quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Serejo: Exupéry revisitado

 Por: Vicente Serejo

Nem pensava Senhor Redator, pelo menos por esses dias, soprar a brasa de antigas fogueiras que um dia acendi com as minhas desconfianças em torno da convivência do escritor Saint-Exupéry em Natal. Desejei, com um ardor de repórter, ter sido o anotador dessa notícia quando, a convite de Eudes Galvão, presidente da então recém-criada Emproturn, trouxe a Natal Paul Vachet para homenageá-lo com aquela placa no aeroporto Augusto Severo, o pioneiro na escolha daquele mundo para ser um campo de pouso.

Tudo retornou como se renascesse ao fazer a leitura do que escrevi naqueles dias quando publiquei alguns depoimentos diante da notícia de que a Prefeitura pretendia, no Canto do Mangue, ao inaugurar a nova praça, tão sem graça, erguer um monumento a Saint-Exupéry. Como se por ali tivesse andado o ‘Zé Perrí’- era assim que um pescador da praia de Campeche, em Santa Catarina, chamava o escritor e piloto da Latécoére, mãe da Air France, a maior companhia aérea dos franceses e hoje das maiores do mundo.

Todos os textos, meus e dos outros, estão criteriosamente reunidos no livro que o professor Carlos Gomes acabou de lançar – OVelho Imigrante – a justíssima homenagem a Rocco Rosso, o italiano que um dia veio morar em Natal, vila plantada no beiço desse rio e tão vizinha dos morros. Ora, Senhor Redator, tenho sempre comigo que a gente é do lugar onde nasce, e também do lugar que escolheu para viver. Se o velho Rocco aqui viveu quase a sua vida toda é um dos nossos, tão natalense quanto os que nascem aqui.

Essa conversa toda é para dizer que depois daqueles dias febris percorridos em fevereiro de 2008 prometi, mesmo diante da minha pobreza, bater Seca e Meca a procura do Álbum que a Pléiade dedicou a Saint-Exupéry, edição Gallimard, casa editora responsável pela mais célebre, consagradora e cara coleção literária para a glória dos grandes intelectuais franceses. Tão cara que nas livrarias de Paris seus livros são expostos em estantes de vidro, fechadas a chave, abertas sob a vista de um dos vendedores autorizados.

E o desafio tem um detalhe: os álbuns da Pléiade são ricamente editados, em couro pleno, pele nobre e sem mácula, todos na cor vinho ou vermelho Bordeaux, papel de arroz, finíssimo e superior, reunindo as mais completas fotobiografias que o mundo conhece. Com dois detalhes: não são postas à venda, pois são brindes especiais dos lançamentos das obras completas, mas só de alguns grandes autores franceses, e saem todos com o mesmo e requintado aviso que jamais serão reeditados uma segunda vez.

Portanto, para tê-los sem adquirir os caríssimos volumes Pléiade, é preciso esperar que um dia eles sejam vendidos, à parte, em livrarias antiquárias, principalmente de Paris. E foi onde adquiri há um ano. Com o tempo, os compradores se desinteressam e vendem. Hoje é mais fácil vê-los nas estantes à venda ou nos sites de livrarias parisienses que atendem para qualquer lugar do mundo. Aqui, por mania, sem erudição nenhuma, há os álbuns de Gérard de Nerval, Montaigne, Baudelaire, Oscar Wilde e Exupéry.

 O álbum de Exupéry foi lançado em 1994 como brinde da edição de suas obras completas pela Pléiade, em três volumes. Em couro pleno, como foi dito, sobrecapa de acetato transparente, em fibra de carbono para proteger contra a umidade, e caixa-estojo de papelão. Numa face, a imagem do seu pequeno avião Laté sobrevoando o deserto. Na outra, uma pequena fotografia sua. Tem 332 páginas, incluídos os índices, contando a história da sua vida com imagens reais e autênticas em todos os lugares do mundo.

Para reunir e organizar textos e imagens autênticas e originais do grande acervo iconográfico de Exupéry, a Pléiade pediu o assessoramento e consultoria de Frédéric D’Gay, seu sobrinho neto que esteve em Natal, numa pesquisa criteriosa que contou com a presença cuidadosa de Jean-Daniel Pariset. Não existe até hoje, Senhor Redator, nada mais completo. E nas suas páginas, creia, não há uma só imagem ou informação de Exupéry em Natal. Fecho, assim, mais esse capítulo que, certamente, não será o último.

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