidor do tipo AAA – ‘brancos e ricos – a um território limitado e já conquistado.  A meta é vender produtos compatíveis com o poder aquisitivo dos novos consumidores.

Um das estratégias mais bem sucedidas, segundo a matéria de duas páginas de Vaguinaldo, foi da Tim. O grupo telefônico percebeu muito cedo que estava nas favelas do Rio um dos mais expressivos mercados da nova classe média com modelos e preços dimensionados para o público-alvo. O mais novo sintoma vem do Grupo Fleury, o importante laboratório de análises clínicas do Brasil, com sede em São Paulo, que redimensionou preços e abriu trinta unidades na capital para atender à nova classe média.

Pesquisas qualitativas mostram que o novo público valoriza grandes lições de vida, o trabalho e o esforço, e condena os que não lutam pela melhoria social. A vida, para muitos deles, toma a forma de uma fábula da vitória pessoal com dedicação. A Tim ambienta anúncios no Complexo do Alemão para vender celular com acesso à Internet por preços mais baixos. O mesmo acontece com planos de saúde corporativos, academias de ginástica e a Cacau, marca da Kopenhagen que atende à nova classe média.

O problema é a discrepância dos cálculos. A Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República considera a nova classe média aquela com renda média mensal de R$ 1.019.00. O Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas aponta uma renda familiar entre R$ 1.200,00 e R$ 5.174,00. Já área técnica do Ipea – o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o que houve no Brasil, argumenta Márcio Pochmann, foi apenas um aumento de renda da classe trabalhadora. E nada mais.

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