Vaguinaldo
Marinheiro, da Folha de S. Paulo, tem toda razão quando umedece com bom humor e
ironia e imagina que a nova classe média, aquela nascida das estatísticas
petistas, é a moça bonita que todos querem tirar para dançar. E completa: uma
moça que de 2003 a 2011 se multiplicou em quarenta milhões de pessoas, segundo
dados da sempre insuspeita Fundação Getúlio Vargas. E ainda acrescenta: o mesmo
que a população de 31 países europeus ou de toda a Argentina para citar um
exemplo vizinho.
A
coisa é tão séria que a nova classe média fez a antiga Classe ‘C’ representar
hoje um grande contingente responsável por 54% da população brasileira. Em
moeda eleitoral, se alguém prefere uma comparação mais popular, decide uma
disputa para presidente do Brasil. Este dado, aliás, mostra que o PT está certo
quando fez nascer uma nova classe média com o sentimento de conquista social e
gratidão nos seus integrantes não pelo grau de instrução ou politização, mas
pelo seu novo poder de compra.
Segundo
analisa Vaguinaldo, os efeitos já são claros no tecido social: a propaganda
começa a buscar novos nichos e é um dos mais sensíveis termômetros para se
medir sintomas de ascensão social.
Querem
saber? As novelas da Globo, tipo ‘Cheias de Charme’ e ‘Avenida Brasil’, apostam
nos núcleos da nova classe média e relegam o consumidor do tipo AAA – ‘brancos
e ricos – a um território limitado e já conquistado. A meta é vender produtos compatíveis com o
poder aquisitivo dos novos consumidores.
Um
das estratégias mais bem sucedidas, segundo a matéria de duas páginas de
Vaguinaldo, foi da Tim. O grupo telefônico percebeu muito cedo que estava nas
favelas do Rio um dos mais expressivos mercados da nova classe média com
modelos e preços dimensionados para o público-alvo. O mais novo sintoma vem do
Grupo Fleury, o importante laboratório de análises clínicas do Brasil, com sede
em São Paulo, que redimensionou preços e abriu trinta unidades na capital para
atender à nova classe média.
Pesquisas
qualitativas mostram que o novo público valoriza grandes lições de vida, o
trabalho e o esforço, e condena os que não lutam pela melhoria social. A vida,
para muitos deles, toma a forma de uma fábula da vitória pessoal com dedicação.
A Tim ambienta anúncios no Complexo do Alemão para vender celular com acesso à
Internet por preços mais baixos. O mesmo acontece com planos de saúde
corporativos, academias de ginástica e a Cacau, marca da Kopenhagen que atende
à nova classe média.
O
problema é a discrepância dos cálculos. A Secretaria de Assuntos Estratégicos
da Presidência da República considera a nova classe média aquela com renda
média mensal de R$ 1.019.00. O Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio
Vargas aponta uma renda familiar entre R$ 1.200,00 e R$ 5.174,00. Já área
técnica do Ipea – o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o que houve no
Brasil, argumenta Márcio Pochmann, foi apenas um aumento de renda da classe
trabalhadora. E nada mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário