Carlos
Nelson impactou o conjunto da esquerda em seu célebre artigo publicado em 1979
na Revista Civilização Brasileira
Morreu
nesta quinta-feira o filósofo marxista e professor da Universidade Federal do
Rio de Janeiro Carlos Nelson Coutinho. Uma das principais referências em
Gramsci no Brasil, Carlos Nelson impactou o conjunto da esquerda em seu célebre
artigo publicado em 1979 na Revista Civilização Brasileira: A democracia como
valor universal. O escritor era filiado ao PSOL desde sua fundação. Segundo comunicado
da direção da Escola de Serviço Social da UFRJ, o velório foi realizado no
Atrium do Fórum de Ciência e Cultura.
Entre
as muitas mensagens de despedida do pensador marxista, a Editora Boitempo fez
publicar, em sua página, a mensagem: “Morreu o grande intelectual marxista
Carlos Nelson Coutinho, depois de meses combatendo um câncer dos mais
violentos. Carlito, como era chamado pelos amigos, descobriu a doença em
fevereiro deste ano, quando nos comentou por e-mail: “Ainda estou perplexo, mas
disposto a brigar. Também sobre isso, tenho tentado me valer do mote de
Gramsci: pessimismo da inteligência, otimismo da vontade. Torçam por mim”. Foi
o que fizemos esses meses todos.
No
próximo sábado, 22 de setembro de 2012, a Boitempo prestará uma homenagem a ele
no encerramento do III Curso Livre Marx-Engels, após a aula proferida por
Michael Löwy (entrada liberada para quem não acompanhou o Curso até agora, a aula e a homenagem serão transmitidas ao
vivo pelo Ustream). Até um mês atrás, Carlito, com a coragem dos grandes, ainda
cogitava estar presente para receber a homenagem. Fará uma falta enorme.
Presente!
A
direção da Escola de Serviço Social (ESS) da UFRJ, também em sua página
eletrônica, deixou nota de pesar pelo falecimento do Professor Emérito Carlos
Nelson Coutinho:
-
É com profunda tristeza que comunicamos o falecimento na manhã de hoje do nosso
querido professor emérito Carlos Nelson Coutinho, reconhecido dentro e fora do
país como um dos mais influentes pensadores brasileiros do final do século XX e
princípio do XXI. Sua atitude de vanguarda, ao introduzir, na cultura
brasileira, o pensamento de dois clássicos do debate teórico filosófico europeu
do século XX, G. Lukács e A. Gramsci, e a elaboração de uma obra, que tem o
selo claro de uma intervenção política na defesa do socialismo e na renovação
do marxismo, o revelam como um dos melhores produtos do que ele mesmo denominou
a “década longa dos anos 60”, conjuntura que, aberta em 1956, no XX Congresso
do PC da URSS e terminada em meado dos anos 70, favoreceu em meio às agitações de estudantes e
trabalhadores em 1968, o terceiro-mundismo, o eurocomunismo, a Primavera de
Praga os melhores anos de florescimento
do marxismo.
-
Docentes, técnico-administrativos e alunos da ESS da UFRJ tiveram a honra e a
sorte de conviver com o brilhantismo, a generosidade e o bom humor de Carlos
Nelson. Em nossa Unidade de Ensino, desde o ano de 1986, nosso querido Carlito
se constituiu como uma das principais lideranças teórico-acadêmicas no processo
de renovação do nosso Programa de Pós-Graduação em Serviço Social a refundação
do Projeto de Mestrado em fins da década de 1980 e a criação do Curso de
Doutorado em 1994 o que sagrou a ESS da UFRJ, na esteira da renovação da
profissão no Brasil, um dos pilares dos avanços profissionais e acadêmicos da
área no país.
-
Em reconhecimento à contribuição desse grande intelectual e amigo que
possibilitou a nossa Escola alçar-se a condição de agência nacional e
internacional de formação de docentes e pesquisadores da área, o Conselho
Diretor da ESS da UFRJ decreta a partir de hoje três dias de luto. Estarão,
portanto, suspensas todas as atividades acadêmicas entre 20 e 23 de setembro do
corrente, permanecendo a Unidade fechada neste período.
“Conselho
Diretor da ESS da UFRJ, em 20/09/12″
Carlos
Nelson Coutinho, um dos intelectuais marxistas mais respeitados do Brasil,
recebeu nasceu na Bahia, em uma cidade do interior chamada Itabuna, mas foi
para Salvador ainda pequeno, “com uns 3 ou 4 anos”, lembrou o intelectual, em
uma entrevista ao jornalista Hamilton Octávio de Souza, editor da revista Caros
Amigos. Coutinho se formou em Salvador, “e as opções que eu fiz, fiz em
Salvador”, assinala.
–
Eu nasci em 1943, glorioso ano da batalha de Stalingrado. Me formei em
filosofia na Universidade Federal da Bahia, um péssimo curso, e com meus 18 ou
19 anos sabia mais do que a maioria dos professores. Meus pais eram baianos
também. Meu pai era advogado e foi deputado estadual durante três legislaturas
da UDN. Publicamente ele não era de esquerda, mas dentro de casa ele tinha uma
posição mais aberta. Eu me tomei comunista lendo o Manifesto Comunista que o
meu pai tinha na biblioteca. Ele era um homem culto, tinha livros de poesia.
Minha irmã, que é mais velha, disse que eu precisava ler o Manifesto Comunista.
Foi um deslumbramento. Eu devia ter uns 13 ou 14 anos. Aí fiz faculdade de
Direito por dois anos porque era a faculdade onde se fazia política, e eu
estava interessado em fazer política. Me dei conta que uma maneira boa de fazer
política era me tomando intelectual. Aos 17 anos entrei no Partido Comunista
Brasileiro, que naquela época tinha presença. O primeiro ano da faculdade foi
até interessante porque tinha teoria geral do Estado, economia política, mas
quando entrou o negócio de direito penal, direito civil, ai eu vi que não era a
minha e fui fazer filosofia – concluiu o professor.
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