Nem
pensava Senhor Redator, pelo menos por esses dias, soprar a brasa de antigas
fogueiras que um dia acendi com as minhas desconfianças em torno da convivência
do escritor Saint-Exupéry em Natal. Desejei, com um ardor de repórter, ter sido
o anotador dessa notícia quando, a convite de Eudes Galvão, presidente da então
recém-criada Emproturn, trouxe a Natal Paul Vachet para homenageá-lo com aquela
placa no aeroporto Augusto Severo, o pioneiro na escolha daquele mundo para ser
um campo de pouso.
Tudo
retornou como se renascesse ao fazer a leitura do que escrevi naqueles dias
quando publiquei alguns depoimentos diante da notícia de que a Prefeitura
pretendia, no Canto do Mangue, ao inaugurar a nova praça, tão sem graça, erguer
um monumento a Saint-Exupéry. Como se por ali tivesse andado o ‘Zé Perrí’- era
assim que um pescador da praia de Campeche, em Santa Catarina, chamava o
escritor e piloto da Latécoére, mãe da Air France, a maior companhia aérea dos
franceses e hoje das maiores do mundo.
Todos
os textos, meus e dos outros, estão criteriosamente reunidos no livro que o
professor Carlos Gomes acabou de lançar – OVelho Imigrante – a justíssima
homenagem a Rocco Rosso, o italiano que um dia veio morar em Natal, vila
plantada no beiço desse rio e tão vizinha dos morros. Ora, Senhor Redator,
tenho sempre comigo que a gente é do lugar onde nasce, e também do lugar que
escolheu para viver. Se o velho Rocco aqui viveu quase a sua vida toda é um dos
nossos, tão natalense quanto os que nascem aqui.
Essa
conversa toda é para dizer que depois daqueles dias febris percorridos em
fevereiro de 2008 prometi, mesmo diante da minha pobreza, bater Seca e Meca a
procura do Álbum que a Pléiade dedicou a Saint-Exupéry, edição Gallimard, casa
editora responsável pela mais célebre, consagradora e cara coleção literária
para a glória dos grandes intelectuais franceses. Tão cara que nas livrarias de
Paris seus livros são expostos em estantes de vidro, fechadas a chave, abertas
sob a vista de um dos vendedores autorizados.
E
o desafio tem um detalhe: os álbuns da Pléiade são ricamente editados, em couro
pleno, pele nobre e sem mácula, todos na cor vinho ou vermelho Bordeaux, papel
de arroz, finíssimo e superior, reunindo as mais completas fotobiografias que o
mundo conhece. Com dois detalhes: não são postas à venda, pois são brindes
especiais dos lançamentos das obras completas, mas só de alguns grandes autores
franceses, e saem todos com o mesmo e requintado aviso que jamais serão
reeditados uma segunda vez.
Portanto,
para tê-los sem adquirir os caríssimos volumes Pléiade, é preciso esperar que
um dia eles sejam vendidos, à parte, em livrarias antiquárias, principalmente
de Paris. E foi onde adquiri há um ano. Com o tempo, os compradores se
desinteressam e vendem. Hoje é mais fácil vê-los nas estantes à venda ou nos
sites de livrarias parisienses que atendem para qualquer lugar do mundo. Aqui,
por mania, sem erudição nenhuma, há os álbuns de Gérard de Nerval, Montaigne,
Baudelaire, Oscar Wilde e Exupéry.
O álbum de Exupéry foi lançado em 1994 como brinde da edição de suas obras
completas pela Pléiade, em três volumes. Em couro pleno, como foi dito,
sobrecapa de acetato transparente, em fibra de carbono para proteger contra a
umidade, e caixa-estojo de papelão. Numa face, a imagem do seu pequeno avião
Laté sobrevoando o deserto. Na outra, uma pequena fotografia sua. Tem 332
páginas, incluídos os índices, contando a história da sua vida com imagens
reais e autênticas em todos os lugares do mundo.
Para
reunir e organizar textos e imagens autênticas e originais do grande acervo
iconográfico de Exupéry, a Pléiade pediu o assessoramento e consultoria de
Frédéric D’Gay, seu sobrinho neto que esteve em Natal, numa pesquisa criteriosa
que contou com a presença cuidadosa de Jean-Daniel Pariset. Não existe até
hoje, Senhor Redator, nada mais completo. E nas suas páginas, creia, não há uma
só imagem ou informação de Exupéry em Natal. Fecho, assim, mais esse capítulo que,
certamente, não será o último.
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