Não será de herança material que nascerá uma nova
liderança nos próximos anos. E a constatação desta realidade estéril é tanto
maior quanto mais se constata a artificialidade desses partidos que não exercem
mais o papel de centros formadores de vocações para a vida pública. Destruíram
a grande escola
política que foi a vida estudantil e acadêmica, transformando os partidos em
agremiações particulares amestradas por seus donos, chão de uma aridez tamanha
que lá já não mais florescem as grandes idéias.
Quem olha o quadro da sucessão em Natal e afasta o
jogo de slogans, as logomarcas, as cores e as palavras de ordem, consegue notar
que em todos eles, ainda que em todos possa haver a boa fé, falta um lastro de
autenticidade. São arranjos nascidos de misturas estranhas que seriam
excludentes se submetidas a qualquer crivo ideológico. Tucanos ditos sociais e
democratas com liberais conservadores, trabalhistas com socialistas
improvisados, petistas reformadores de velho gosto malufista e comunistas de
araque.
A inautenticidade, aliada a um processo de
terceirização, acabaram por transformar a luta política em Natal num baile de
máscaras. Os rostos são iguais e os mesmos, diferenciados apenas pelas máscaras
que tornam suas fisionomias aparentemente diferentes. Ou alguém é ingênuo a
ponto de acreditar que qualquer dos eleitos terá uma oposição vigilante, se
todos, de alguma forma, estão próximos, separados por um primo, um irmão, um
tio, um correligionário, para não
falar dos mesmos interesses políticos?
Vivemos um tempo em que o exercício da política não
se trava em razão de programas partidários, muito menos ideológicos. A retórica
deixou de ser a arte nascida dos postulados aristotélicos, do exórdio à
peroração, para ser mero jogo de palavras, de gracejos no lugar de idéias ou de
argumentos substituindo desaforos. A boca, como dizia o velho saber dos
antigos, virou simples aparelho fonador movido pelo sopro de ventríloquos
repetindo palavras ditadas por uma voz invisível que vem do outro lado da
cortina.
E o jornalismo é o melhor e mais autêntico registro
dessa realidade quando ouve os marqueteiros e não os candidatos. São eles, e
somente eles, os bruxos das falas, dos gestos e das cores, que sabem de que
matéria será feita a disputa. O bom candidato não é aquele que tem boas idéias,
mas aquele que melhor souber decorá-las e transmiti-las, fazê-las saltar com a
naturalidade possível. Do novo líder não se exige nem mesmo que lidere. Basta
sorrir, apertar a mão de cada um com simpatia, e acenar como um vitorioso.
Estamos num mundo pasteurizado onde todos são
iguais, nascidos do mesmo fermento, untados no mesmo azeite. Agora tanto faz
que um ou outro seja o eleito. Ninguém precisa ser diferente. Pra que? Todos
vão recomeçar tudo de novo. O mundo será sempre o mesmo, mas não custa nada
reinaugurá-lo mais uma vez para ser como se fosse uma invenção do eleito. Ao
povo, que por esses dias terá bandeiras coloridas pandas ao vento, resta o
destino de entoar os hinos e seguir o cortejo. Sem saber para onde vai.
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